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Crescimento

Europa frágil, América mais forte

Mina de cobre em Chuquicamata, no Chile: crescimento econômico da América Latina deve passar de 6% neste ano, segundo análise do Banco Santander | Ivan Alvarado/Reuters
Mina de cobre em Chuquicamata, no Chile: crescimento econômico da América Latina deve passar de 6% neste ano, segundo análise do Banco Santander (Foto: Ivan Alvarado/Reuters)

De um lugar que mistura arquitetura futurista com telhados co­­bertos por plantas aromáticas, cercado por oliveiras milenares, o economista espanhol José Juan Ruiz arrisca previsões otimistas para a economia global nos próximos dez anos. Ele fala como diretor de análise e estratégia da divisão América do Banco Santander, e faz suas estimativas dois anos depois da crise financeira de 2008, mas ainda no meio do tornado em que giram países da União Euro­peia como França, Itá­­lia e Grécia, acossados por endividamento, cortes em benefícios sociais e protestos de trabalhadores. O cenário de onde afirma que "o mundo será melhor por que está crescendo a taxas de 4% ao ano" é a cidade financeira construída pelo banco na região me­­tropolitana de Madri. A área de 70 hectares – que abriga 6,5 mil funcionários, museu de arte contemporânea, teatro para mil pessoas e duas grandes estruturas de informática para gerenciar full time as operações mundiais – usa de força cênica para mostrar o peso de uma das maiores instituições financeiras da Europa, com forte presença no Brasil desde a compra do banco Real, há três anos.

José Juan Ruiz fala confiante sobre recuperação global, apresentando alguns dados de leitura fácil: 132 dos 150 maiores países devem crescer em 2010, a uma ta­­xa média de 3,3%. O destaque vai para os emergentes, cuja ri­­queza se expandirá à razão de 5,9%. Dos 18 que não vão crescer, 9 são europeus, 5 ficam no Caribe, 2 são latino-americanos, 1 é africano e outro, asiático.

A fragilidade europeia que a lista demonstra não deve preocupar, diz ele. Já nos últimos cinco anos o mundo vem se acostumando a não depender do crescimento dos países europeus, que tentam se livrar de déficits fiscais gigantescos e retomar a trilha do crescimento. Entre 2005 e 2010, China, Estados Unidos, Índia e Bra­­sil responderam por 85% do crescimento mundial. E, só para dar um exemplo, as vendas chinesas para a União Europeia não pesam mais do que 0,50% no PIB. "Somos um erro estatístico para a China", arremata.

Ruiz pontua as lições trazidas pela crise financeira mundial iniciada em 2008 e pela crise fiscal que ainda agora abala a Europa: a recuperação exige empenho e perseverança na reestruturação do modelo financeiro internacional, com maior supervisão das instituições; e o equacionamento pelos governos das desordens de ordem fiscal, com redução do dé­­ficit público e do endividamento – compromissos já assumidos pela União Europeia e pelo G-20, na semana passada, no Canadá.

Para a América Latina, as previsões do banco são de recuperação em V (gráfico que mostra curva acentuada para cima), com cres­­cimento real do PIB de 6,1% (estimativa do primeiro trimestre do ano), aumento na demanda interna, no consumo e nas taxas de investimento. Brasil e Chile apresentam a melhor reação ao pós-crise. A inflação se acelera, principalmente no mercado brasileiro, mas não põe em risco a estabilidade dos preços. Além disso, a região adotou políticas anticíclicas e as instituições financeiras preservam sua credibilidade. O modelo de crescimento da re­­gião continua gerando empregos e é sustentável do ponto de vista fiscal. Tais avanços foram especialmente facilitados pela consolidação de governos democráticos e pelo crescimento da classe média.

Reforma

O crescimento da riqueza per capita e dos índices de bancarização fazem do Brasil e demais países latino-americanos uma das principais apostas do San­tander para os próximos anos. A estratégia do banco para a região é reduzir custos sem fechar unidades, e ganhar participação de mercado.

O diretor financeiro José An­­to­­nio Álvarez confirma a abertura de mais 600 agências no país até 2013, que vão se somar às 3.587 mantidas hoje sob as bandeiras Santander e Real. Na Espa­nha, o banco encolheu em nú­­me­­ro de endereços no ano passado, com o fechamento de 1,5 mil escritórios.

O movimento obedeceu à estratégia desenhada para a instituição e que, segundo sua economista-chefe, Alejandra Kinde­lán, precede a crise. Mais do que isso, práticas como a de manter um grupo permanente que se reúne toda semana para discutir riscos teriam preservado o San­tander do turbilhão financeiro de 2008. O receituário inclui trabalhar com uma estrutura descentralizada, em que as filiais têm autonomia de gestão e na qual fica limitado o contágio dos vários negócios, em caso de crise.

"O banco está forte", diz a diretora, ao apresentar a posição do Santander sobre a reforma regulatória que o mundo esboça, para não repetir, en­­tre outros, o caso Lehman Bro­­ther (banco norte-americano cuja bancarrota cristalizou a crise financeira em 2008).

Na lista das "dez chaves do êxito", em que a instituição apresenta sua visão, destacam-se a regulação dos bancos, com foco em capital de maior qualidade e liquidez dos sistema a curto e longo prazo, sem prejuízo da oferta de crédito para o mercado. Outro entendimento é de que as grandes entidades não são necessariamente perigosas – apenas precisam de medição constante do risco sistêmico que representam. "A chave está na supervisão e tamanho não é problema", acentua.

A jornalista viajou a convite do Banco Santander Brasil.

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