Mina de cobre em Chuquicamata, no Chile: crescimento econômico da América Latina deve passar de 6% neste ano, segundo análise do Banco Santander| Foto: Ivan Alvarado/Reuters

Evento

Um debate sobre a recuperação

O banco Santander promove segunda e terça um amplo debate sobre a recuperação econômica da América Latina, na Universidade Internacional Menéndez Pelayo, na cidade espanhola de Santander. O encontro "América Latina 2010-2020: a década recuperada" reunirá autoridades monetárias, representantes de governos, organismos multilaterais, empresários e formadores de opinião da região para analisar as diferentes soluções adotadas pelo subcontinente para superar as dificuldades trazidas pela crise global. As estimativas projetam um crescimento regional bem superior ao das economias desenvolvidas. Esta é a nova edição dos Encontros Santander sobre a América Latina. A visita à cidade financeira fez parte da programação para jornalistas latino-americanos.

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As dez chaves do êxito

A visão do banco Santander sobre a reforma regulatória do sistema financeiro internacional reúne dez pontos. É o receituário para se evitar outra crise como a que teve início em 2008 e afetou mercados do mundo todo:

1 De volta ao básico: os bancos comerciais devem estar focalizados no cliente e gerir o risco com prudência

2 Regulação: mais e melhor; capital de maior qualidade e liquidez do sistema assegurada a curto e longo prazo, sem prejuízo do crédito

3 Melhor supervisão: mais rigorosa e estrita

4 Regular o "shadow banking": não pode haver no mercado instituições operando "na sombra", sem supervisão

5 Tamanho não é problema: medição permanente do risco sistêmico; as grandes instituições não são necessariamente perigosas

6 Todas as entidades devem poder cair: ou seja, bancos são empresas como outra qualquer e não devem ser tutelados de forma a se estimular a incompetência (caso Lehman Brothers, por exemplo)

7 Estruturas adequadas ao modelo de negócio: filiais autônomas em capital e liquidez

8 Impostos não são a solução: bancos saudáveis não devem "pagar pelos pecadores"

9 Reforçar o governo corporativo: mais transparência, independência e apresentação de contas

10 Medir e valorizar: o impacto da reforma regulatória no conjunto

De um lugar que mistura arquitetura futurista com telhados co­­bertos por plantas aromáticas, cercado por oliveiras milenares, o economista espanhol José Juan Ruiz arrisca previsões otimistas para a economia global nos próximos dez anos. Ele fala como diretor de análise e estratégia da divisão América do Banco Santander, e faz suas estimativas dois anos depois da crise financeira de 2008, mas ainda no meio do tornado em que giram países da União Euro­peia como França, Itá­­lia e Grécia, acossados por endividamento, cortes em benefícios sociais e protestos de trabalhadores. O cenário de onde afirma que "o mundo será melhor por que está crescendo a taxas de 4% ao ano" é a cidade financeira construída pelo banco na região me­­tropolitana de Madri. A área de 70 hectares – que abriga 6,5 mil funcionários, museu de arte contemporânea, teatro para mil pessoas e duas grandes estruturas de informática para gerenciar full time as operações mundiais – usa de força cênica para mostrar o peso de uma das maiores instituições financeiras da Europa, com forte presença no Brasil desde a compra do banco Real, há três anos.

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José Juan Ruiz fala confiante sobre recuperação global, apresentando alguns dados de leitura fácil: 132 dos 150 maiores países devem crescer em 2010, a uma ta­­xa média de 3,3%. O destaque vai para os emergentes, cuja ri­­queza se expandirá à razão de 5,9%. Dos 18 que não vão crescer, 9 são europeus, 5 ficam no Caribe, 2 são latino-americanos, 1 é africano e outro, asiático.

A fragilidade europeia que a lista demonstra não deve preocupar, diz ele. Já nos últimos cinco anos o mundo vem se acostumando a não depender do crescimento dos países europeus, que tentam se livrar de déficits fiscais gigantescos e retomar a trilha do crescimento. Entre 2005 e 2010, China, Estados Unidos, Índia e Bra­­sil responderam por 85% do crescimento mundial. E, só para dar um exemplo, as vendas chinesas para a União Europeia não pesam mais do que 0,50% no PIB. "Somos um erro estatístico para a China", arremata.

Ruiz pontua as lições trazidas pela crise financeira mundial iniciada em 2008 e pela crise fiscal que ainda agora abala a Europa: a recuperação exige empenho e perseverança na reestruturação do modelo financeiro internacional, com maior supervisão das instituições; e o equacionamento pelos governos das desordens de ordem fiscal, com redução do dé­­ficit público e do endividamento – compromissos já assumidos pela União Europeia e pelo G-20, na semana passada, no Canadá.

Para a América Latina, as previsões do banco são de recuperação em V (gráfico que mostra curva acentuada para cima), com cres­­cimento real do PIB de 6,1% (estimativa do primeiro trimestre do ano), aumento na demanda interna, no consumo e nas taxas de investimento. Brasil e Chile apresentam a melhor reação ao pós-crise. A inflação se acelera, principalmente no mercado brasileiro, mas não põe em risco a estabilidade dos preços. Além disso, a região adotou políticas anticíclicas e as instituições financeiras preservam sua credibilidade. O modelo de crescimento da re­­gião continua gerando empregos e é sustentável do ponto de vista fiscal. Tais avanços foram especialmente facilitados pela consolidação de governos democráticos e pelo crescimento da classe média.

Reforma

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O crescimento da riqueza per capita e dos índices de bancarização fazem do Brasil e demais países latino-americanos uma das principais apostas do San­tander para os próximos anos. A estratégia do banco para a região é reduzir custos sem fechar unidades, e ganhar participação de mercado.

O diretor financeiro José An­­to­­nio Álvarez confirma a abertura de mais 600 agências no país até 2013, que vão se somar às 3.587 mantidas hoje sob as bandeiras Santander e Real. Na Espa­nha, o banco encolheu em nú­­me­­ro de endereços no ano passado, com o fechamento de 1,5 mil escritórios.

O movimento obedeceu à estratégia desenhada para a instituição e que, segundo sua economista-chefe, Alejandra Kinde­lán, precede a crise. Mais do que isso, práticas como a de manter um grupo permanente que se reúne toda semana para discutir riscos teriam preservado o San­tander do turbilhão financeiro de 2008. O receituário inclui trabalhar com uma estrutura descentralizada, em que as filiais têm autonomia de gestão e na qual fica limitado o contágio dos vários negócios, em caso de crise.

"O banco está forte", diz a diretora, ao apresentar a posição do Santander sobre a reforma regulatória que o mundo esboça, para não repetir, en­­tre outros, o caso Lehman Bro­­ther (banco norte-americano cuja bancarrota cristalizou a crise financeira em 2008).

Na lista das "dez chaves do êxito", em que a instituição apresenta sua visão, destacam-se a regulação dos bancos, com foco em capital de maior qualidade e liquidez dos sistema a curto e longo prazo, sem prejuízo da oferta de crédito para o mercado. Outro entendimento é de que as grandes entidades não são necessariamente perigosas – apenas precisam de medição constante do risco sistêmico que representam. "A chave está na supervisão e tamanho não é problema", acentua.

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A jornalista viajou a convite do Banco Santander Brasil.