Líderes europeus se preparam para foto oficial de encontro em Berlim: à procura de uma saída para a crise internacional.| Foto: Wolfgang Kumm/Reuters

Merkel quer "nova ordem financeira"

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que as propostas elaboradas em Berlim pelos principais países da União Europeia (UE) têm como fim "recuperar a confiança dos mercados" e a criação de "uma nova ordem financeira internacional". "Londres deve ser um sucesso", disse Merkel, referindo-se à reunião do G-20 a ser realizada na capital britânica no início de abril.

A crise econômica que teve início em 2007, com o colapso do mercado de hipotecas "subprime" (de maior risco) nos Estados Unidos, jogou o Velho Continente em recessão. A Zona do Euro caiu 1,5% no quarto trimestre, acentuando a recessão em que o grupo de 15 países que utiliza a moeda comum já se encontrava. Os 27 Estados que compõem a União Europeia (UE) também entraram em recessão, após a queda de 1,5% do Produto Interno Bruto no trimestre passado.

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Líderes políticos de seis países da União Europeia, reunidos ontem em Berlim, chegaram a um acordo sobre as linhas gerais da proposta de reforma do sistema financeiro internacional que levarão à cúpula do G-20 financeiro, em Londres, em 2 de abril. Entre os consensos, os chefes de Estado e de governo defendem que os recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) sejam elevados em US$ 500 bilhões para enfrentar a crise. Os europeus concordam ainda que o aumento da supervisão deve envolver todos os mercados – inclusive os paraísos fiscais –, produtos financeiros e agentes, como hedge funds e agências de notação.

A reunião foi um dos eventos preparatórios organizados pelos seis europeus que participarão do G-20 – Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha e Holanda. Além dos chefes de Estado e de governo destes países, como Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e Gordon Brown, assistiram a reunião o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker.

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O acordo de princípios – que resultou em um documento informal, a ser submetido aos demais parceiros da UE – foi anunciado ontem. "Os recursos do FMI devem ser dobrados para lhe permitir ajudar rapidamente e de forma flexível seus membros em dificuldades", disse o resumo dos trabalhos, divulgados ao final do evento. O texto se refere a "ao menos US$ 500 bilhões" suplementares. Antes do apelo dos europeus, o Japão havia se disposto a investir US$ 100 bilhões no fundo.

O pedido europeu pelo reforço do caixa do FMI, integrado por 185 países, veio após os reiterados alertas de que seus recursos da instituição podem acabar em caso de uma crise prolongada. A preocupação é grande na UE porque a fragilidade econômica cresce na Europa Central e Oriental.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro da Letônia, Ivars Godmanis, renunciou em decorrência da pior recessão da UE. Três países da região, Ucrânia, Hungria e Letônia, já recorreram a empréstimos do FMI. Os governos da Romênia e da Sérvia mantêm conversas informais com o órgão, enquanto a Hungria defende a criação de um fundo mundial de US$ 100 bilhões para socorro aos bancos.

Áustria e Polônia também enfrentam dificuldades, a primeira pela exposição a ativos "tóxicos" de seu sistema financeiro e a segunda pela desvalorização de sua moeda, o zloty, que perdeu 50% em relação ao euro em três meses.

Efeito colateral

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Um dos problemas vividos pelo Leste Europeu são os programas de apoio aos bancos no Reino Unido, na Alemanha e na França. Entre as cláusulas das nacionalizações e dos empréstimos feitos nesses países, estão a reabertura de linhas de crédito para financiamento das suas próprias economias. Para tanto, as instituições estão repatriando recursos, e fechando os cofres para os mercados emergentes do leste.

Além dos ex-comunistas, na sexta-feira o ministro das Finanças da Alemanha, Peer Steinbrück, reconheceu que o eventual aprofundamento da crise em países como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha poderia obrigar as maiores economias a interceder para garantir a estabilidade da moeda única. "Os tratados da Zona do Euro não preveem nenhuma ajuda em favor de países que se tornem insolventes, mas na realidade os outros países-membros seriam obrigados a socorrer os que se encontrem em dificuldade", afirmou.