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União Europeia

Europeus seguem estratégia já testada – e reprovada

Bolsa de Frankfurt: modelo alemão, conhecido como “Vale do Reno”, é apontado por alguns analistas como uma das saídas para a Europa | Alex Grimm/Reuters
Bolsa de Frankfurt: modelo alemão, conhecido como “Vale do Reno”, é apontado por alguns analistas como uma das saídas para a Europa (Foto: Alex Grimm/Reuters)

Com boa parte da Europa mergulhada em dívidas e enfraquecida por planos de austeridade, era de se esperar que os líderes da União Europeia revissem modelos econômicos e buscassem maneiras de promover o crescimento em meio a uma concorrência global mais acirrada. Mas, pelo que se observa, caso existam ideias novas, elas estão sendo mantidas em sigilo. Na recém-divulgada estratégia de desenvolvimento do bloco, os políticos de Bruxelas oferecem mais do mesmo – ainda que o conjunto de objetivos anterior, que visava tornar a Europa a região mais dinâmica do mundo até 2010, não tenha sido cumprido.

Durante a última década, a Comissão Europeia, divisão executiva da UE, demonstrou preferência pelo modelo anglo-saxão de mercados pouco regulados em detrimento dos impulsos mais estatizantes de países como França, Itália e, em menor grau, Alemanha. Isso não mudou muito, mesmo após dois anos de turbulência econômico-financeira que expôs os defeitos da opção. A Grã-Bretanha e a Irlanda, símbolos da ortodoxia do mercado livre, prosperaram durante certo tempo, mas os dois países foram derrubados pela explosão das bolhas imobiliária e de crédito e se viram obrigados a estatizar bancos quebrados.

Por outro lado, o modelo continental clássico – com seus sistemas grandes e caros de seguridade social, mercados de trabalho mais regulamentados e governos me­­nos tímidos na hora de intervir para manter indústrias respirando – está longe de ter passado ileso pela crise. Exemplos claros são Grécia, Portugal e Itália, cujas montanhas de débitos ameaçam a zona do euro como um todo. "Muita gente ficaria feliz se dançássemos sobre o túmulo do modelo anglo-saxão. Mas não é simples assim", diz um embaixador da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que falou sob a condição de anonimato.

França e Itália enfrentaram uma recessão mais amena do que outros países da UE, mas também tiveram o crescimento prejudicado durante os anos de bonança econômica. Isso torna difícil o atual ajuste orçamentário bem como a preparação para futuros desafios, como manter viáveis seus sistemas de previdência. A recente briga dos franceses sobre pequenas alterações nas regras de aposentadoria sugere que novos avanços nessa área serão dolorosos. Além disso, com os investidores internacionais cada vez menos dispostos a financiar buracos nas contas públicas, restarão poucas opções para esses governos.

"Vale do Reno"

Alguns enxergam uma saída no modelo do "Vale do Reno", ou seja, no exemplo de capitalismo social mais direcionado da Alemanha, que prioriza o consenso ao invés do enfrentamento, e cujo Estado adota, sempre que necessário, um papel coadjuvante no desenvolvimento. Os anos de produtividade em alta, mudanças nas relações trabalhistas e contenção salarial estão se provando úteis, com a Alemanha assumindo a posição de economia mais sólida da região.

"O modelo inglês era mais atraente do que o alemão, e muitas orientações anglo-saxônicas foram introduzidas na Europa continental. Agora, começou-se a repensar a escolha", disse, em uma entrevista recente, o ex-primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende. De forma mais ampla, segundo ele, se quiser ser competitiva, a Europa deve persistir em suas crenças fundamentais na livre circulação de trabalhadores e produtos ao mesmo tempo em que "revê conceitos de bem-estar social".

Tradução: João Paulo Pimentel

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