A Eurozona deve dar nesta sexta-feira a luz verde para a concessão de um pacote de ajuda vital à Grécia, no início de uma maratona de vários dias sob a enorme pressão de encontrar uma solução para salvar a união monetária e evitar um contágio da crise para a economia mundial.
"É o mínimo que podemos esperar", disse uma fonte europeia sobre a reunião de ministros da Economia dos 17 países da Eurozona, que começa nesta sexta-feira e dará o ponta-pé inicial para vários dias de cúpulas destinadas a definir um acordo que ponha fim à crise e consiga acalmar os mercados.
As atenções estão voltadas para França e Alemanha, que deverão nas próximas horas aproximar suas posições sobre como otimizar o fundo de resgate, que se tornou a principal arma que os europeus querem usar para salvar as grandes economias ameaçadas, como Espanha e Itália, e recapitalizar os bancos.
"Os franceses não dão nem um passo" nas negociações para resolver a crise da dívida na Eurozona, lamentou a chanceler alemã, Angela Merkel, em uma reunião, segundo o jornal Bild.
Preocupado com a falta de acordos, o presidente americano, Barack Obama, participou na quinta-feira à noite de uma videoconferência com seu homólogo francês Nicolas Sarkozy, com Angela Merkel e com o primeiro-ministro britânico, David Cameron.
Os desacordos entre França e Alemanha sobre o papel do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) vieram à tona depois da convocação de uma nova cúpula da Eurozona na quarta-feira, ante a evidência de que as divergências no eixo franco-alemão não serão resolvidas antes da primeira reunião prevista para domingo.
Após o aval que recebeu dos 17 países da Eurozona, o FEEF dispõe de uma capacidade de empréstimo de 440 bilhões de euros. Mas ante o agravamento da crise e os sinais cada vez mais fortes de uma moratória da Grécia, o fundo é insuficiente caso tenha que recapitalizar os bancos europeus em dificuldades e socorrer grandes economias cada vez mais ameaçadas, como Itália e Espanha.
A ideia seria "multiplicar" sua capacidade até entre 1 bilhão e dois bilhões de euros. A França pretende conceder ao fundo uma espécie de licença bancária, com a qual poderá obter crédito do Banco Central Europeu (BCE). Mas a Alemanha se opõe a essa medida por considerar que ela impede a regulação das instituições bancárias europeias.
Berlim prioriza uma segunda opção: que o FEEF dê garantias aos detentores de dívida, encarregando-se de entre 20 e 30% das perdas caso um país entre em default, o que levará os investidores a comprar bônus de países em dificuldades.
Dessa forma, o FEEF, atuando como uma companhia de seguros, multiplicaria sua capacidade até os dois bilhões de euros, sem pedir mais garantias aos Estados europeus. Mas a França acredita que, nesse caso, correria maiores riscos de perder sua nota máxima, o triplo AAA.
As divergências não se limitam ao fundo. Além disso, a Eurozona deve chegar a um consenso sobre quem deve ficar encarregado da injeção de capital nos bancos e quanto deverá pagar o setor privado para ajudar a Grécia.
Nesta sexta-feira, a Eurozona deve aprovar a concessão à Grécia de 8 bilhões de euros, a sexta parcela do crédito de 110 bilhões de euros estabelecido em maio de 2010. De qualquer forma, precisa chegar a um acordo com o Fundo Monetário Internacional, outro dos credores da Grécia.
E o ministro grego das Finanças, Evangelos Venizelos, assegurou que a UE e o FMI divergem sobre a resposta que deve ser dada ao endividamento da Grécia, o que pode gerar um círculo vicioso "perigoso".
Entretanto, a crise política e social se agrava na Grécia. Para obter a ajuda, o Parlamento grego adotou na quinta-feira à noite uma nova lei de austeridade, muito criticada pela oposição e pelos sindicatos, que prevê mais cortes salariais e o desemprego técnico de 30.000 funcionários públicos.
A votação foi realizada em meio a uma grande greve geral organizada contra essas medidas e de manifestações contra os planos de austeridade.