Em meio às discussões em torno da regulamentação do open banking e dos pagamentos instantâneos no Brasil, há quem imagine que eles representam a redução ou o fim de soluções físicas. Mas o futuro que se aproxima é muito mais diversificado do que se imagina e não exclui, por ora, as maquininhas, muito menos o cartão de débito ou de crédito.
De 2008 para 2018, o valor transacionado por cartões no país passou de R$ 335,67 bilhões para R$ 1,5 trilhão, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços, a Abecs. No dia a dia das famílias, os pagamentos por cartão já respondem por 40% dos gastos - crescimento que também se deve à abertura gradual do segmento pelos órgãos reguladores, a partir de 2010, e à consequente entrada de novos players na cadeia como um todo.
E o potencial de crescimento dessa proporção dos cartões no consumo das famílias é enorme se comparado ao de outros países - nos Estados Unidos, ela é de 45%; na Coreia do Sul, 70%. A meta no Brasil, conforme a Abecs, é de que os pagamentos eletrônicos alcancem 60% do total até 2022.
O desafio por trás dessa meta não é só uma questão de tecnologia, mas de cultura e de como os meios de pagamento, juntamente com a popularização do telefone celular, têm o poder de realmente contribuir para a formalização das relações de produção e para a inclusão social de uma população. Isso quer dizer que o desenvolvimento dos meios de pagamento segue vários caminhos, que variam de país para país.
Se na China o pagamento móvel e/ou instantâneo já ultrapassou o físico via cartões e floresceu à margem do mercado regulado, isso não ocorrerá no Brasil, onde há, por exemplo, um parque instalado das maquininhas gigante e em pleno desenvolvimento. É no que acredita o vice-presidente da Abecs, Marcelo Kopel.
"Nosso grande inimigo hoje no Brasil é o dinheiro espécie, que é algo que acaba se tornando nocivo na sociedade na medida em que permite uma série de coisas que não são boas: corrupção, sonegação, informalidade, violência. Então nosso desafio é como levar o pagamento eletrônico para cada vez mais pessoas e setores da economia", afirma o diretor-geral da Visa do Brasil, Fernando Teles. O programa Cidades do Futuro, que foi lançado em julho do ano passado em Maringá (PR) e que busca elevar a penetração de meios de pagamento eletrônico em cidades onde ela é baixa, é uma das iniciativas da empresa nesse sentido.
Em paralelo à chegada da era do pagamento instantâneo e do open banking, os cartões de débito e crédito ainda têm muito a evoluir.
Teles conta que uma recente padronização de jornada - o chamado o protocolo 3DS 2.0 - vai viabilizar, nos próximos meses, o uso eletrônico do cartão de débito (incluindo aqui os pré-pagos ou os de benefícios) em larga escala na internet, principalmente no e-commerce.
"As transações com cartão de débito sempre precisaram de senha. Agora nós, como indústria de pagamentos, podemos dar uma segurança maior para uma transação com esse cartão por meio de uma série de outras comprovações, como comportamento de uso do celular ou mesmo desafios [autenticação por meio de perguntas], de que é o usuário que está por trás de cada compra", explica Teles.
O 3-D Secure 2.0 estabelece um fluxo de comunicação entre a Visa, os emissores e as empresas para a aprovação das transações com cartão débito, o que deve contribuir para o aumento desse tipo de operação e evitar fraudes - maior medo de qualquer brasileiro que digita os dados do cartão de crédito em um site de compras.
"Ainda não posso citar nominalmente os bancos e os varejistas envolvidos, mas nos próximos meses operações deste tipo começarão a acontecer com mais frequência". Ele lembra que a primeira a operação do tipo foi feita pela Visa, com a Caixa Econômica Federal e o Peixe Urbano no início de junho, e que a partir do fim de 2019, começo de 2020, já será possível ver essas transações como algo corrente.
Mesmo o cartão de crédito tem um caminho a percorrer, segundo o presidente e CEO da Mastercard para o Brasil e o Cone Sul, João Pedro Paro Neto. E a modalidade de crediário lançada pelos bancos e pelas bandeiras recentemente tem tudo a ver com isso.
"O crediário faz do cartão de crédito o que ele é e não um cartão de pagamento, como ele é usado, de fato, hoje".
Lançado em março deste ano e oferecido pelos principais bancos a partir de abril, o crediário foi pensado principalmente para os lojistas menores, que têm menos capital de giro para vender a prazo.
Pelo crediário, os clientes podem comprar bens à vista e parcelar com o cartão de crédito em até 36 vezes, pagando juros. O lojista, por sua vez, recebe o dinheiro total à vista, em até cinco dias. Essa combinação de condições transfere os riscos para os bancos e pode resultar em taxas menores ao consumidor com o tempo ou mesmo incentivar mais promoções e descontos nos pagamentos à vista.
Toda vantagem, porém, não é vantagem se o consumidor não estiver atento ao custo final da operação - os educadores financeiros alertam que nos crediários mais longos o consumidor tende a perder a ideia de quanto está pagando realmente.
*A jornalista viajou a convite da Febraban para o CIAB 2019.
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