Decisão do Banco Central de manter a Selic a 13,75% vem sendo criticada pelo governo, aliados e economistas do mercado.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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As críticas à manutenção da taxa básica de juros a 13,75% pelo Banco Central ganharam novas vozes nos últimos dias, como do ex-diretor e um dos “pais” do Plano Real, André Lara Resende, e economistas como o ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, e o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

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Eles se juntam ao coro encabeçado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início do novo governo contra a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que manteve a Selic neste patamar na última reunião, realizada no começo do mês.

André Lara Resende, que foi nomeado recentemente para o cargo de coordenador da Comissão de Estudos Estratégicos do BNDES, disse que não faz sentido a taxa de juros estar “neste nível há dois anos”, o que torna impossível estabilizar a inflação. O economista passou a defender ideias mais "heterodoxas" de economia nos últimos anos.

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“Os objetivos do Banco Central, determinados na lei que deu autonomia ao Banco Central são o controle da inflação, a estabilidade do sistema financeiro e a garantia mais próxima possível do pleno emprego. Obviamente essa taxa de juros de 13,75%, 8% real, é incompatível com esses objetivos. Ela está errada”, disse ao programa Canal Livre, da Band, que será exibido neste domingo (12) e que teve um trecho publicado nas redes sociais (veja na íntegra).

Apesar de dizer que a taxa de juros está “há dois anos neste nível”, a Selic foi elevada acima de 10% em fevereiro do ano passado, quando passou de 9,25% para 10,75% e iniciou a trajetória de alta até alcançar 13,75% em agosto, que se mantém até hoje. De acordo com a série histórica do Banco Central, há dois anos a taxa básica de juros era de 2%. (veja aqui)

Economistas lançam manifesto para BC baixar a Selic

O coro contra a decisão do Copom foi engrossado com um manifesto publicado no formato de abaixo-assinado neste fim de semana encabeçado por Bresser-Pereira e Coutinho junto de Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenador do programa de governo de Ciro Gomes (PDT) na eleição presidencial do ano passado, e de Antônio Correa de Lacerda, membro do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entre outros.

No manifesto, os economistas afirmam que a taxa de juros no Brasil tem “sido mantida exageradamente elevada pelo Banco Central, e está hoje em níveis inaceitáveis”, e que o discurso da autoridade monetária não encontra nenhuma justificativa na teoria econômica ou no cenário internacional.

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“Nenhum dos países dotados de recursos e economias estruturadas possui uma taxa de juros sequer próxima do que prevalece no Brasil e que o Banco Central pretende manter por longo período. E todos esses países reconheceram o caráter excepcionalíssimo do surto inflacionário recente, explicado pela pandemia e pelo conflito bélico, não por excesso de demanda”, diz o manifesto. (veja na íntegra)

O documento afirma, ainda, que a manutenção da taxa de juros em patamares elevados causa um “estrangulamento das atividades produtivas e criadoras”, refletindo na dificuldade das empresas investirem para aumentar a produção e a produtividade, os empregos e serviços prestados à população.

“Sem isso, os investimentos perderão para as aplicações financeiras e as remunerações do trabalho e da produção vão perder para a especulação”, retrata o texto.

Os economistas reconhecem que o momento econômico brasileiro exige cautela, mas que isso não significa “se conformar com caminhos estéreis”. Para eles, é preciso observar o que outros países estão fazendo para se aplicar internamente.

Ao fim do manifesto, os economistas “declaram publicamente o apoio a uma política que seja capaz de reduzir substancialmente a taxa de juros, propiciando as condições para a retomada do desenvolvimento com estabilidade sustentável”.

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Até a tarde deste domingo (12), o manifesto já contava com 2.060 assinaturas.

Ao longo da última semana, aliados do presidente passaram a engrossar as críticas ao Banco Central, atribuindo ao presidente Roberto Campos Neto a decisão de não baixar a Selic.

Por outro lado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou um tom mais moderado de que a autoridade monetária está começando a entender o plano de ajuste fiscal proposto pelo governo – o que deve influenciar nas futuras reuniões do Copom.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]