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Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretora da Americanas, voltou ao Brasil nesta segunda (1º) em meio às investigações sobre a suposta fraude contábil de R$ 25,3 bilhões na empresa. Após desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos, Saicali entregou o passaporte à Polícia Federal (PF), cumprindo determinação judicial que substituiu a ordem de prisão preventiva por medidas cautelares.
A executiva estava em Lisboa (Portugal) e, após chegar no Brasil, saiu pelo estacionamento reservado à PF cercado por grades, para não ser fotografada ou filmada. Agentes da PF também impediram a captação de imagens da área.
Segundo a decisão do juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, a ex-diretora deveria retornar ao Brasil sem passar por “qualquer tipo de constrangimento ou vexame”. A orientação incluiu a entrega do passaporte e a isenção de comparecimento a uma audiência de custódia.
Saicali estava em Portugal desde 15 de junho e tinha um voo marcado para retornar ao Brasil em 5 de julho. A reserva, realizada em 26 de junho, um dia após a decretação de sua prisão preventiva, foi alterada sem que os advogados explicassem a mudança de data.
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Já o ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, foi liberado pelas autoridades espanholas no sábado (29), após ser detido pela Interpol em Madri, na Espanha. Gutierrez, que possui cidadania espanhola e brasileira, havia se mudado para o país ibérico após a revelação da fraude na Americanas. Ele entregou o passaporte e deverá se apresentar às autoridades a cada 15 dias.
A defesa de Gutierrez afirmou que ele tem colaborado com as investigações e “jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude”. Contudo, a PF justificou o pedido de prisão preventiva com base na alegação de que Gutierrez teria negociado veículos e imóveis, transferindo os valores para offshores em paraísos fiscais.
Saicali e Gutierrez foram alvos de uma operação da Polícia Federal deflagrada na semana passada suspeitos de movimentarem R$ 25,3 bilhões em fraudes contábeis da gigante varejista. O grupo Americanas pediu recuperação judicial no ano passado após reportar dívidas de R$ 43 bilhões.
Além dos mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão, eles também foram alvos de sequestro e bloqueio de bens que somam mais de R$ 500 milhões.
“Os ex-diretores praticaram fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, que consiste em uma operação na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos”, disse a PF em nota.
De acordo com a Polícia Federal, também foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que consistem em incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor, mas no presente caso nunca existiram.
A investigação revelou, ainda, fortes indícios da prática do crime de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, também conhecida como “insider trading”, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Os crimes podem gerar uma pena de até 26 anos de prisão.
À Gazeta do Povo, a Americanas informou que reitera a confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que "foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes". "A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos", completou na nota à reportagem.