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Corte de gastos

Ex-presidente do BC de Lula diz que corte de gastos é insuficiente e mostra fraqueza de Haddad

Henrique Meirelles
Henrique Meirelles avalia que pacote apresentado por Haddad expõe fragilidade de ministro no mercado. (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil / arquivo)

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O ex-presidente do Banco Central nos dois primeiros mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Henrique Meirelles, avalia que o pacote de corte de gastos apresentado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) é tímido e insuficiente para estabilizar a trajetória da dívida pública.

O impacto reduzido da proposta, menor do que o esperado pelo mercado financeiro, expõe fragilidades na atuação de Haddad, embora tenha uma posição sólida no governo por conta da confiança de Lula.

“Ele é muito ligado ao Lula, que o colocou como candidato a presidente da República em 2018, quando ele, Lula, não pôde ser candidato. Ele foi candidato do PT ao governo de São Paulo em 2022. É um potencial candidato a sucessor do Lula, seja em 2026, seja em 2030. Mas o fato é que, nesse caso específico, realmente ele teve dificuldade”, afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta segunda (9).

Meirelles destacou três problemas principais no pacote. O primeiro foi o desconforto gerado pelos adiamentos sucessivos no anúncio das medidas, o que, segundo ele, sinalizou dificuldades na condução da política econômica. O segundo foi o tamanho do corte, inferior ao esperado pelo mercado.

Por último, ele criticou a decisão de Lula de associar o pacote à reforma do Imposto de Renda, que prevê a isenção para quem ganha até R$ 5 mil, sem garantias de compensação fiscal suficientes. O imposto mínimo sobre os super-ricos, proposto como fonte de arrecadação, pode não gerar os recursos esperados e poderia levar à migração de investimentos e empreendedores.

“Incentiva a migração do país de alguns investimentos, de empreendedores. O imposto não é uma coisa neutra. Ele tem influência real sobre o funcionamento da economia”, alertou.

Embora considere positivo o princípio de limitar o crescimento das despesas, Meirelles afirmou que faltaram “números maiores” para garantir a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal. Ele também aponta que, apesar do crescimento econômico no curto prazo, a dívida pública pode se tornar um problema em um horizonte mais longo.

“Não é algo que vai afetar o país este ano ou no próximo, inclusive porque o país está crescendo. O problema maior é a sustentabilidade da dívida num prazo maior”, disse.

O economista reforçou que as reações negativas do mercado financeiro, refletidas em taxas de juros mais altas e preços de ativos, são naturais diante das expectativas futuras.

“Não adianta ficar julgando o mercado, achando que o mercado deveria ser diferente. O mercado não é um partido político”, emendou.

Criador do teto de gastos que vigorou entre 2016 e 2022, Meirelles enfatizou a necessidade de medidas mais robustas para fortalecer a credibilidade fiscal do governo e evitar impactos no financiamento público.

Apesar das críticas, ele acredita que Haddad continuará sendo uma figura central no governo devido à proximidade com Lula e seu papel estratégico na política.

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