Os grandes excessos de capacidade de produção industrial na China, especialmente na siderurgia, continuam crescendo diante da demanda fraca, freando o crescimento do país e desestabilizando a economia mundial, advertiu nesta segunda-feira (22) a Câmara de comércio da UE em Pequim.
Do aço ao cimento, várias empresas estatais na indústria pesada sofrem essas capacidades ociosas depois de ter multiplicado os investimentos – muitas vezes a crédito –, apesar da demanda frágil, em particular no mercado imobiliário chinês.
“O excesso de capacidade é há tempos uma praga para a indústria chinesa, mas a situação piorou com profundas repercussões na economia mundial e sobre o próprio crescimento da China”, informou a Câmara em seu relatório divulgado nesta segunda-feira.
Para se ter ideia da magnitude do problema, aponta-se que as siderúrgicas chinesas têm uma produção maior do que a dos quatro principais países produtores juntos (Japão, Índia, Estados Unidos e Rússia), mas a metade delas são deficitárias. Em dois anos, a China produziu mais cimento do que os Estados Unidos em todo o século XX.
Estímulo
O grande plano de reativação adotado em 2008-2009 pelo governo chinês para lutar contra a crise econômica trouxe muito dinheiro para as empresas, convidadas a investir maciçamente, sem que a demanda seguisse o mesmo ritmo.
Em seis dos oito setores estudados pela Câmara (aço, alumínio, cimento, refinarias, vidro e papel) o índice de utilização das fábricas é até mais baixo do que era em 2008, em plena crise.
É certo que Pequim, que pretende se lançar em uma transição econômica em favor dos serviços, se esforça em reduzir essas capacidades excessivas: endurece as normas, estimula as fusões e reestruturações de empresas e quer cortar empréstimos e subsídios a sociedades “zumbis” não rentáveis.
“Mas o poder central encontra uma forte resistência por parte dos governos locais (províncias e municípios), preocupados com as consequências no emprego dessas medidas”, afirma Joerg Wuttke, presidente da Câmara.
“Essas indústrias estão desconectadas das leis do mercado e se baseiam na ajuda das administrações locais, mediante investimentos ou facilidades para obter créditos”, destaca Wuttke.
Tentação protecionista
“O impacto no exterior já começa a ser sentido”, adverte Wuttke. As empresas europeias que fornecem material industrial à China veem como esse mercado se enfraquece. A situação se agrava com a desaceleração da segunda economia mundial, que reduz a demanda.
A China tenta alocar seus excedentes de produção no mundo todo, com o risco de desestabilizar os mercados.
A invasão de aço chinês a preços imbatíveis por qualquer concorrente alimenta também a queda das cotações, e estimula tanto os Estados Unidos como a União Europeia (UE) a erguer barreiras aduaneiras para proteger-se.
As siderúrgicas europeias e americanas têm sofrido: o gigante do setor ArcelorMittal teve em 2015 a enorme perda de US$ 7,9 bilhões.
Angustiados, diretores e funcionários do setor se manifestaram recentemente em Bruxelas para protestar contra a concorrência chinesa e pedir à UE que endureça suas medidas antidumping.
Os novos “caminhos da seda” que a China quer abrir ao custo de pesados investimentos na Ásia central não vão resolver nem melhorar o problema.
“As contas não fecham”, adverte Wuttke. “As necessidades desses países do centro da Ásia são muito pequenas para absorver uma porcentagem significativa dos excessos de capacidade da produção chinesa”.