Nunca houve tanta troca de executivos nos últimos 19 anos no mundo quanto no ano passado, aponta uma pesquisa da consultoria internacional PwC. E dois motivos explicam esse recorde: o aumento no volume de substituições planejadas e o crescimento no número de trocas forçadas não planejadas por motivos éticos.
“Muitas empresas passaram pela última crise econômica (2008-9) sem promover trocas no comando e agora chegou o momento dessa mudança”, diz Ricardo Pierozzi, sócio da empresa. Ele aponta que esses executivos conseguiram entregar uma alta performance financeira ao longo dos últimos anos, mas que agora o momento é de mudanças.
A pesquisa aponta que a pressão sobre os executivos é crescente. Casos de CEO mais longevos tendem a ser menos comuns nos próximos anos, devido ao ritmo de inovação crescente e à aceleração nos ciclos de mudança tecnológica. “O modelo atual de negócios exige muitas mudanças, o que leva a um giro mais rápido no comando das organizações”, enfatiza.
Outra tendência que está ganhando muita força é o aumento de trocas por motivos éticos. Segundo Pierozzi, as empresas estão menos tolerantes a casos de fraude, assédio e corrupção, com os CEOs cada vez mais sendo responsabilizados por casos que ocorrem em escalões inferiores. “Os conselhos de administração, a mídia, as redes sociais e os investidores estão pressionando e influenciando cada vez mais.”
A realidade mundial é sentida pelo Brasil. E Pierozzi aponta que no país há um agravante: o desaquecimento da atividade econômica. Pelo sexto ano seguido, o PIB deverá crescer a um ritmo inferior a 1,5% ao ano.
Questão de confiança
“É uma questão de confiança”, diz Thiago Gaudêncio, gerente executivo da Michael Page, consultoria em recrutamento e seleção. Ele aponta que os reflexos da crise ainda são sentidos pelo mercado de trabalho.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou a existência de 13,2 milhões de desempregados e outros 4,8 milhões em situação de desalento, aquela que está fora da força de trabalho, por não conseguir trabalho, não ter experiência, ser muito jovem ou idosa ou não encontrar trabalho na cidade onde trabalha e que, se tivesse, teria condições de assumir a vaga.
“O brasileiro tinha uma expectativa de que tudo se resolveria com o novo governo, mas não é bem assim. A retomada da confiança e do emprego não vai ser algo simples de se resolver. Vai depender da melhora das expectativas para a economia, que estão atreladas à aprovação da reforma da Previdência”, diz Gaudêncio.
Uma pesquisa internacional feita pela consultoria mostra que, no primeiro trimestre, o Brasil era o 11° país, entre 38, onde há menos confiança por parte dos profissionais. É uma posição abaixo do levantamento anterior, realizado no último trimestre do ano passado.
“Há mais gente disponível no mercado de trabalho e, com isso, é difícil projetar um aumento nos salários. Muita gente topa trabalhar por menos.” Segundo ele, é preciso uma boa notícia para mudar esse cenário, já que o mercado se movimenta de acordo com as expectativas.
Mas há segmentos que podem ser considerados “pontos fora da curva”, aponta Gaudêncio. Entre eles, estão os segmentos de TI (tecnologia da informação) e as startups.
O gerente destaca que as oportunidades de trabalho na área de TI estão em alta devido à orientação à melhoria de processos, corte de custos e ao aumento da competitividade. As startups estão em alta porque estão apostando em nichos de mercado não explorados, com utilização massiva de tecnologia.
Prazo determinado para executivos
O gerente da Michael Page aponta que o avanço tecnológico e o desaquecimento da economia estão promovendo uma transformação no mercado de trabalho, com a tendência à terceirização de mão de obra e à contratação por projetos. “Não existe mais o emprego de longo prazo.”
É um cenário que já está sendo aproveitado pela consultoria paulista Innovativa Executivos Associados. “As mudanças na legislação trabalhista em 2017 impulsionam esta mudança”, destaca Márcia Makishi, executiva de RH da empresa.
Ela aponta que tem crescido a demanda por profissionais por prazo determinado, o que costuma ocorrer muito em casos de licença, para cumprir determinados projetos ou para atender a demandas específicas.
“É um custo menor para a empresa, já que não tem verbas rescisórias, e com a vantagem de a empresa contar com um profissional altamente qualificado”, diz Ariovaldo Luiz, executivo de finanças da consultoria.
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