A produção da Petrobras em julho atingiu o menor volume desde novembro do ano passado, com a companhia buscando se adequar a um maior nível de exigências de órgãos do governo, o que colaborou para interrupções nas operações de plataformas.
A queda da produção em julho para menos de 2 milhões de barris/dia no Brasil surpreendeu analistas, que esperavam por um número estável ante junho, e coloca em risco a meta de a empresa chegar a 2,1 milhões de barris/dia até o final do ano.
A Petrobras informou nesta quarta-feira que em julho produziu 1,968 milhão de barris diários no país, contra 2,046 milhões em junho.
No ano, a média da produção interna de petróleo da Petrobras está em 2,021 milhões de bpd.
A empresa disse que a queda da produção foi resultado de paradas para manutenção de plataformas nos campos de Marlim (P-20, P-35 e P-37), Albacora Leste (P-50), Parque das Baleias (FPSO Capixaba) e de unidades da corrente de Cabiúnas.
Pelo menos uma das plataformas, a P-37, teve a produção interrompida a pedido da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), confirmou o órgão governamental, o que fez a Petrobras antecipar para junho uma parada que já estava programada. A unidade produz 50 mil bpd.
A unidade passou por fiscalização por técnicos da ANP, que tem elevado as exigências quanto a equipamentos e sistemas após o acidente no Golfo do México com uma plataforma da BP que provocou o maior derramamento de óleo da história nos Estados Unidos.
Interrupções
Em Brasília, após participar de audiência no Congresso sobre royalties, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que um maior número de exigências de órgãos do governo tem prejudicado as operações das unidades de produção.
"Coisas que não eram impeditivos à continuidade da operação hoje passam a ser impeditivos", afirmou Gabrielli a jornalistas.
"Por exemplo, você não ter treinamento para trabalho em altura para mudar lâmpada, você não ter na plataforma uma cópia do certificado de treinamento de um profissional... você ter de reportar qualquer fagulha que aconteceu no sistema", citou Gabrielli.
"Hoje você tem exigências maiores... isso implica ter mais paradas. E isso afeta a produção. Até que esse processo se normalize, esse efeito vai existir", acrescentou, indicando que a companhia ainda levará um tempo para se adequar às novas orientações de órgãos do governo.
Questionado se esse cenário impossibilitaria o alcance da meta de 2,1 milhões de barris para o ano, Gabrielli disse que atingir esse nível ainda é possível, mas que dependerá, entre outras coisas, da velocidade de aumento de produção da P-56, plataforma que iniciou a operações recentemente.
Queda surpresa
Para o analista Lucas Brendler, do Banco Geração Futuro, a queda do volume em julho não era esperada.
"Existia uma expectativa de que viria estável (em julho), não foi nada positivo", avaliou.
"A queda surpreendeu, mas vamos aguardar os próximos meses, se as plataformas vão ter o desempenho que eles falaram, se vão atingir o pico que prometeram", completou.
Brendler lembrou que a empresa dificilmente atinge a meta anual e que o mercado já concede um desconto, no caso dele de 10 por cento sobre o volume anunciado pela estatal.
O analista também comentou a questão das exigências e informou que é um aspecto que tem ocorrido, de uma forma ou de outra, também em outros lugares, após o acidente com a BP.
"O Brasil já tinha normas bastante pesadas, depois da BP ficou ainda mais forte e os sindicatos de petroleiros também começaram a chamar a atenção para os equipamentos desgastados, a mídia pegou forte e a ANP resolveu prestar mais atenção nos critérios", afirmou.
Apesar do dado negativo no dia, as ações da Petrobras fecharam em leve alta de 0,3 por cento nesta quarta-feira, enquanto o índice principal da Bovespa fechou estável.
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