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entrevista

“Expansão da internet das coisas depende de transformação cultural”

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(Foto: Divulgação)

A aguardada revolução no modo como interagimos com os objetos ao nosso redor ainda figura no campo das tendências e passa longe da realidade das pessoas. Mas diversas experiências no mundo – e mesmo no Brasil – mostram que o futuro está na conectividade das “coisas” por meio da IoT (sigla em inglês para internet das coisas), um novo degrau na escada tecnológica que começa a ser trilhado por grandes e pequenas empresas. “Se olharmos o potencial dessa tecnologia e aquilo que já se tem no mercado hoje, vemos que ainda falta um longo caminho a percorrer”, analisa Pablo Larrieux, especialista em IoT e tecnologia da informação (TI) da Telefônica Vivo.

Segundo ele, a possibilidade de objetos conectados à internet trocarem informações entre si e com pessoas tem capacidade para gerar uma infinidade de oportunidades de negócios. “Desde que o empreendedor tenha uma ideia, entenda as ferramentas tecnológicas e enxergue um nicho de mercado, existirá sim um grande mercado, com capacidade para inovações muito específicas.”

No Brasil, algumas experiências de IoT já podem ser vistas em operações de pagamentos on-line e rastreamento de veículos, mas há espaço para implantação de soluções na indústria, comércio e serviços, entre outros.

Porém, a velocidade com que a internet das coisas vai se expandir no país dependerá de uma “transformação cultural”, diz Larrieux. Em entrevista à Gazeta do Povo, o executivo fala sobre o lançamento da plataforma de conectividade Vivo M2M Control Center, que permite aos clientes lançar, gerenciar e rentabilizar negócios baseados em IoT em qualquer lugar do mundo.

Com que velocidade a Internet das Coisas está avançando no Brasil?

Historicamente, a disponibilidade de tecnologia avança muito mais rápido do que as soluções que acabam chegando ao mercado. Os smartphones que conhecemos hoje, por exemplo, foram lançados entre 2006 e 2007, mas a popularização só ocorreu anos depois. Ou seja, demora um tempo até ter uma parte considerável das pessoas usando. No Brasil, a IoT está muito no início ainda porque as soluções de conectividade que existem são muito básicas. Temos dois grandes mercados hoje: o primeiro é o PSP [Provedor de Serviços de Pagamento On-line], que está mais avançado, e o segundo, muito menor em termos de tamanho, é a gestão de frotas veiculares. Há um terceiro, também bastante promissor, que é o de utilities [serviços de utilidade pública]. É isso que o mercado tem entendido e encontrado como um caminho natural para a IoT nesse momento. Acho legal, é um primeiro passo, mas se olharmos o potencial dessa tecnologia e aquilo que já se tem no mercado hoje, vemos que ainda falta um longo caminho a percorrer.

Que oportunidades de negócios a IoT pode gerar nos próximos anos?

Hoje, qualquer produto consegue se beneficiar de uma conectividade, agregando valor por estar conectado. Carro conectado, por exemplo, é um mundo a ser explorado. Mas existem grandes oportunidades, com benefícios enormes, na própria indústria, na agropecuária e no varejo. Há um potencial imenso, principalmente graças ao talento tecnológico do profissional brasileiro, que está fazendo muito com o pouco que se tem.

Desde que o empreendedor tenha uma ideia, entenda as ferramentas tecnológicas e enxergue um nicho de mercado, existirá sim um grande mercado, com capacidade para inovações muito específicas.

Pablo Larrieux,especialista em IoT da Telefônica Vivo

O que é preciso fazer para acelerar essa tecnologia no país?

Falta uma transformação cultural, quando uma nova proposta que a tecnologia apresenta se transforma em algo completamente aceito pela sociedade. Não é somente chip, plataforma de conectividade ou qualquer outro componente. No final do dia, são pessoas que transformam a sua forma de operar, de vender, de comprar essa mudança cultural. Essa incorporação às mudanças que a tecnologia propõe sempre passa pelas pessoas. Obviamente, algumas coisas podem ser feitas para acelerar o surgimento de soluções, mas é o fator humano, das pessoas que fazem uso dessa tecnologia, que vai determinar a abertura de um mercado de larga escala.

A internet das coisas tem movimentado grandes players mundiais, como Cisco, Google e mesmo a Telefônica Vivo. A dúvida é: essa tecnologia vai gerar oportunidade também para pequenos e médios negócios?

Certamente é uma superoportunidade. Vai haver muito espaço para pequenos empreendedores e negócios bem específicos. Vai ter conectividade para garantir a qualidade da pizza que o entregador leva, para garantir a qualidade do produto vendido na loja, para conseguir rastrear o cachorro no pet shop, enfim, são “ene” oportunidades. Desde que o empreendedor tenha uma ideia, entenda as ferramentas tecnológicas e enxergue um nicho de mercado, existirá sim um grande mercado, com capacidade para inovações muito específicas. Por isso, a Telefônica Vivo está se preparando para oferecer conectividade a uma grande variedade de empresas. O que estamos fazendo é juntar forças para fazer com que nossa tecnologia ajude a viabilizar não só os grandes, mas também os pequenos negócios.

A Telefônica Vivo está lançando uma nova plataforma de IoT para clientes globais. Fale um pouco sobre esse produto.

Quando se conecta uma coisa, você precisa de um chip que forneça essa conectividade. Isso é simples, não tem o menor problema. Mas quando você pensa em conectividade em larga escala, aí é necessária uma série de funções de conectividade. A Vivo M2M Control Center é isso: uma plataforma de gestão de conectividade, um alicerce para construção de soluções em cima dessa plataforma. Ela foi desenvolvida pela Jasper [empresa americana especializada em IoT e computação em nuvem] e já estava disponível na Europa. Agora, estamos trazendo para o Brasil porque vemos uma oportunidade de acelerar a importação de soluções de IoT.

A Telefonica Vivo tem assumido certo pioneirismo no desenvolvimento de soluções IoT no Brasil. Essa é uma estratégia da empresa?

A Vivo tem uma visão de se transformar em uma telco digital. E uma das áreas que a companhia escolheu trabalhar é a internet das coisas. Por quê? Porque as pessoas já estão conectadas no Brasil. Hoje são 280 milhões de celulares ativos. É natural pensar que o próximo passo seja conectar as coisas. Mas, para isso acontecer, temos que construir um ecossistema que faça sentido e seja completo, para que a tecnologia se incorpore ao mercado de forma natural. Precisamos criar as soluções de conectividade para esse mercado. O mercado vai crescer na medida em que as soluções apareçam e cresçam. Criamos o primeiro kit IoT há um ano e meio e já estamos na terceira versão. Qual o objetivo do kit? Colocar a tecnologia na mão dos desenvolvedores para que eles consigam fazer alguma coisa a partir da conectividade que o kit oferece.

O papel dos desenvolvedores parece fundamental nesse processo...

As soluções concretas que estão no mercado não são tantas, mas o movimento que tem acontecido em torno da IoT é muito interessante. A cada ano, na Campus Party, a gente vê um número maior de pessoas inscritas nas palestras e eventos. Tem havido um engajamento do próprio governo, via Ministério das Comunicações, para que o Brasil tenha mais soluções para desenvolver a internet das coisas.

Existe alguma barreira para expansão da IoT no Brasil?

É necessário fortalecer esse ecossistema. Um grande avanço ocorreu no ano passado, quando o governo separou o Fistel [Fundo de Fiscalização das Telecomunicações, taxa cobrada pelo governo a cada chip de celular ou internet ativado no país] da telefonia móvel do Fistel da M2M [comunicação máquina a máquina]. Até então, o chip de IoT era enquadrado como telefonia móvel e isso era um custo a mais de operação [o acordo permitiu uma redução substancial no valor da taxa para M2M, de R$ 26,83 para R$ 5,68]. Quando começamos a contar em bilhões as possibilidades de conectividade da internet das coisas, isso seria um empecilho para acelerar o avanço do mercado de IoT, porque é um valor fixo que tem de ser pago. A IoT vai muito além da conectividade. É a oportunidade de construção de um sistema que pode ser extremamente benéfico para o país todo, melhorando desde o hardware disponível até a produtividade.

O laboratório de conectividade e IoT que a Telefonica Vivo montou na cidade de Águas de São Pedro (SP) completou um ano em abril. Que avaliação faz dessa experiência?

Foi um projeto bastante ambicioso porque demandou basicamente investimentos estruturais. Foi construída toda uma infraestrutura para a cidade, de conectividade de alta velocidade. A partir disso, foram colocadas soluções em três áreas: gestão municipal (segurança, estacionamento e iluminação públicas), saúde e educação. Estamos bastante satisfeitos e aprendendo também. O projeto está evoluindo, fazendo uma transferência da capacitação tecnológica para o dia a dia da cidade. Temos dois relatórios sendo feitos nesse momento para poder apresentar indicadores concretos das mudanças que a cidade sofreu e compartilhar essa experiência que a gente teve, com outros municípios. Se essa e qualquer outra tecnologia não conseguir entregar benefícios para os cidadãos, não vai funcionar. Por isso, os benefícios têm que estar bem claros tanto para o administrador público quanto para o munícipe.

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