O desempenho da produtividade no Brasil é tão instável quanto o do resto da economia, com vôos curtos e pousos forçados. A fase atual é de marasmo. Os investimentos estão próximos a 20% do PIB, abaixo do mínimo ideal de 25% proposto por especialistas, e o rendimento do trabalho evolui pouco. Segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produtividade brasileira cresceu 1,3% no período de 2001 a 2005. Em uma comparação com outras 23 nações, o Brasil fica à frente apenas da Itália e precisa de binóculos para enxergar outros emergentes, como Índia e Malásia.
Os dados da CNI mostram que o país registrou um índice médio de expansão da produtividade acima de 6% entre 1991 e 2000 um resultado que o colocava entre os cinco primeiros colocados na mesma comparação. "Era de se esperar que o crescimento ficasse mais lento na comparação com a década de 90", afirma o economista Cláudio Dedecca, da Unicamp. "Naquele período houve um ajuste brutal na estrutura produtiva do país, sem que se criassem as condições para um crescimento sustentado."
No início dos anos 90, a economia brasileira passou por um processo de abertura, com redução de tarifas de importação, privatizações e a entrada mais rápida de capital estrangeiro. Dedecca explica que parte do ganho de produtividade naquela época ocorreu com a "queima" de capacidade, ou seja, empresas pouco competitivas fecharam as portas. Em outra frente, muitas companhias compraram máquinas e terceirizaram atividades para cortar custos, demitindo parte da força de trabalho. Esses fenômenos são comuns em qualquer lugar. Só que no Brasil eles ocorreram de forma muito acelerada e sem perspectiva de longo prazo.
Com as oscilações da economia nos últimos cinco anos, o aumento da produtividade voltou a ser lento. Não é necessário fazer um novo ajuste como na década de 90, e há dúvidas na cabeça dos empresários sobre a viabilidade de expandir a capacidade. "Há uma cautela grande na interpretação dos dados econômicos. Os juros são altos e não há certeza de até que ponto eles podem cair", afirma o economista Renato da Fonseca, da CNI.
A relação estreita entre crescimento do PIB e o desempenho da produtividade fica mais clara quando se avalia o impasse por que passam muitos empresários. Já adaptados ao nível atual de abertura da economia, eles podem investir o mínimo necessário para dar conta da demanda de curto prazo ou fazer um planejamento mais ousado, prevendo mais chances de ganho e também mais competição. Se optarem pela segunda estratégia, comprarão novas máquinas, abrirão fábricas mais modernas, melhorarão a gestão dos negócios e capacitarão melhor os funcionários, aproveitando melhor a força de trabalho. Isso sem "queimar" capacidade, como nos anos 90, e melhorando a competitividade da economia brasileira.
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