A população brasileira manteve a tendência de envelhecimento registrada em pesquisas anteriores - com aumento das faixas de idades mais elevadas e redução das faixas mais jovens. A taxa de fecundidade no ano passado foi estimada em 2 nascimentos por mulher, abaixo dos 2,1 registrados em 2005. As informações constam da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2006, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A população total atingiu, no ano passado, 187,2 milhões de pessoas e todas as regiões tiveram aumento da população mais velha e redução da população mais nova, movimento que foi mais acentuado nas regiões Sudeste e Sul. No Sudeste, o percentual de crianças entre 0 e 9 anos caiu de 15,3% em 2005 para 14,7% no ano passado, enquanto na Região Sul a fatia passou de 15,6% para 15,1%. Em contrapartida, a participação de pessoas com 40 anos ou mais na população subiu de 34,9% para 35,8% no Sudeste e de 34,8% para 35,7% no Sul.
Na média nacional, as crianças entre zero e 9 anos responderam por 16,5% do total dos residentes no ano passado, contra fatia de 17,1% em 2005. Os habitantes com 40 anos ou mais, que correspondiam a 31,5% do total em 2005 passaram para 32,3% do total.
A estrutura menos envelhecida é da Região Norte. Em 2005, os residentes na área entre 0 e 9 anos representavam 22,5% do total da população e eram mais numerosos que os 22,3% com 40 anos ou mais. No ano passado, as crianças até 9 anos tiveram sua participação reduzida para 21,6%, enquanto aqueles com mais de 40 anos passaram a responder por 23,2% do total de habitantes.
A Região Norte também foi a única que apontou contingente de crianças de 0 a 4 anos maior que o de pessoas de 60 anos ou mais (1,6 milhão a 979 mil). A relação se repete em todos os estados da região, com destaque para o Acre, onde as pessoas com até 4 anos representam 12% do total da população. Na outra ponta, o Rio de Janeiro é o que possui menor percentual de jovens até 4 anos (5,9%) e o que tem a maior fatia com mais de 60 anos (14,1%).
Mulheres vivem mais A Pnad também detectou que a população feminina entre 0 e 4 anos em 2006 era, no ano passado, 6,7% inferior a de homens, enquanto o número de mulheres com 60 anos ou mais superava o número de homens em 21,2%. Ou seja, nascem mais homens, mas as mulheres vivem mais. Em 2006, população do país era composta por 96 milhões de mulheres e 91 milhões de homens e a Região Norte é a única das cinco regiões brasileiras em que há mais homens que mulheres.
O número médio de pessoas por domicílio ficou em 3,4 em 2006 e 3,2 pessoas por família. Mais uma vez, a Região Norte destoa do restante do país e tem a média mais elevada: 4 moradores por domicílio e 3,5 integrantes por família. As regiões Sul e Sudeste têm as taxas mais baixas: 3,2 moradores por domicílio e 3 integrantes por família.
Renda em alta
Um dos principais destaques da pesquisa foi o aumento da renda média real, que subiu 7,2% em 2006 na maior recuperação desde 1995. No entanto, a alta não foi suficiente para trazer a renda aos níveis de 1996, o ano mais forte da série estudada, de R$ 975.
- O aumento real do salário mínimo nos últimos anos está impactando o rendimento do trabalhador, principalmente a renda das classes mais baixas - afirmou a economista do IBGE Márcia Quinstlr.
A economista destacou que também contribuíram a expansão do emprego do trabalhador com carteira assinada (de 33,1% da população ocupada para 33,8%) e a redução da informalidade (de 51,8% em 2005 para 50,4% em 2006).
De acordo com a pesquisa, a metade mais pobre da população foi a mais beneficiada pela recuperação dos salários. Para este grupo, a renda atingiu o valor mais alto em dez anos e chegou a R$ 293, superando o pico de R$ 257 registrados em 2006.
As tendências de melhora nos indicadores já vêm de outros anos, mas o que surpreende na Pnad referente a 2006 é o conjunto dos dados. Praticamente todos os indicadores apresentaram melhora.
A desigualdade continua caindo. A redução foi pequena, mas mostra consistência na lenta melhora das diferenças de renda da população. O índice de Gini (indicador internacional de desigualdade que vai de 0 a 1) vem caindo desde 1993 e em 2006 recuou mais 0,003 para 0,541.
O Brasil menos desigual em 2006 foi influenciado pelo aumento de 13,3% no salário mínimo. A alta de 7,2% na renda média real da população beneficiou principalmente a metade da população com rendimentos menores . A diferença entre ricos e pobres, no entanto, continua alta.
Escolaridade
A taxa de escolarização foi recorde: quase 96,7% das crianças entre 7 e 14 anos estavam na escola. E uma mudança da lei, que passou a obrigar crianças entrarem na escola um ano mais cedo, elevou em 3% o número de estudantes entre 5 e 6 anos nas salas de aula. A alta foi significativa e a expectativa é que o número continue crescendo nos próximos anos, pois o prazo para implementar a obrigatoriedade é 2010.
A vida moderna também está refletida na pesquisa. O número de residências com um só morador subiu de 10,8% em 2005 para 11,1% em 2006. Além disso, a população está tendo menos filhos : a média caiu de 2,1 filhos por mulher em 2005 para 2 em 2006. E o IBGE diz que o ritmo de queda está muito mais acelerado no Brasil do que aquele observado no passado na Europa, onde a baixa taxa de natalidade da população já é um problema há tempos.
Mas o estudo também mostra que falta avançar. A taxa de analfabetismo caiu, mas ainda é gigantesca. Quase 15 milhões de pessoas não conseguem ler um bilhete. E mesmo com o aumento da formalização a carteira assinada é um privilégio de apenas um terço da população ocupada.