Ouça este conteúdo
O diretor de política econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou nesta segunda (13) que o Brasil segue uma trajetória distinta entre os mercados emergentes, com expectativas de juros acima dos níveis pré-pandemia. De acordo com ele, essa dinâmica reflete um cenário mais adverso da economia, com riscos materializados, o que permitiu à autoridade monetária adotar uma abordagem mais previsível em suas decisões.
Guillen sinalizou que os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) devem confirmar a expectativa de elevar a taxa básica de juros na próxima reunião, marcada para o final do mês. A Selic está em 12,25% e deve ser elevada progressivamente até 15% em junho – o mercado financeiro estima este patamar até o final do ano.
“Como migramos de um cenário mais incerto para um mais adverso, com materialização dos riscos, isso nos permitiu dar mais previsibilidade e indicar as próximas decisões e um ciclo maior. Por isso, indicamos duas reuniões à frente, com barra alta para alterar”, afirmou Guillen durante uma transmissão organizada pela Bradesco Asset Management.
A autoridade monetária contratou mais duas elevações de 1 ponto percentual na taxa Selic para este ano, reforçando a necessidade de ancorar as expectativas inflacionárias. Segundo Guillen, manter as expectativas controladas “reduz o custo da desinflação”, um objetivo central em um contexto de inflação elevada.
O desempenho econômico também foi abordado pelo dirigente, que reconheceu a força da atividade ao longo do último ano, com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superando as previsões em meio a um consumo robusto das famílias e maior investimento. No entanto, ele ponderou que dados recentes do comércio e da indústria, referentes a novembro, vieram abaixo do esperado.
“É melhor não sobreponderar os dados da margem porque, às vezes, trata-se somente de uma oscilação”, alertou.
Guillen ressaltou, ainda, que a política monetária mais restritiva tem como objetivo abrir o hiato do produto, uma medida de ociosidade econômica necessária para conter a inflação. Apesar disso, a resiliência da atividade econômica tem sido uma surpresa maior do que a abertura do hiato projetada.
A questão fiscal também foi tema de preocupação do diretor, em que afirmou que cerca de 80% dos analistas de mercado consultados antes da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) avaliaram que a situação das contas públicas havia piorado.
“O debate da nossa interação com o mercado tem sido mais sobre a sustentabilidade da dívida do que sobre o atingimento das metas do arcabouço anuais”, completou.