Construído em 1988, o navio-plataforma é operado pela norueguesa BW Offshore e fretado pela Petrobras desde 2009| Foto: Divulgação/Arquivo/Agência Petrobras

Crítica

Fiscalização sobre segurança é deficiente, diz FUP

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), representante dos trabalhadores da Petrobras, criticou ontem o tratamento dado por órgãos fiscalizadores do governo e pela estatal à segurança nas plataformas produtoras de petróleo.

A Petrobras "investe em segurança, porém mal", afirmou o diretor da federação José Maria Rangel. Além disso, alertou que falta uma fiscalização por parte da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e do Ministério do Trabalho se as melhores práticas de prevenção a acidentes são cumpridas.

"A atividade de exploração de petróleo cresceu de forma muito rápida no país e esses órgãos não se prepararam para isso. Não há auditores suficientes para acompanhar essas plataformas", avalia Rangel.

Em abril do ano passado, na última visita feita à plataforma Cidade de São Mateus, a Marinha detectou que o sistema de alarme não funcionava e as mangueiras utilizadas para apagar o fogo estavam enferrujadas, segundo Rangel. Ele não soube dizer se o problema foi resolvido.

Histórico

O relatório de sustentabilidade da Petrobras informa que, de 2009 a 2013, foram registrados 50 acidentes fatais em suas operações – incluindo plataformas em alto-mar, campos terrestres e refinarias. A estatística contabiliza entre as vítimas empregados concursados e terceirizados. No ano passado, segundo a federação, foram registradas 15 mortes.

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Sem vazamento

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) descartou o risco de vazamento de óleo e garantiu que a plataforma está estabilizada. Uma equipe da ANP ficou dentro da sala de crise da Petrobras, no Rio de Janeiro. A outra foi embarcada na plataforma. De acordo com a Petrobras, as operações da plataforma foram interrompidas. A produção da unidade era de 2,250 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural, bem abaixo de sua capacidade de 10 milhões de metros cúbicos.

Apenas três dias após Aldemir Bendine assumir a cadeira de presidente da Petrobras, uma explosão na casa de bombas do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, na Bacia do Espírito Santo, deixou ao menos três mortos, seis desaparecidos e dez trabalhadores feridos.

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É o mais grave acidente em uma plataforma da companhia desde março de 2001, quando três explosões sucessivas em tanques de óleo da plataforma P-36, no Campo de Roncador, no litoral norte fluminense, mataram 11 pessoas e acabaram levando a estrutura ao fundo do mar.

O acidente ocorreu por volta das 12h50 de ontem, mas apenas às 18 horas a Petrobras divulgou nota oficial confirmando a explosão e os óbitos, sem mencionar suas possíveis causas. Após um dia todo de informações desencontradas a empresa informou que 74 trabalhadores estavam embarcados na hora do acidente.

Surpreendida pela notícia em meio a uma reunião com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, a presidente Dilma Rousseff ligou para Bendine pedindo explicações. O presidente da estatal passou números e explicou que o navio pertence a uma empresa privada, a BW Offshore. "A presidente Dilma lamentou a perda de vidas e, em nome do governo, eu quero prestar as condolências aos familiares das vítimas. Também peço a Deus que os feridos tenham pronto restabelecimento", contou o ministro.

Os feridos foram levados para Vitória, dois deles com queimaduras graves e oito vítimas de trauma, segundo a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo. Os pacientes foram encaminhados para o Hospital Metropolitano e o Vitória Apart Hospital. O Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES) afirmou que quatro feridos estavam em estado grave.

Construído em 1988, o navio-plataforma é operado pela norueguesa BW Offshore e fretado pela Petrobras desde 2009 para a produção de óleo e gás na camada pós-sal dos campos de Camarupim e Camarupim Norte, a 120 km da costa do Espírito Santo. Em seu comunicado, a Petrobras afirmou que a BW está prestando assistência aos funcionários e familiares, com apoio da estatal

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A Capitania dos Portos do Espírito Santos decidiu abrir inquérito para apurar as causas e responsabilidades na explosão. O prazo para a conclusão das investigações é de 90 dias. O Sindipetro-ES diz que o acidente foi causado por um vazamento de gás na praça de máquinas da casa de bombas.

No fim da tarde de ontem 31 pessoas permaneciam a bordo do navio-plataforma e 33 haviam sido desembarcadas. A Marinha deslocou um navio e duas aeronaves para a área do acidente "com a prioridade inicial de realizar a evacuação de pessoal e remover as vítimas para os hospitais da Grande Vitória".