As exportações de milho do Brasil contarão com uma demanda extra no segundo semestre, de países da União Europeia que estão vendo uma oferta menor de grãos para ração em função de uma seca que afeta lavouras da Rússia e de outras nações da região do Mar Negro, disseram fontes do mercado nesta sexta-feira (30).

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O milho do Brasil, onde mais da metade da safra não é transgênica, com melhor aceitação pelos europeus, está sendo visado por empresas que deverão substituir o trigo pelo outro cereal na elaboração de ração.

Para se ter uma dimensão da quebra de safra, apenas em dois países, na Rússia e no Cazaquistão, são estimadas perdas de 10 milhões de toneladas de trigo pelo IGC (Conselho Internacional de Grãos), o dobro do que o Brasil produz do grão.

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"Eles têm um problema de seca afetando o trigo, que começa a afetar outros grãos na formulação de rações. E isso chega ao Brasil, você já vê navios com milho saindo do Brasil e indo para a Europa", afirmou um trader de uma multinacional que atua no país e que não quer ser identificado.

O Brasil planta pouco mais de 30 por cento de sua safra de milho com grãos transgênicos, mas também são variedades que não enfrentam resistência no bloco europeu, o que não configura um problema para vendas à Europa, segundo as fontes.

Uma maior demanda por milho brasileiro em função de quebra de safra de trigo na Europa já foi vista no passado recente. Em 2007, o Brasil exportou um recorde de quase 11 milhões de toneladas justamente por ter contado com uma demanda adicional da Europa, que tomou cerca de 3 milhões de toneladas.

As vendas externas de milho do Brasil devem fechar julho em aproximadamente 500 mil toneladas, segundo a movimentação verificada nos portos brasileiros, e devem mais que dobrar para 1,1 milhão de toneladas em agosto, em parte pelos embarques para a Europa. Mas as fontes evitaram dar números sobre quanto representará a demanda europeia, que comprou no Brasil apenas cerca de 200 mil toneladas em 2009.

Leilões

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Já se esperava que os embarques ao exterior de milho do Brasil, que somaram apenas 2 milhões de toneladas no primeiro semestre, ressurgiriam no segundo semestre, podendo atingir cerca de 7 milhões de toneladas, impulsionados pelos leilões de PEP (Prêmio para o Escoamento do Produto), do governo brasileiro.

"Essa demanda extra casa com uma oferta extra do Brasil via leilões...", disse o trader, concordando que a situação é como se "casasse a fome com a vontade de comer", pois o país tem estoques volumosos --o Brasil, com uma forte indústria de aves e suínos, consome tradicionalmente cerca de 85 por cento de sua produção, estimada em 2009/10 em 53,5 milhões de toneladas.

Por meio dos leilões de PEP, o governo concede um prêmio que tem girado em torno de 80 reais por tonelada aos vencedores do leilão, que por sua vez pagam um valor mínimo (que cobre custos de produção) aos produtores. O PEP vem sendo disputado ativamente por tradings, que com os recursos conseguem arcar com custos de transporte das regiões mais distantes do país até os portos.

Nesta temporada, contratos para 7,8 milhões de toneladas já foram arrematados nos leilões, que devem prosseguir na próxima semana.

"É um ganho adicional (a Europa), não creio que vamos exportar 10 milhões de novo, tenho expectativa de 7 milhões (para o ano)", afirmou o analista Aedson Pereira, da AgraFNP, divisão brasileira do grupo Agra Informa, ressaltando que a maior parte das exportações ocorrerá pelos leilões.

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O governo brasileiro, entretanto, prevê um volume mais elevado para 2010, de 8,5 milhões de toneladas. No ano passado, o Brasil exportou 7,7 milhões de toneladas, principalmente para países do Oriente Médio e da Ásia.

Um corretor do Paraná, que também prefere ficar no anonimato, ressaltou que sem os PEPs as exportações seriam inviabilizadas, em meio a um câmbio persistentemente desfavorável. Ele disse que há compradores do cereal nacional por 178 dólares (FOB porto), mas o vendedor que não conta com o prêmio quer no mínimo 183 dólares por tonelada.

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