Navio é carregado com soja no Porto de Paranaguá: cotação do grão pode ser afetada pela crise internacional| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Análise

Embora mais fraca que a de 2008, crise deve piorar saldo da balança

A deterioração da crise internacional não afetou as transações internacionais do Paraná até agosto, mas é provável que isso ocorra nos próximos meses. A recessão na Europa, nos Estados Unidos e no Japão tende a reduzir os fluxos do comércio global, como ocorreu na "primeira rodada" da crise, entre 2008 e 2009, com efeitos na economia brasileira. Para o Paraná, os pontos críticos são as vendas de commodities agrícolas, em particular de soja, e de automóveis.

Por ora, não há indícios de que a retração provocada pelo segundo round da crise será tão forte quanto a primeira. Mesmo assim, a balança comercial do Paraná corre o risco de ficar ainda mais negativa do que já está. O motivo para isso é que, enquanto na virada de 2008 para 2009 quem mais sofreu foram as importações (que despencaram 34%, contra 26% de baixa nas exportações), desta vez as vendas ao exterior é que devem ser mais afetadas.

"Com a economia brasileira crescendo entre 3% e 4%, as importações devem se manter em patamares elevados, ainda que um pouco menores que os atuais. A conta que mais deve sofrer é a das exportações, sobretudo para mercados desenvolvidos", avalia o economista Marcelo Curado, professor da Universidade Federal do Paraná. Para ele, a recente valorização do dólar – que em tese ajuda os exportadores e encarece as importações – deve durar pouco.

Soja e automóveis

O desempenho das exportações do Paraná dependerá principalmente de dois fatores, segundo Curado: o preço das commodities agrícolas e a demanda externa por automóveis. "O rumo das commodities ainda é uma grande incógnita. A tendência que se desenha é que haja pelo menos uma suavização da tendência de alta das cotações", diz o economista. Um aspecto positivo é que a China, principal comprador da soja paranaense, ainda não dá sinais de que vá moderar o apetite.

A situação dos veículos é mais delicada. Os três principais clientes do Paraná lá fora são a Argentina (que compra 55% dos carros e peças exportados pelo estado), o México (9%) e a Alemanha (9%). As vendas para o mercado argentino crescem 7% em relação ao ano passado, mas estão sob constante ameaça de medidas protecionistas. Os embarques para o México já estão 12% menores neste ano, e as vendas para a Alemanha desabaram 56%. Dessa forma, o vigor das vendas do Paraná tende a depender muito da demanda de seis países sul-americanos (Peru, Chile, Paraguai, Colômbia, Uruguai e Equador) que, juntos, respondem por 18% das vendas do estado. (FJ)

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A alta dos preços e das vendas de produtos como soja e açúcar e a recuperação dos embarques de automóveis ajudaram as exportações paranaenses a crescer 22% em relação a julho e alcançar no mês passado a marca de US$ 1,822 bilhão – a mais alta para meses de agosto e a segunda maior da história, pouco abaixo da atingida em maio de 2008 (US$ 1,869 bilhão).

Mas o recorde não impediu que a balança comercial do estado voltasse a ficar negativa, após quatro meses de superávit. Isso porque as importações subiram ainda mais (29% sobre julho) e somaram R$ 1,880 bilhão, a maior cifra já registrada em um único mês. O resultado foi um déficit mensal de US$ 56 milhões nas operações de comércio exterior do estado, que se encaminha para fechar o ano com saldo negativo pela primeira vez desde 2000.

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De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a balança estadual acumulou um déficit de US$ 378 milhões entre janeiro e agosto, contra um superávit de quase US$ 800 milhões no mesmo período do ano passado. Como desde 2008 o estado mais importa que exporta nos últimos meses do ano, é grande a chance de que 2011 termine com déficit comercial.

Essa possibilidade vem se desenhando desde 2005. A partir daquele ano, as compras de importados passaram a crescer mais rápido que os embarques de produtos paranaenses, por causa da contínua desvalorização do dólar e da expansão da demanda doméstica. Esse movimento chegou a ser interrompido em 2009, por causa da crise internacional, mas foi retomado logo depois.

Nos oito primeiros meses deste ano, as vendas ao exterior cresceram 24%, ao passo que as importações saltaram 40%. Considerando-se as principais mercadorias importadas pelo estado, a expansão foi ainda mais forte: a entrada de veículos e peças, que já respondem por quase um quinto das compras do estado, disparou 59%, e a importação de aparelhos e instrumentos mecânicos – grupo que inclui bens como aparelhos de ar condicionado, telas para microcomputadores e até motores diesel – cresceu 45%.

Cotações em alta

Enquanto as importações são lideradas por produtos industrializados, de alto valor agregado, as exportações do estado dependem cada vez mais de produtos básicos ou com baixo grau de transformação, como grãos e carnes. Diferentemente do que ocorre com a produção industrial, cuja rentabilidade vem sendo corroída pela valorização do real, a maioria dos produtos do agronegócio paranaense tem se beneficiado do crescimento da demanda internacional e de cotações extremamente favoráveis.

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Apenas de julho para agosto, os preços médios da soja e do açúcar vendidos pelo Paraná subiram cerca de 3%. Nos oito primeiros meses do ano, as cotações médias desses produtos aumentaram 28% e 37%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado.

Industrializados

Embora o cenário seja pouco promissor para os manufaturados produzidos no estado, as exportações de veículos e aparelhos mecânicos tiveram bons resultados em agosto, com avanço em relação ao mês anterior e a agosto de 2010. Na soma dos oito primeiros meses de 2011, contudo, o desempenho desses dois grupos ainda é fraco. Os embarques de aparelhos mecânicos subiram apenas 7%, e os de veículos e peças diminuíram 8% na comparação com igual período do ano passado.