| Foto:

Relação lembra época do Brasil Colônia

A parceria comercial entre Brasil e China lembra, em alguns aspectos, a relação que o Brasil colonial mantinha com Portugal, a metrópole. Em ambos os casos, os brasileiros figuram como exportadores de matérias-primas e importadores de bens manufaturados – combinação que incomoda a indústria nacional e uma grande vertente de economistas, para os quais o Brasil está no rumo da "desindustrialização".

Leia a matéria completa

CARREGANDO :)
Veja também
  • Comércio exterior bate recorde em agosto
  • Governo vai cobrar taxa antidumping retroativa
  • Bank of China Hong Kong emitirá até US$ 15 bi em bônus

Independente de Portugal há 189 anos, o Brasil vem desenvolvendo, em suas transações com o exterior, uma dependência cada vez maior da China. O país asiático, que há dez anos era o sétimo maior importador de produtos brasileiros, comprando apenas 3% do que vendíamos a outros países, é hoje o principal cliente do Brasil lá fora: com um grande apetite por matérias-primas, absorve 17% de nossas exportações, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Em termos "contábeis", essa relação ainda é vantajosa para o Brasil, pois o país tem superávit no comércio com a China (mais exporta do que importa); no entanto, a parceria guarda ameaças ao desenvolvimento brasileiro.

Publicidade

O salto na participação chinesa foi provocado pelo vertiginoso crescimento do país asiático e também pelo encolhimento da demanda dos Estados Unidos e da Europa, afetados pelo tsunami financeiro de 2008/2009 e pela atual crise das dívidas. Ao menos por enquanto, para o bem da balança comercial brasileira, o avanço da China não dá sinais de exaustão: de janeiro a julho, os embarques para lá cresceram 46% em relação a igual período do ano passado, expansão bem superior à registrada nas vendas para todo o mundo (32%) e para países desenvolvidos (35%).

Mas há sinais de que em algum momento, talvez daqui a dois ou três anos, o governo chinês poderá agir para esfriar a economia – por lá a inflação também está alta, em torno de 6,5% ao ano – e para começar a mudar o próprio modelo de desenvolvimento do país. Algo que, se de fato for levado adiante, inevitavelmente afetará o Brasil. "Se o país que é nosso principal cliente passa por alguma dificuldade econômica, teremos uma perda de dinamismo em parte da nossa economia", diz Eduardo Coutinho, coordenador do curso de Administração do Ibmec-MG.

Ao contrário do brasileiro, o "modelo chinês" é sustentado por crédito barato voltado ao investimento e à exportação e pouco estímulo ao consumo doméstico. O 12.º Plano Quinquenal, que estabelece as prioridades do governo chinês para o período 2011-2015, busca aumentar a importância do consumo na economia, reduzindo o peso dos investimentos e exportações.

Consequências

Caso a China invista menos em infraestrutura, uma das primeiras vítimas será o minério de ferro, principal produto de exportação do Brasil. Se houver a contrapartida de um aumento do consumo, como planeja o governo chinês, os embarques de alimentos – como soja e carnes, importantes produtos da pauta brasileira – podem até ser beneficiados. Mas nada disso é consenso. Economistas que acompanham a questão se dividem: há os que duvidam que as lideranças chinesas tenham a disposição necessária para as mudanças, e há quem vislumbre, sim, uma retração do investimento, mas sem o correspondente aumento do consumo.

Publicidade

Qualquer que seja a hipótese correta, a dependência brasileira em relação à China já dá motivos para preocupação. "É um risco muito grande concentrar tanto as vendas em um país e um tipo de produto", diz o economista Ciro Burgos, professor do curso de Tecnologia em Gestão Financeira do Unicuritiba. "Isso nos deixa muito vulneráveis a qualquer mudança no humor do cliente."