Um dia após o Banco Central cortar inesperadamente em 0,5 ponto percentual a taxa Selic, para 12 por cento ao ano, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira que o futuro dos juros no Brasil dependerá do cenário externo.
"Dependendo do que acontece na conjuntura internacional, nós teremos um aumento ou uma diminuição (da taxa de juros). Não dá para você de forma muito antecipada prever isso", disse Dilma em entrevista a rádios de Belo Horizonte (MG).
Na noite de quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu o juro básico, contrariando a expectativa dominante no mercado financeiro de manutenção da taxa em 12,50 por cento.
Dilma explicou que cenários diferentes nas economias de Europa e Estados Unidos determinarão as ações do governo brasileiro, mas que "ninguém sabe como se comportará essa crise".
Segundo ela, os problemas econômicos atuais têm tendência de longa duração, "de dois anos para mais".
Repetindo discurso recente da equipe econômica do governo, Dilma reafirmou a capacidade brasileira de enfrentar a turbulência global, com reservas internacionais e depósito compulsório - parcela dos recursos dos bancos que fica presa no BC -, e disse que o "Brasil não tem porquê sofrer as consequências."
Autonomia e austeridade
O corte no juro, que interrompeu um ciclo de cinco altas seguidas, ocorreu dois dias após o governo ter elevado em 10 bilhões de reais a meta de superávit primário deste ano.
Após a decisão de elevar a economia feita pelo setor público para pagamento de juros, Dilma afirmou que a medida abria no "horizonte" a possibilidade de queda de juros.
A fala, na véspera da decisão do Copom, foi vista por analistas como pressão sobre o BC para redução na Selic. Nesta manhã, no entanto, Dilma afirmou que a autoridade monetária segue com autonomia em relação ao governo.
O governo estabeleceu uma verdadeira força-tarefa para pavimentar o caminho para que o país possa ter um patamar menor e consistente de juros básicos.
A decisão do Copom desta quarta-feira já foi um sinal disso, segundo fontes ouvidas pela Reuters, considerada um "ponto de inflexão". A perspectiva é de que a economia mundial não consiga se recuperar de maneira consistente pelos próximos dois a três anos, abrindo espaço para cortes nos juros.
Dilma disse que, diante da crise, o governo terá de demonstrar austeridade, sem afetar os investimentos públicos e a verba destinada a programas sociais.
"O governo tem de dar exemplo de austeridade, no que não se referir a investimento e gastos com programas sociais".
"Temos de nos fortalecer economicamente, melhorar a gestão pública, aumentar a nossa relação de melhoria do gasto", disse.
Para 2012, o governo prevê no Orçamento 165,3 bilhões de reais em investimentos, total 8,3 por cento maior do que em 2011.