Na primeira vez que ouviu falar sobre bicicletas elétricas, Victor Hugo Cruz estava no último semestre do curso de Engenharia Mecânica, em 2012. Começou a pesquisar, participar de fóruns, ver as novidades que, até então, só existiam fora do Brasil e foi ficando cada vez mais empolgado com as bikes. Quando se formou, decidiu que ia desenvolver uma, do zero. Hoje, Cruz é CEO da Vela Bikes, fabricante de bicicletas elétricas que prevê faturamento de R$ 5 milhões para 2018.
Foram dois anos até ter o primeiro protótipo funcional – a princípio, o engenheiro pensou que conseguiria o feito em apenas seis meses. Cruz mostrou o resultado para alguns amigos e um deles sugeriu o que viria a viabilizar a bicicleta e fazer nascer a startup Vela Bikes: um financiamento coletivo.
Cruz e o amigo, que virou sócio, fizeram um vídeo, umas fotos bacanas e deram o início ao financiamento em 2014, com a meta de arrecadarem R$ 35.765, que foi superada com o apoio de 90 pessoas que, juntas, pagaram R$ 45.240. Havia ali uma oportunidade clara de negócio. “Recebemos pedidos de pessoas que nem nos conheciam e confiaram no projeto, se interessaram. E do nosso lado, tudo precisou se profissionalizar, porque tínhamos a responsabilidade de entregar os pedidos”, conta Cruz.
Antes de entregar a primeira bicicleta, já eram 80 unidades compradas ou reservadas. A oficina ficava no fundo de uma galeria no bairro de Pinheiros, em um espaço de 30 m². Em 2015, foram para uma loja um pouco maior, com 200 m². Dois anos depois, se mudaram para um galpão de 400 m², onde funciona atualmente a fábrica. Agora se preparam para irem para uma nova fábrica, cinco vezes maior que o atual galpão. “Nosso crescimento está muito atrelado à demanda, crescemos conforme aumenta interesse das pessoas por buscar uma nova opção de transporte”, diz Cruz.
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E o financiamento coletivo não foi só a maneira de começar os negócios, mas também garantiu o aumento da capacidade produtiva da Vela. Quando começaram a produzir as bicicletas, alguns clientes que já haviam apoiado o projeto demonstraram um interesse especial.
“Eram clientes que nos conheciam, visitavam a oficina, acompanhavam a produção. Quando fizemos uma rodada de captação de investimentos, foram eles que investiram na empresa”, conta Cruz. Estes investidores-anjo, inclusive, passaram a fazer parte da startup, que agora tem oito sócios.
Uma nova captação foi feita no último mês de junho e, ao todo, a Vela já recebeu R$ 2,6 milhões em investimentos.
Para incentivar a experiência do usuário, a Vela Bikes também investe em lojas físicas
Atualmente, a Vela comercializa suas bicicletas elétricas pela internet, em seu site, e em três lojas físicas localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Curitiba será a próxima cidade a ter uma loja, que ficará na Al. Prudente de Moraes e será inaugurada ainda em 2018. No ano que vem será a vez de Belo Horizonte ganhar uma loja da Vela.
Segundo Cruz, as lojas físicas são importantes porque permitem que o cliente experimente a bicicleta, faça um teste-drive e veja como ela funciona, tirando as dúvidas que existem sobre um produto que ainda é novidade por aqui. A Vela permite que o interessado passe um dia com a bicicleta. “”Nosso modelo de loja é a PocketShop, que é mais enxuta e não precisa de um espaço muito grande, nem de estoque abarrotado ou custos operacionais elevados”, explica Cruz.
Além disso, o ponto físico oferece manutenção e assistência técnica, o que preocupa muitos clientes. “Eles têm medo de não encontrarem alguém que saiba mexer na bicicleta caso aconteça alguma coisa. Com a loja física, o cliente fica mais seguro porque tem um ponto de confiança”, diz o CEO.
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São dois modelos de bicicleta, uma versão mais simples e uma mais completa, e também com a opção de quadro reto ou baixo. A Vela S é a mais simples e sua bateria tem autonomia uma pouco mais baixa, sendo recomendada para quem faz trajetos mais cursos, entre 5 km e 10 km. Em compensação, é uma bicicleta mais leve, pesando 18kg. Ela sai por R$ 4.890.
Já a Vela 1 é o modelo completo, tem autonomia para andar 40 km, vem com faróis de LED dianteiro e traseiro e o cliente pode escolher entre 13 cores e acabamento fosco ou brilhante. Também é possível personalizar a cor dos paralamas e do protetor de correntes, além de escolher a cor e a largura dos pneus. Ela pesa entre 19 kg e 23 kg – outras bicicletas elétricas disponíveis no mercado pesam entre 28 kg e 30 kg. Este modelo sai por R$ 5.890.
As duas versões, que têm estilo retrô, vêm com motor de 350W de potência e as bikes chegam a 25km/h, limite máximo permitido para circular nas ciclovias. Os modelos também vêm com sistema de alarme e entrada USB para recarga de aparelhos. A bateria de lítio e a fiação ficam embutidos em um cilindro no quadro da bicicleta.
Cruz também destaca como diferencial a possibilidade de o cliente escolher entre cinco geometrias de quadros, desenhadas para pessoas de diferentes alturas, atendendo tanto quem tem 1,50 m, como quem tem 2 m de altura. “Isso faz diferença na prática, quando o condutor precisar encarar subidas, descidas, buracos ou até carregá-las em escadas”, frisa.
E se em um primeiro momento o preço das bikes parece um pouco salgado, ainda mais se comparado a uma bicicleta comum, Cruz acredita que a partir do momento que ela é vista como um meio de transporte e opção para o carro, a moto e o transporte público, o valor agregado aumenta. A compra também pode ser parcelada em 12 vezes no cartão de crédito.
Vela deve zerar fila de espera por bikes até o fim de 2018
A fila de espera é uma realidade para a Vela desde o início, mas a startup espera zerar a fila até o final deste ano, com ajuda dos investimentos feitos nos últimos meses na fábrica e no aumento da produção. A capacidade produtiva atual é de 120 a 130 bicicletas por mês, enquanto vendem cerca de 80 unidades mensalmente. O prazo para produção é de 60 a 90 dias, mas com a mudança para a nova fábrica, esperam diminuir este tempo para no máximo duas semanas.
Em São Paulo, onde a startup atua há mais tempo, Cruz conta que os clientes costumam ter entre 25 e 35 anos e geralmente buscam a bicicleta como uma opção para o transporte no dia a dia, para irem ao trabalho. “Há também uma procura muito grande por cadeirinha para criança, acessório que também vendemos, o que mostra como jovens com filhos pequenos também aderiram a este meio de transporte”, diz.
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Outra fatia do público também é formada por pessoas um pouco mais velhas, na casa dos 50 anos e que normalmente estão em busca de mais qualidade de vida. “Aqueles que trabalharam uma vida inteira e, nesta fase da vida, começam a tomar decisões com base neste quesito de qualidade. Querem sair do engarrafamento, se locomover de maneira mais agradável, estar mais em contato com a cidade, com a natureza”, afirma o fundador.
A Vela espera faturar R$ 5 milhões em 2018, mas ainda não opera em lucro. A expectativa é que comecem a lucrar em 2019. Cruz conta que o próximo passo, ainda sem prazo definido, é levar a produção para a Zona Franca de Manaus, o que diminuiria os custos em produção e tornaria o produto mais competitivo.
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