Mesmo com a crise dando sinais de "trégua" em vários países, a recuperação do setor de aviação ainda deve demorar, de acordo com especialistas ouvidos pelo G1. Devido à demora de alguns anos entre o momento em que as companhias aéreas fazem pedidos de aviões e a entrega destes, o impacto da crise econômica continuará a ser sentido nos próximos anos pelas fabricantes de aeronaves.

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Da mesma forma, a retomada dos pedidos que começa a ser percebida só vai gerar frutos depois de 2011. "As vendas bateram recorde em 2009 e devem aumentar novamente em 2010, ainda que a taxa de crescimento seja bem menor do que vimos nos últimos anos. Depois disso, os efeitos da recessão [pedidos menores] vão entrar em jogo de forma mais forte", diz Bill Chadwick, diretor de pesquisas aeroespaciais da Associação das Indústrias Aeroespaciais (AIA) dos Estados Unidos.

"As vendas devem se estabilizar e depois cair por um período de tempo", diz Chadwick, que considera, porém, que "a severidade e a duração dessa queda são difíceis de prever".

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O especialista norte-americano explica que "mudanças na direção deste mercado [aviação] são como mudanças na direção de um navio gigante: elas não são evidentes por algum tempo". Segundo ele, nos últimos meses os pedidos de aeronaves, que eu vinham crescendo nos últimos anos, vêm tendo grandes mudanças. "A crise econômica global chegou. Desde então, vimos o número de cancelamentos e adiamentos [de entregas de aeronaves] aumentando."

Entretanto, o professor Edson Gaspar, coordenador do curso de Aviação Civil da Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo, já vê sinais de recuperação no mercado. "Muitos pedidos que haviam sido cancelados já estão sendo retomados", diz ele. "Já paramos de cair e foi iniciada uma retomada ao crescimento."

"Mesmo com notícias altamente positivas, a recuperação completa do setor, fazendo com que retorne ao "momento pré-crise", somente ocorrerá após 2011", alerta Gaspar.

Brasil

A Embraer, que fez 40 anos na última quarta-feira (19), teve lucro maior no segundo trimestre deste ano, mas demonstrou preocupação com sua carteira de pedidos. O vice-presidente de relações com investidores da Embraer, Luiz Carlos Aguiar, disse que há uma tendência de redução da carteira de pedidos da Embraer até o final do ano.

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"Ainda é cedo para dizer. As vendas estão num ritmo muito baixo. Estamos preocupados com o caixa e não houve retomada dos segmentos comercial e executivo, que puxaram o crescimento nos últimos anos. Não há nada para celebrar em se falando de novas demandas", disse ele, na ocasião da divulgação dos resultados mais recentes da companhia.

No Brasil, Gaspar vê perspectivas melhores: "O mercado está se aquecendo devido à entrada de novas empresas aéreas, como é o caso da Azul, a recuperação das linhas aéreas regionais, como a Trip, e a entrada definitiva da Webjet", diz. "Esse segmento promete se aquecer ainda mais em 2010 com a promessa de investimentos da Avianca em sua ‘parceira’ brasileira, a Ocean Air."

Tendências

Para Chadwick, da AIA, nos próximos anos os modelos de aeronaves comerciais mais vendidos devem ser os de em torno de 150 lugares. O maior modelo da Embraer, o ERJ-195, tem capacidade para até 122 lugares.

No entanto, ele prevê demanda por aviões como o Boeing 787 (de 210 a 290 lugares, aproximadamente, dependendo do modelo e da configuração) e o Airbus A350 (de 270 a 350 lugares). "O mercado parece querer aviões de cerca de 250 lugares para voar tanto distâncias curtas quanto distâncias longas", diz ele.

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Gaspar prevê crescimento do segmento de Very Light Jets (VLJs), que geralmente têm até dez lugares. "São aviões pequenos e de baixo custo que, devido ao seu grau de automatização, possibilitam a operação com apenas um piloto. Existe uma tendência mundial de aumento significativo das vendas nesse segmento", diz ele. "A Embraer é um dos grandes fabricantes e investe pesado no lançamento da família Phenom."

Chadwick, porém, vê dificuldades para no segmento de jatos executivos nos próximos anos. "O ciclo dos jatos executivos é muito correlacionado, com atraso de um ou dois anos, com os lucros das empresas. Isso significa que, mesmo quando a recessão terminar, não vamos ver aumentos significativos nos pedidos por um ano ou dois", diz ele. "Os mercados primários para jatos executivos ainda nem saíram da recessão, indicando que a recuperação neste setor ainda está longe."