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Fabricantes de celulares se preparam para possíveis turbulências da crise

NOKIA N96: aposta em multimídia e na integração com serviços de internet | Divulgação
NOKIA N96: aposta em multimídia e na integração com serviços de internet (Foto: Divulgação)

Soava até paradoxal. Em meio à crise econômica que assola o planeta, uma feira de novidades mais se assemelhava a um oásis no meio do deserto. Enquanto as bolsas de valores despencavam mundo afora, fabricantes, operadoras e integradores de soluções demonstravam aparelhos topo de linha para uma platéia ávida por produtos hi-tech. Esta foi a tônica da versão 2008 da Futurecom, principal evento do setor que este ano teve São Paulo como sede, em vez da ensolarada Florianópolis.

Apesar do momento conturbado, para os fabricantes presentes no evento o momento parecia ser 1) de contar os estoques acumulados antes do aumento do dólar; 2) de manter o discurso otimista para tranqüilizar as operadoras e, por conseguinte, os clientes destas; 3) de sinalizar ao mercado que 2009 pode, sim, começar com um leve aumento nos preços dos terminais, uma vez que a maioria absoluta dos componentes é importada.

Nokia despeja lançamento e inaugura loja em São Paulo

No meio disso tudo, a primeira boa notícia veio da Nokia. A líder de mercado parece estar em excelente forma, despejando lançamentos - como os festejados N96, o 7610 Supernova, o E66, o 6600 Fold, o 6210 Navigator e o 2680 Slide - e inaugurando, em São Paulo, a primeira (e, provavelmente, a única) Nokia Store do país.

De acordo com o presidente da Nokia no Brasil, Almir Narcizo, no apagar das luzes de 2008 o mundo terá nada menos que 4 bilhões de celulares. Destes, 1,2 milhão são da Nokia, de acordo com dados da consultoria internacional Informa. No mundo, a participação de mercado da marca é de 38%; no Brasil, de acordo com dados da Nielsen, a Nokia tem 33% de mercado, atuando em 12 segmentos diferentes de públicos - dos Tech Leaders (adeptos da alta tecnologia) ao público que só quer celular para falar.

Mesmo estando em posição tão confortável, a Nokia está se preparando como pode para enfrentar a crise.

- A crise vai afetar todas as empresas de todos os países. Ninguém está imune. Mas ela (a crise) vai afetar os países de maneiras diferentes. O Brasil vai passar com sofrimento e sacrifícios, mas há empresas com estrutura financeira sólida, que aplicam de forma conservadora e não precisam de financiamento. Este é o caso da Nokia do Brasil - diz.

Para se adiantar aos possíveis efeitos da crise, em setembro deste ano a Nokia procurou as operadoras para reabrir as negociações.

- Mas nossas fábricas continuam trabalhando a plenos vapores, em três turnos, acreditando que esse pico cambial seja apenas um pico. Mas, se perdurar, poderemos ter, sim, revisão de preços, já que 90% dos nossos custos são em dólar.

Nokia prevê crescimento zero de vendas ano que vem

Em vendas de aparelhos, o presidente da Nokia prevê crescimento zero para o ano que vem; este ano, foram vendidas 52 milhões de unidades, mesmo número esperado para 2009. Em 2007, foram vendidas 44 milhões de unidades, segundo dados da Teleco.

A boa notícia é que de 2007 para 2008 houve um aumento de 24% nas vendas de celulares para os chamados Tech Leaders. E é pensando nesse público que a Nokia, assim como suas concorrentes, decidiu aproveitar a Futurecom para antecipar seus anúncios para antes do Natal.

A HTC, por exemplo, apresentou, na Futurecom, o modelo Diamond, uma jóia no nome e na aparência. O aparelho usa a tecnologia TouchFLO 3D, interface de toque criada pela fabricante para interação com as diversas funções, em terceira dimensão, e com acesso animado. O modelo tem tela LCD sensível ao toque com 2,8 polegadas, câmera integrada de 3.2 megapixels com foco automático e vídeo conferência, além de memória interna de 4Gb, 256Mb de memória flash, 192Mb de memória RAM, Bluetooth 2.0, Wi-Fi e GPS integrado.

Os mais pessimistas diriam que a alta do dólar poderia vir a prejudicar principalmente àqueles fabricantes que trabalham prioritariamente com produtos importados, como é o caso da HTC. Por incrível que pareça, dela veio o maior sinal de otimismo. Ao lançar o smartphone HTC Touch Diamond, a companhia mostra que tem plena confiança no poder de compra de uma classe mais favorecida. De acordo com Allan Macintyre, diretor de marketing da HTC América Latina, há sim uma revisão nos números da companhia. Mas eles foram para cima, não para baixo.

- Há muita especulação e incerteza. Fica complicado saber como será o ano que vem. Pode haver um crescimento menor na categoria (smartphones), mas o mercado vai continuar crescendo. Retração neste mercado é que não vai haver. Não sentimos que vai ser esse drama todo. Vemos como uma crise aguda, mas o dólar agora voltou ao patamar de um ano, um ano e meio atrás - diz.

O Diamond é a estrela - ok, ok, a jóia da coroa - mas não é a única novidade no portfólio da HTC. Na Futurecom foram apresentados os modelos Touch Dual, Touch Cruise e o mini-computador HTC Shift.

LG apresenta aparelhos touchscreen

Outra que preferiu apostar em produtos topo de linha mesmo no meio do olho do furacão foi a LG, que lançou dois modelos durante a Futurecom. O primeiro é mais "popular" e tem o sugestivo nome de Cookie (biscoito), com preço sugerido de R$ 700. Já o segundo, topo de linha, foi batizado de Renoir (R$ 1.799).

Os dois tiram partido do touchscreen como estratégia de sedução. O Cookie tem 106,5 x 55,4 x 11,9mm de dimensão e pesa 89 gramas. Assim como o iPhone, ele permite rotacionar a tela touchscreen da vertical para a horizontal (o nome do recurso é auto rotation display) e ainda tem canetinha Style para reconhecimento de escrita. Usa ainda um sensor de movimentos para fotos, vídeos, mensagens e acesso à internet. A câmera é de 3 megapixels e o modelo traz ainda MP3 player, cartão de 1Gb, rádio FM e Widgets que podem ser arrastados para customização da área de trabalho.

Com o Renoir, a LG quer não só competir com o iPhone como seduzir os tais Tech Leaders (termo criado pela Nokia, diga-se). Pesando 110 gramas num corpinho de 13,95 de espessura, o aparelho é um celular hi-tech que traz câmera de 8 megapixels com lente Schneider Kreuznach com flash Xenon. Faz vídeo com opções de slow motion e fast motion, além de trazer tecnologia anti-ruídos (noise free video recording).

Além da câmera turbinada, o modelo traz ainda uma novidade: é o primeiro celular do mundo a usar MP3 player com uma nova tecnologia chamada Dolby Mobile for Music, que garante melhor experiência de som. A tela do Renoir também permite customização de widgets. O modelo ainda traz A-GPS (GPS assistido), é 3G HSDPA e tem Wi-Fi.

A grande sacada do modelo, no entanto, está na câmera, que traz novidades como detector de rostos, detector de sorrisos, detector de piscadas, remoção de olhos vermelhos e um filtro de imperfeições, espécie de Photoshop embutido, além de estabilizador de imagem e uso de localização geográfica das fotos (Geo Tagging), que evita aquela desagradável sensação de você não saber onde algumas fotos foram feitas. De quebra, o aparelho reproduz Dvix e XIVD. Traz ainda um Google Pack (Youtube, Blogger, Gmail e Maps).

Mas será que vale a pena trazer um aparelho tão techie num momento em que o câmbio anda desfavorável e o crédito, ameaçado? De acordo com Joe Takata, responsável pela área de produtos da LG Brasil, apesar de a empresa trabalhar com componentes importados (e fabricação local), a crise ainda não mostrou a que veio.

- Estamos acompanhando o momento. O mercado está com estoques criados ainda com taxas favoráveis. Não descartamos aumento de preços, mas ninguém sabe a extensão da crise ainda. Preferimos aguardar os próximos dias. Temos mecanismos de defesa em situações de crise. Por isso, esperamos um Natal favorável, não inferior em número de volume de celulares vendidos - diz Takata. - Se compararmos com o crescimento do ano passado, concordamos com o Almir (Narcizo, presidente da Nokia). Se empatar, está bom.

Samsung também entra na onda do touchscreen

No estande da Samsung, brilhava a estrela do Omnia, modelo touchscreen - uma tendência irreversível - que também aposta na personalização da área de trabalho. Outra sacada foi a inserção de novas funções em sua câmera integrada. Neste caso, em 5 megapixels de resolução, com novidades como Face Detection e Smile Shot, além de estabilizador de imagem, auto-foco e a tal tecnologia WDR (Wide Dynamic Range), que reduz os efeitos desagradáveis de contraluz.

O aparelho também foi pensado para atuar pesado na área de vídeo. Usa a tecnologia DivX (capaz de reproduzir vídeos com qualidade de DVD) e permite o armazenamento de vídeos completos. A memória interna ajuda um pouco no processo - tem 8Gb. Outra função que se tornou uma constante é o Rádio FM, que o iPhone não tem.

De acordo com José Roberto Campos, vice-presidente executivo da Samsung, a indústria ainda está medindo os possíveis efeitos da crise, que devem recair principalmente na área do crédito. Ou seja, os maiores prejudicados podem ser aqueles consumidores que compram aparelhos mais baratos e financiados em muitas vezes em lojas de varejo.

- Tudo indica que a economia vai se estabilizar. Pode haver um ajuste de preços, mas o mais importante não é o preço do dólar, mas o impacto no crédito, por conta do subsídio que na maior parte das vezes é feito em cima dos produtos midle end (nem muito caros nem muito baratos). Até agora os aparelhos vêm sendo vendidos em 10, 12 parcelas. Isso pode mudar. No Natal o efeito será mínimo, mas o ano que vem vai depender da situação do crédito - diz José Roberto. - É preciso usar este momento para aumentar a competitividade. Os fabricantes podem tentar minimizar a crise, mas não há mágica.

Motorola aposta em aparelhos mais baratos

Enquanto isso, a Motorola continua sua estratégia de apostar em aparelhos mais baratos, mesmo que para isso tenha que abrir mão do 3G. Em todo o portfólio da companhia disponível no Brasil, há apenas um modelo 3G. Por outro lado, tem mostrado fôlego nos modelos musicais e nos acessórios Bluetooth, como fones de ouvido. Para não ficar muito atrás no terreno dos celulares de luxo, apresentou uma edição especial do V9, o Ferrari, que é 3G, com design ultrafino e detalhes com a escuderia italiana.

No terreno dos celulares, a Motorola mostrou, na Futurecom, o modelo Motozine Z10, que traz como diferencial o fato de permitir a captura de imagens e a edição destas dentro do próprio aparelho, eliminando assim a figura do computador. O usuário ainda pode enviar as fotos diretamente para programas na internet como o YouTube, o Flickr e Blogger, outra tendência que se fez presente na maior parte dos estandes.

A câmera do Z10 é de 3.2 megapixels e o formato do aparelho é outro diferencial: quando a parte da frente do aparelho é deslizada para cima, o modelo se curva e se adequa ao formato do ouvido do usuário. Talvez a grande novidade do estande, no entanto, tenha sido o Motozine ZN5, que traz uma câmera Kodak de 5 megapixels.

Outro modelo que ganha versão repaginada do popular A1200, que agora, em versão mais turbinada, ganha a letra E no final do nome. Na Futurecom ainda estava à mostra o Q11, smartphone voltado para o público jovem. Por último, a empresa apresentou o Motovision, uma câmera para ambientes domésticos que manda imagens direto para o celular.

RIM procura dar maior destaque para a marca

Para a canadense RIM (Research in Motion), que também tinha estande recheado de novidades na Futurecom, o momento é de tentar um maior destaque para a marca, uma vez que a empresa é mais conhecida pelo nome de seu produto principal, o BlackBerry. Tarefa complicada, uma vez que o produto virou praticamente sinônimo de email móvel - a tradição do Push Mail, copiada por todas as outras fabricantes, nasceu em aparelhos BlackBerry, desenvolvidos pela RIM.

Na feira, a canadense apresentou três lançamentos: o BlackBerry Bold 3G, o BlackBerry Pearl 8220, primeiro da marca em formato flip, e uma nova versão para Nextel, o modelo 8350i.

Segundo Henrique Monteiro, gerente de produtos da RIM para a América Latina, a crise ainda não foi sentida pela empresa.

- Existe um tempo de maturação da crise. Temos estoque nas operadoras. Ainda é cedo para avaliar o impacto, mas acreditamos que ele será sentido mais a longo prazo - diz.

Enquanto isso, a empresa estuda a possibilidade de começar a fabricar produtos na América Latina (por enquanto, todos são importados).

Até pouco tempo, clientes de operadoras que optavam pela compra de um BlackBerry precisavam pagar, além de um pacote de dados, um pacote BlackBerry, o que acabava tornando a contratação dos planos cara demais. Recentemente, a RIM lançou, junto com a TIM, uma assinatura BlackBerry Zero, para aqueles que têm pouco consumo de email e tráfego de dados. Paga-se apenas um plano de dados e não mais um pacote de uso do BlackBerry.

No frigir dos ovos, a Futurecom deixou claro que os fabricantes estão alinhados com o discurso de que é necessário ir além das funções multimídia para agradar ao consumidor. Por isso, correm atrás de estratégias para incrementar os aparelhos com aplicativos baixados, por exemplo, através da internet, de forma a tornar a experiência com os produtos a mais rica possível.

A estratégia, diz o estudo "Go Mobile, Grow", realizado pela IBM, está no caminho certo. De acordo com o relatório, elaborado pelo Institute for Business Value (IBV) da IBM, 80% dos clientes preferem que os provedores possibilitem a eles mais poder de escolha dos aplicativos e serviços oferecidos nos dispositivos móveis.

Foram entrevistados quase 700 clientes ao redor do mundo sobre suas preferências em relação ao acesso da internet móvel. A análise revela ainda que 69% dos entrevistados querem dispositivos abertos à personalização e à configuração de aplicativos.

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