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Análise

Facebook faz jogo de ataque e defesa

Kevin Systrom, o CEO do Instagram (à direita), e Mike Krieger, brasileiro cofundador da empresa, vão receber, juntos, US$ 500 milhões pela venda da companhia | Peter DaSilva/The New York Times
Kevin Systrom, o CEO do Instagram (à direita), e Mike Krieger, brasileiro cofundador da empresa, vão receber, juntos, US$ 500 milhões pela venda da companhia (Foto: Peter DaSilva/The New York Times)

É loucura que o Facebook, uma companhia startup que ainda não abriu suas ações para o público, esteja dando US$1 bilhão pelo Instagram, uma startup ainda mais nova?

Para alguns, o preço do negócio, anunciado na se­­gun­­da-feira da semana passada, é ainda outra prova da bolha na indústria tecnológica, sobretudo porque o Ins­­tagram, um aplicativo móvel que permite que as pessoas compartilhem fotos de seus smartphones com seus amigos, ainda não tenha obtido receita alguma.

Mas a história do Vale do Silício sugere que compras caras de startups por outras startups pode não ser sempre algo assim tão louco.

Em 2001, a startup quente que havia acabado de se tornar um gigante era o eBay, na época um serviço de leilões online. Ele havia comprado uma companhia pequena de pagamento online, o PayPal, por US$1,5 bilhão. A divisão do PayPal do eBay atualmente rende quase tanto lucro quanto as mercadorias do eBay.

Em outubro de 2006, um ano após abrir suas ações ao público, o Google pagou US$1,6 bilhão pelo YouTube, um site de upload de vídeos sem receita e com pouca perspectiva de lucros. Na época, o preço fez com que alguns ficassem com a pulga atrás da orelha. Mas o You­­Tube dominou a competição e se tornou uma plataforma de publicidade online significativa para o Google.

Reid Hoffman, co-fundador do PayPal que depois fundou a rede social LinkedIn, disse numa entrevista feita na terça-feira que as aquisições foram feitas, em parte para ganhar algo de valor, mas também para afastar a competição. "A história nos mostra que, na maior parte das vezes, as empresas fracassam, mas são muito valiosas quando prosperam", ele afirmou. "Há sempre a questão mista da oportunidade e da ameaça".

Novas e quentes empresas de tecnologia precisam estar sempre cientes de sua mortalidade. Considerando que muitas começaram ferindo gigantes mais antigos da tecnologia, elas sabem que podem ser mortas, ou pelo menos seriamente feridas, pelo que habita os escritórios alugados do Vale do Silício – empresas mais novas e mais quentes de tecnologia.

Em parte é o medo que alimenta a lógica por trás dis­­so: Devore a nova startup antes que ela o devore, ou antes que um competidor a pegue. E continue aumentando o seu alcance se quiser se manter relevante.

"Eles farão qualquer coisa que puderem para manter os clientes – isso é extremamente valioso para essas empresas", disse Len Lodish, professor de marketing da Faculdade Wharton na Uni­­versidade da Pensilvânia.

Nova área

Desse modo, a aquisição do Instagram pelo Facebook faz parte dos esforços para entrar numa nova área antes de seus rivais. Como o You­­Tube e o PayPal fizeram pelo Google e eBay, o Instagram oferece algo de que o Facebook necessita desesperadamente. O aplicativo Ins­­tagram oferece um modo fácil de fazer upload de fotos em aparelhos móveis, uma tarefa difícil para o aplicativo móvel do Facebook.

Não faz mal que o Insta­­gram não faça nenhuma pro­­messa imediata de ganhar dinheiro. Segundo Da­­vid Char­­ron, que dá aulas de em­­­­preendedorismo na Es­­co­­la de Negócios Haas da Uni­­versidade da Califórnia, em Berkeley, o Facebook teve de fazer outros cálculos antes de abrir ao público, que espera-se que aconteça nos próximos meses, e antes de confrontar novas pressões de donos de ações impacientes.

Esses cálculos serviram para determinar se o bilhão de dólares valeria a pe­­na para garantir que o Ins­­tagram não afastaria usuários do Facebook.

Mas no mundo imprevisível do Vale do Silício, às vezes comprar o novo competidor não funciona.

Na primavera de 2005, o Yahoo, na época ainda uma grande empresa em busca e mídia online, comprou o Flickr, um site de upload de fotos. Um porta-voz do Ya­­hoo o descreveu, então, como parte da "próxima geração de serviços online".

No entanto, o Yahoo tem definhado, e o Flickr fracassou em inovar e acompanhar as mudanças em redes sociais, compartilhamento de imagens e aparelhos móveis. Hoje, o Yahoo se encontra se­­riamente desafiado pela próxima geração de serviços on-line.

A News Corp., uma empresa de mídia tradicional, pagou mais de US$ 580 milhões pelo MySpace em 2005, quando era a rede social dominante. A News Corp. vendeu o MySpace no último mês de junho, após seus usuários terem migrado, principalmente para o Facebook. O preço: US$ 35 milhões.

Um desafio para o Face­­book será manter os usuários do Instagram felizes. Na terça-feira, alguns expressaram temores de que o aplicativo seria destruído pelo novo dono.

"Parabéns pela compra..." escreveu um usuário atendendo pelo nome de "monkm". "Eu devo acrescentar, porém, que a maioria de nós do IG [Instagram] estamos aqui porque aqui não é o FB [Facebook]".

E um comentário especial­­mente venenoso escrito por um usuário de nome "brianbrutal" dizia: "Fique aí sendo dono do Facebook. A gente não quer você no Instagram". O comentário foi apagado.

Mas muitas pessoas deram boas vindas a Mark Zu­­ckerberg, o fundador do Facebook, quando ele compartilhou uma foto de seu cão, Beast, dando ao animal de estimação um momento de fama. Era apenas o quarto "post" de Zuckerberg no Instagram desde que ele entrou no serviço em outubro de 2010.

Tradução: Adriano Scandolara

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