Pegas de surpresa pelas novas – e mais rígidas – regras do Fies, o fundo de financiamento estudantil, as universidades particulares encontraram no crédito privado uma alternativa à demanda reprimida de milhares de estudantes que não conseguiram o crédito do governo federal. Em alguns casos, as instituições se propõem a subsidiar até 100% dos juros do financiamento para garantir a permanência dos alunos matriculados.
INFOGRÁFICO: Simulação mostra que financiamentos das universidades são mais vantajosos que o Fies
Correção
O texto original da reportagem continha uma incorreção sobre a taxa de juros do Pravaler subsidiada pelas universidades. A taxa média cobrada do estudante é de 1,35% ao mês e não ao ano, como publicado inicialmente. O texto já foi corrigido.
60%
dos alunos da Uninter que tentaram o Fies aderiram ao crédito privado. “Há uma demanda reprimida e queremos viabilizar a permanência dos alunos com crédito privado, bolsas, seguro matrícula e outras opções”, diz o reitor da instituição, Benhur Gaio.
57%
deve ser a redução do número de novos contratos do Fies neste ano em comparação a 2014. Serão 314 mil estudantes beneficiados , 61,5 mil no segundo semestre Em 2014, o governo concedeu R$ 13,7 bilhões pelo programa e fechou 731 mil contratos.
As inscrições para o Fies do segundo semestre foram encerradas na última quinta-feira (6) e os novos contratos firmados neste ano devem cair pela metade em relação a 2014. No primeiro semestre,178 mil pessoas tiveram o financiamento recusado. Com isso, instituições de ensino privadas tiveram de se adaptar rapidamente para não perder matrículas. “O maior prejudicado foi o estudante que se matriculou contando com o financiamento e teve sua expectativa frustrada. Houve um transtorno muito grande para a sociedade e as instituições”, diz o diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, Sólon Caldas.
“Todo o processo foi muito simples”
Recusado pelo Fies por causa da renda acima do permitido, o estudante Leandro Marques Melquíades (foto) já estava matriculado no curso de Engenharia Elétrica na Estácio quando descobriu que a faculdade oferecia o Pravaler e arcava com todos os juros. “Era tão bom que parecia mentira. Todo o processo foi muito simples. Até poderia pagar sem financiamento, mas, na atual situação, preferi garantir o crédito a ficar descapitalizado e, eventualmente, precisar interrompê-lo em função de algum imprevisto”, diz. “Sabíamos que era um momento de incertezas e quisemos garantir uma alternativa. Não há uma cultura forte de financiar ensino superior e isso não vingava principalmente em função dos juros, por isso decidimos subsidiar”, afirma George Neiva, diretor comercial do Grupo Estácio, um dos maiores em ensino superior do país.
Segundo Viviany Silva, coordenadora do setor de bolsas e financiamentos das Faculdades Opet, as instituições, que até faziam campanhas divulgando a facilidade do Fies, tiveram de pensar em alternativas. A faculdade, por exemplo, aumentou para 200 vagas o programa Fic Opet, que financia 50% da mensalidade, além de firmar parceria com o Pravaler, maior crédito educacional privado do país. “Ampliamos as vagas do financiamento interno para não deixar desassistidos os alunos que já estavam matriculados”, diz.
Com 200 instituições parceiras no país e 12 no Paraná, o Pravaler, programa da Ideal Invest, financia 100% da mensalidade e as universidades subsidiam integral ou parcialmente os juros – que, neste último caso, têm taxa média de 1,35% ao mês para o universitário. “É um esforço para que o aluno tenha oportunidade nesse momento que o país atravessa”, diz Afrânio Custodio Júnior, diretor de Marketing da Universidade Tuiuti, também parceira do Pravaler. No programa, o estudante paga 50% da mensalidade, durante o dobro do tempo de duração do curso.
Procura cresce
Segundo Rafael Baddini, diretor de marketing da Ideal Invest, a busca de instituições e alunos pelo financiamento do programa disparou neste ano. “A procura aumentou em sete vezes.” Atualmente, o Pravaler está disponível para mais de 2 milhões de pessoas. “O programa do governo não absorveria toda essa demanda e o crédito privado aparece para ampliar o acesso do público ao ensino superior”, diz Rafael.
Não há um limite de vagas para o programa e o aluno pode aderir desde que se enquadre nas condições. O estudante não pode ter o nome negativado, deve apresentar um fiador na mesma condição e a soma da renda de ambos deve ser de pelo menos o dobro do valor da mensalidade do curso.
Programa público
As novas regras do Fies reduziram a margem de estudantes com chance de financiamento:
- Só podem se inscrever alunos que tenham alcançado ao menos 450 pontos no exame do Enem (feito a partir de 2010) e não tenham zerado a redação.
- A renda familiar mensal deve ser de até 2,5 salários mínimos (R$ 1.970) por pessoa.
- As instituições têm de ofertar desconto de 5% na mensalidade para os estudantes com contrato do Fies.
- Cursos com notas 4 e 5 no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) têm prioridade.
- Cursos das áreas de engenharia, saúde e formação de professores têm prioridade.
- As taxas de juros passam de 3,4% para 6,5% ao ano.
- As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, exceto o Distrito Federal, terão vantagem.
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