Falhas no armazenamento e no transporte custam bilhões ao agronegócio todo ano. Só no escoamento de soja e milho, a conta do desperdício chega a R$ 2 bilhões. Anualmente 2,4 milhões de toneladas desses dois grãos - 1,3% do total, que foi de 206 milhões - são perdidas entre a lavoura e os portos de embarque para exportação.
Os dados fazem parte de uma pesquisa realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), divulgada nesta terça-feira (5), em Curitiba.
O estado que mais contabiliza perdas físicas de soja e milho em termos absolutos é o Mato Grosso do Sul: 646 mil toneladas, equivalente a 1,3% da produção. No Rio Grande do Sul o desperdício representa 1,7% da produção (355 mil toneladas) e no Paraná são perdidas 461 mil toneladas (1,4%). A média do Brasil é 1,3%.
Além do extravio de grãos, o estudo contabilizou também as perdas ambientais. Cerca de 40 mil toneladas adicionais de dióxido de carbono (CO2) foram lançadas à atmosfera, 2,68% do total.
Perdas no transporte
O estudo mostra também que durante o transporte da lavoura aos portos de embarque para exportação, o Brasil perde 0,13% do total de arroz, 0,17% de trigo e 0,1% de milho.
“O dado das perdas não é tão elevado quanto a gente imaginava. No transporte é menor do que observado na armazenagem”, avalia José Vicente Caixeta Filho, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), que participou da pesquisa.
Perdas no armazenamento
O maior desperdício ocorre na fase de armazenamento dos grãos. No caso do arroz, cuja produção nacional ocorre principalmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins, as perdas nos silos variam de 1,5% a 4% do total. Ao analisar o armazenamento do trigo, os pesquisadores apontaram que a quebra técnica pode variar de 0,11% a 0,43%.
Os valores em alguns casos estão acima do permitido pela Conab, que aceita desperdício de até 0,3% dos estoques públicos em seus armazéns.
“A gente quer chegar a perda zero”, afirma Nilton Araújo Silva Júnior, diretor presidente da Conab, à Gazeta do Povo. Para isso, ele prevê melhorias em todas as fases da cadeia. “É uso de tecnologia, uso de capacitação dos operadores, há uma necessidade de engajamento e também, sim, de um investimento”.
Escoamento é 3 vezes mais caro que nos EUA
Na comparação com Estados Unidos e Argentina, o Brasil se sai mal quando o assunto é o custo do transporte da lavoura ao porto. Em 2017, escoar uma tonelada de grãos custou U$ 90 no Brasil, U$ 43 na Argentina e U$ 26 nos Estados Unidos, segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
As más condições das rodovias, a exígua rede ferroviária e a praticamente inexistente malha de vias de água encarecem o transporte. Apenas 41% das rodovias estão em condições boas ou ótimas no país, de acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT).
A grande maioria (59%) é avaliada como regular, ruim ou péssima, na média nacional. Na região Norte a situação é ainda mais grave: o dado negativo alcança 76,8% das estradas.
“Está faltando acesso aos portos do Arco Norte”, avalia Elisangela Pereira Lopes, da Confederação da Agricultura do Brasil (CNA).
Apesar de o volume de cargas ter aumentado em 34% entre 2010 e 2018, a malha de rios diminuiu 7,1% entre 2010 e 2016 e os investimentos em infraestruturas caíram 80% de 2009 a 2018, uma redução de R$ 173 milhões.
“É preciso investir em hidrovias para tirar os caminhões das rodovias”, afirma Elisangela. “Temos rios, não hidrovias. As cartas náuticas têm dez anos, quem navega, navega por raça”, lamenta.
Dos 30 mil quilômetros de rede ferroviária, apenas 10 mil são usados. E o agronegócio é responsável apenas por 12% do transporte sobre trilhos. O resto é empregado para escoar minérios.
Além de estradas inadequadas, a idade dos caminhões que circulam pelo país é mais um fator que encarece o transporte: os veículos têm em média 22 anos.