O primeiro passo da reforma da Previdência não foi suficiente para retomada do otimismo pelo mercado. Apesar da alta de 0,98% em abril, a Bolsa brasileira teve o pior desempenho dentre os principais índices globais - entre exceções estão Turquia e Argentina. O dólar teve o terceiro mês de alta, com patamares semelhantes ao período pré-eleitoral.
Todos os movimentos dentro da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) para a votação da admissibilidade da reforma da Previdência foram acompanhados de perto por investidores. A variação dos índices do mercado acompanhou o clima das sessões. Mas, quando finalmente foi aprovada, a reação foi nula.
No mês de abril, o Ibovespa, principal índice acionário do país, acumulou alta de 0,98%. O ganho ainda não é suficiente para cobrir os recuos de fevereiro (1,86%) e março (0,18%) e não se compara aos 10,82% de ganhos em janeiro.
"O patamar dos 100 mil pontos é apenas um patamar ilustrativo. Não há um fator que justifique essa marca. É um número que tem um efeito mais emblemático do que uma resistência. O mais importante é a variação", explica Rafael Winalda, economista da Toro Investimentos.
Após a montanha-russa dos 100 aos 91 mil pontos de março, abril oscilou entre 92 e 97 mil pontos, com média de 96 mil pontos.
O volume médio de negócios na Bolsa brasileira foi de R$ 14 bilhões no mês, abaixo da média anual de R$ 16 bilhões.
Afastamento do investidor estrangeiro
Depois da euforia inicial com o governo de Jair Bolsonaro (PSL), as dificuldades na tramitação da reforma da Previdência e dados econômicos negativos seguraram o mercado e afastaram o investidor estrangeiro.
"Desde março ambiente doméstico político piorou, com a tramitação da reforma. A aprovação passou do primeiro para o segundo semestre. Agora, já trabalhamos com uma economia de R$ 600 bilhões, uma redução danosa para o mercado", pontua Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos
Para Luketic, as recentes aproximações entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Bolsonaro ainda são insuficientes para trazer tranquilidade ao mercado. "Precisa ter uma articulação mais efetiva. Tem melhorado, mas precisamos ter um caminho até a reforma da Previdência", afirma.
Já a interferência do governo na Petrobras, que causou uma perda de valor de R$ 32 bilhões, e nas demais estatais, para aprovação de peças publicitárias, não preocupa os economistas. Eles confiam no perfil liberal da equipe econômica do governo e na capacidade de articulação de Paulo Guedes.
Tanto no episódio do veto ao aumento do diesel, quanto ao veto da propaganda do Banco do Brasil, o governo voltou atrás e isso foi visto como vitória da equipe econômica dentro do governo.
Revisão do PIB e fechamento de vagas afetam Bolsa
Revisões para baixo do PIB de 2019 e fechamento de vagas em março pesam mais na análise de investidores.
"O crescimento do PIB do primeiro trimestre vai ser negativo. O mercado começou o ano em euforia, mas casamento é bom no começo, quando sai da igreja é só dor de cabeça. Estamos longe de reviver o divórcio de Dilma, no entanto, investidores estão bem menos otimistas do que estavam antes", afirma Paulo Gala, do Fator.
Em abril, há uma saída de R$ 936 milhões na participação de investidores estrangeiros na B3. No ano, o saldo é positivo em R$ 315 milhões. Na média anual de 2018, 48,9% da movimentação na Bolsa foi de origem estrangeira. Neste ano, o índice é de 46,2%.
"A entrada dos estrangeiros deve ser só no segundo semestre e tímida. Se for uma reforma muito desidratada, pode ser que eles nem venham", diz Gala.
Cenário externo benéfico
O cenário externo, entretanto, é benéfico ao Brasil. Estados Unidos e China estão próximos de um acordo que cessa a guerra comercial e reportaram dados positivos no começo do ano, que afastam o receio de piora dessas economias.
"O mundo está parando de desacelerar. Os bancos centrais exteriores devem manter juros baixos por muito tempo e commodities estão em alta. É um cenário favorável para o Brasil", afirma Thiago Salomão, da Rico Investimentos.
Como reflexo, as maiores altas da Bolsa brasileira no ano são de companhias exportadoras. Já as voltadas ao mercado externo, estão entre as maiores baixas.
"Para caírem aqui, temos que ter o avanço da reforma da previdência", completa Salomão.