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Câmbio

Falta consenso quando o assunto é dólar

À meia noite de hoje, quando a grande maioria das pessoas estiver fazendo votos para 2007, é bastante provável que muito empresário brasileiro esteja sonhando ver o preço do dólar subir no decorrer do ano. A entrada maciça de moeda norte-americana no Brasil por meio de exportações e de investimento estrangeiro fez o dólar despencar, nos últimos quatro anos, de R$ 3,52 para os atuais R$ 2,13, difíceis de agradar o setor produtivo. A desvalorização no período foi de 39,4 %, e a choradeira em torno do câmbio é geral: agronegócio, indústria e varejo reclamam que algumas dezenas de centavos a mais na cotação ajudariam muito seus negócios no ano que começa amanhã.

Se houvesse mandinga capaz de interferir no câmbio, o feiticeiro responsável por atender aos pedidos do empresariado brasileiro teria de calcular primeiro qual a melhor cotação para contentar a todos. Quando o assunto é sugerir qual o dólar "ideal", cada um tem seu palpite.

Quem chuta mais alto é a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que sugere uma cotação de pelo menos R$ 2,60. O setor elétrico e eletrônico acumulava em outubro um déficit de US$ 8,12 bilhões, contra US$ 5,98 bilhões de déficit registrado no mesmo período de 2005. As exportações do setor cresceram 18% este ano, enquanto as importações aumentaram em 26,5%, segundo balanço da Abinee. "No nosso setor, os grandes importadores são empresas que têm hegde (proteção contra oscilações cambiais), que têm sede fora do país. Para eles pouco importa o preço do dólar. Mas se os importadores não estão sendo muito beneficiados, para os exportadores o real caro é muito desfavorável. Uma cotação de R$ 2,60 ajudaria a equilibrar as contas", explica Humberto Barbatto, diretor de relações internacionais da entidade.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, a cotação do dólar precisa subir para R$ 2,55. "Abaixo disso os industriais brasileiros não têm igualdade de condições para competir com o produto importado", justifica. O preço do dólar tem colaborado para um aumento das importações no Paraná. Entre janeiro e novembro deste ano, as exportações caíram 1,4% no estado, somando US$ 9,07 bilhões, enquanto as importações cresceram 31,5%, chegando a US$ 5,49 bilhões. O saldo de US$ 3,57 bilhões da balança comercial paranaense representa uma queda de 29,6% em relação ao mesmo período 2005.

O dólar que agrada ao agronegócio não está muito abaixo do sonhado pela indústria. O presidente da cooperativa agroindustrial Coopavel Dilvo Grolli destaca que o câmbio é algo que depende de movimentos de oferta e procura, mas admite que, se fosse possível escolher, o dólar ficaria mais caro. "Um dólar a R$ 2,50 ajudaria a equilibrar o custo de venda com o de produção nas criações de aves, suínos e bovinos, que não tiveram recuperação de preços em 2006. Os outros segmentos da agropecuária não sofreram tanto com a valorização do real este ano, se comparado com os dois anos anteriores", sugere.

Diante de tantos apelos por uma desvalorização do real, até quem se beneficia com o dólar mais barato está disposto a ver a cotação subir um pouco para que todos fiquem felizes. O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Carlos de Oliveira, confirma que o dólar baixo permite aos supermercados dar mais alternativas de produtos aos consumidores, com opções de importados. Segundo ele, em 2006 cresceu de 10 a 12% a venda de produtos importados, principalmente não alimentícios (brinquedos, produtos plásticos, artigos de praia e camping). "Teoricamente, para nós, quanto mais baixo melhor. Mas, na prática, a economia brasileira como um todo pede uma cotação mais alta e não há consumo nos supermercados se a produção e os empregos caírem", diz. Para Oliveira, uma cotação de R$ 2,50 seria a ideal. "Permitiria a continuidade das importações e o fortalecimento dos exportadores".

Os R$ 2,50 que estão mais próximos de agradar a maioria passam bem acima do considerado "suportável" pela Associação Brasileira de Empresas Importadoras de Veículos Automotivos (Abeiva), que estipula em R$ 2,30 o limite de valorização do dólar. De acordo com a assessoria de imprensa da entidade, este ano as seis associadas (BMW, Ferrari, Maseratti, Kya Motors, Porsche e Ssangyong) venderam perto de 6 mil unidades no Brasil, 20% mais que no ano passado. O resultado é considerado regular se comparado ao desempenho de 2000, quando 17 mil unidades foram vendidas. De maneira geral, as importações de veículos foram, junto ao petróleo, as principais beneficiadas pelo dólar barato. Segundo dados da balança comercial, de janeiro a novembro elas subiram de 2.146 em 2005 para 23.878 unidades no mesmo período de 2006.

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