Os dados relativos ao comércio varejista em agosto estão firmados sobre bases frágeis, que garantem expansão das vendas no curto prazo, mas não asseguram a realização de investimentos. Essa é a análise do economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank (Besi Brasil), Flávio Serrano.
Bases frágeis, na concepção do economista, são as medidas de estímulos adotadas pelo governo, como redução temporária de impostos para bens de consumo em um ambiente de desemprego ainda baixo e com renda e massa salarial em expansão. "Por mais que a demanda se mostre forte, sem investimentos ela não se sustentará", disse Serrano, ao comentar as altas de 0,2% e de 2,70% das vendas do comércio restrito e amplo, respectivamente, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na avaliação do analista, os investimentos não vêm na proporção desejada e necessária para solidificar as bases do comércio e da economia como um todo por causa da instabilidade que as intervenções do governo no mercado provocam na economia, gerando incertezas para o investidor. Segundo o economista, depois de várias intervenções feitas na economia, mais recentemente o governo anunciou que vai reduzir a tarifa de energia elétrica. Isso, de acordo com ele, mexe com o ânimo do investidor que fica sem saber se a economia vai ou não seguir seu curso normal e retardam as decisões de investimentos. E, de alguma forma, este cenário de incertezas tem se refletido nos dados contemporâneos.
As vendas do varejo ampliado, por exemplo, que consideram vendas de veículos e materiais de construção, cresceram 2,70% em agosto na comparação com julho, que por sua vez havia recuado 1,50% no confronto com junho. Isso ocorreu por causa da influência do IPI sobre as vendas de carros, que deslocou para agosto o crescimento de 7,7% das vendas . Por outro lado, as vendas no comércio restrito, que em julho tinham crescido 1,40% em relação a junho, subiram apenas 0,20% em agosto. A desaceleração foi puxada pela queda de 1,1% no setor de hipermercados e supermercados, que em julho tinham sido fortes.
Crescimento
Para Serrano, pela dinâmica dos segmentos do varejo, provavelmente os varejos ampliado e restrito deverão voltar a crescer em setembro. Ele se baseia na média móvel trimestral, que anualizadas apontam para taxas de crescimento de 36,5% e 13,7%, respectivamente. "A parte do varejo restrito se mantém robusta por causa do mercado de trabalho, mas a expansão do ampliado, de 36,5%, não é sustentável", disse o economista do Besi Brasil.