A falta de profissionais qualificados e com experiência vai deixar em aberto 26.335 postos de trabalho este ano na Região Sul um número contraditório para um país com 9,1 milhões desempregados, mas que vai se repetir também no Norte (29.091 postos) e no Centro-Oeste (13.447 postos), segundo um levantamento divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso porque, como mostra o mesmo levantamento, apenas 18,3% do total de brasileiros que procuram por trabalho apresentam as condições para atender ao perfil exigido. No Sul, o porcentual é de 22% cerca de 227,8 mil pessoas, entre as mais de um milhão que procuram ocupação.
O presidente do Instituto, Marcio Pochmann, diz que o país vive hoje um paradoxo e que é preciso ajustar os cursos de formação técnica e profissional à demanda das empresas, e melhorar a intermediação de mão-de-obra, já que faltam vagas em algumas regiões.
O economista Eron José Maranho, professor do Unicenp, diz que o número de vagas em aberto não chega a ser assustador, mas é um alerta para a necessidade de se voltar a investir mais fortemente em educação. "Tivemos um pequeno aquecimento da economia e já se observa esse gargalo. Se mantivermos taxas altas de crescimento, esse problema pode aumentar."
Embora a pesquisa não especifique as exigências dos postos, o déficit em setores que normalmente não exigem alto nível de qualificação como o comércio , na opinião do economista, pode ser um indício de insuficiência dos investimentos no ensino fundamental. "E isso depende de empenho do governo, nos três níveis. Principalmente porque não há qualificação sem a formação básica", diz.
De acordo com o estudo do Ipea, o comércio é o segmento da economia com maior déficit na Região Sul 21 mil postos de trabalho. Para o presidente da Federação das Associações Comerciais e Industriais do Paraná (Faciap), Ardisson Akel, a falta de qualificação dos trabalhadores é notada pelos comerciantes do estado, mas nem sempre se reflete em vagas disponíveis porque os postos são ocupados por profissionais despreparados. "O comércio, muitas vezes, é encarado como uma atividade que qualquer um pode exercer. Mas isso não é verdade."
Indústria
A pesquisa também mostra sobra de vagas em alguns setores da indústria, como o segmento de produtos minerais, mecânicos, e de química e petroquímica. Segundo o diretor de operações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Luís Henrique Bucco, a entidade tem conseguido se antecipar e evitar que faltem profissionais quando cresce a demanda em alguns setores.
Na Spaipa, fabricante da Coca-Cola para o Paraná e interior de São Paulo, no entanto, há 200 vagas disponíveis, muitas delas justamente por falta de mão-de-obra qualificada. Para a gerente de Recursos Humanos da companhia, Ana Paula Frizzo, o país vive uma espécie de "apagão de talentos". "O Brasil ficou muitos anos caminhando lentamente e muitos profissionais não se prepararam. Agora as empresas estão crescendo e exigem profissionais com um perfil tanto técnico quanto comportamental diferente", diz.
Para a engenheira química Fernanda Feliz, uma pesquisa que mostra sobra de postos de trabalho parece bem distante da realidade. Ela se formou em 2003, está finalizando uma pós-graduação, fez cursos de extensão e tem experiência profissional. Mesmo assim, ficou um ano e meio desempregada. "Na minha visão não foi falta de qualificação, foi falta de ofertas mesmo. Fiz apenas três entrevistas no tempo em que estava desempregada e na terceira fui contratada."