Produtos da Todeschini ainda lotam prateleiras. Fábrica está fechada desde 22 dezembro| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

Enquanto os mais de 300 funcionários da fábrica Todeschini assinam suas rescisões, por intermédio do sindicato da categoria, a família que comandou a marca por pelo menos 118 anos tenta evitar que ela desapareça. Os herdeiros do fundador, Giuseppe Todeschini, ainda têm esperança de encontrar novos sócios e investidores.

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Tanto a marca quanto a fábrica, localizada às margens da Linha Verde, no bairro Pinheirinho, segundo a família, fazem parte da parceria firmada em 2006 com a AC Comercial. A empresa criada para administrar a fábrica e vender os produtos da marca, no entanto, teria desistido da parceria na metade do tempo acordado, de dez anos. O pedido de recuperação judicial da Imcopa, processadora de óleo e soja do empresário Frederico Busato Junior, feito em janeiro, teria colaborado para o fim precoce da parceria. Ele e mais cinco investidores é que criaram a AC Comercial.

A Imcopa teve prejuízo de R$ 141 milhões em 2008 ao sofrer um revés com a variação cambial durante a crise financeira. Com o tombo, suas dívidas teriam atingido a casa de R$ 1 bilhão. O pedido de recuperação é uma tentativa de equilibrar as contas, sem parar com a parte comercial e operacional.

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Em conversa com a Gazeta do Povo, a família Todeschini não quis entrar em detalhes sobre os problemas que levaram a fábrica ao fechamento. Eles se dizem totalmente afastados da gestão da empresa nos últimos anos, mas comentaram que havia capacidade ociosa – estimam que a produção anual de massas e biscoitos chegava a R$ 5,5 milhões, abaixo do potencial de R$ 10 milhões – e que teria faltado empenho e conhecimento para a venda dos produtos Todeschini.

"Misturar óleo de soja e outros produtos na comercialização para supermercados não dá certo. Os responsáveis pelas vendas das massas e biscoitos não entendiam de massas e biscoitos e isso, esse conhecimento, é necessário num mercado tão pulverizado como esse", comenta um membro da família. Ele afirma que a administração familiar era vista, muitas vezes, como retrógrada pelo mercado, mas que ultimamente, com pessoas de fora, a empresa faturava menos que na época em que a família estava no comando.

A Gazeta do Povo tentou contatar a AC Comercial, mas, novamente, ninguém atendeu ao telefone da empresa.

Ações trabalhistas dificultam parcerias

Não se sabe o tamanho do passivo trabalhista nem das demais dívidas da To­­­deschini, mas uma nova parceria só será possível se os investidores estiverem dispostos a pagar a conta.

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Em pelo menos duas ações trabalhistas, de 2009 e 2010, o Tribunal Regional do Trabalho da 9.ª Região determinou o bloqueio das marcas "Todeschini" (massas) e "Picapau" (biscoitos), no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), para o pagamento de direitos trabalhistas de mais de R$ 270 mil.

As marcas são citadas como "último e derradeiro" patrimônio da Todeschini e demais envolvidas: AC Co­­­mercial e Mercantil Romana (que vendia os produtos antes da AC). Uma das ações foi arquivada por desistência. Ainda assim, os documentos indicam que há a possibilidade de o TRT9 deferir novos pedidos de arresto das marcas. Ao menos 12 dos 336 trabalhadores recentemente demitidos manifestaram intenção de entrar na Justiça Trabalhista individualmente nas próximas semanas.

No site do Tribunal Supe­­­rior do Trabalho é possível verificar o número de ações que correm contra cada empresa. A Todeschini tem 46 processos em andamento (em oito há débitos com pagamento garantido por depósito, bloqueio de numerário ou penhora de bens). A AC Comercial tem quatro (um com débito garantido) e a Mercantil Romana, dez (dois com débitos garantidos).