Pequim - A China pode conseguir um "pouso suave" no curto prazo, mas é cada vez maior o número de economistas e instituições que veem um cenário turbulento para o país em um futuro não muito distante, fruto do esgotamento do modelo de crescimento baseado no excesso de investimentos, que alimenta a inflação e empurra o endividamento a patamares insustentáveis. Esse cenário tende a ter forte impacto no Brasil, cujas exportações de commodities como minério de ferro e soja são muito dependentes da China.
O desequilíbrio crônico da economia chinesa se acentuou em 2009 e 2010, quando os bancos financiaram um boom de investimentos com empréstimos recordes de US$ 2,7 trilhões, valor que supera o PIB brasileiro. Muitos desses recursos foram destinados a projetos sem viabilidade econômica, que não vão gerar caixa para o pagamento do crédito.
Segundo a agência de classificação de risco Fitch, a explosão de financiamento dos últimos dois anos superou a registrada no Japão antes do colapso das bolhas de imóveis e ações no anos 90 e pode elevar o porcentual de créditos podres do sistema financeiro a 30% hoje, ele ronda os 7%.
O grupo The Conference Board previu que a China vai desacelerar de forma "significativa" dentro de dois a três anos, em razão de medidas "drásticas" que Pequim terá de adotar para mudar seu modelo de crescimento. Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim, prevê redução "dramática" do ritmo de expansão da segunda maior economia do mundo, para um patamar de 3% mas isso só depois que a nova geração de líderes chineses assumir o comando do país, em 2013.
Com queda da demanda global, inflação superior a 6% e aumento do endividamento, economistas acreditam que o governo chinês não conseguirá mais adiar o reequilíbrio de seu modelo de desenvolvimento, o que significa redução na velocidade de expansão dos investimentos e aumento do consumo.
Efeito no Brasil
Para o Brasil, a eventual mudança se refletirá na queda das vendas de minério de ferro, principal item da pauta de exportação do país, cujo maior comprador é a China. Em tese, o impacto sobre a balança comercial brasileira poderia ser neutralizado caso houvesse elevação significativa do consumo, que levaria ao aumento da demanda por alimentos, dizem Chovanec e Pettis. Nesse caso, a pauta mudaria, mas as exportações poderiam se manter em patamares elevados.
No entanto, o professor da Tsinghua acredita que o cenário mais provável é a desaceleração dos investimentos sem elevação correspondente do consumo. Para ele, a inflação é a principal restrição à continuidade do atual modelo, já que a expansão do crédito aumenta a quantidade de dinheiro em circulação e pressiona os preços.