Volks e Renault derrubam receita de SJP
Maior exportador da RMC de 2009 a 2013, São José dos Pinhais perdeu o posto no ano passado. As exportações das empresas instaladas no município despencaram 40%, para US$ 1,18 bilhão, o menor faturamento em uma década. O motivo foi a forte retração das vendas externas da Renault e da Volkswagen.
Muito dependente do claudicante mercado argentino, a montadora francesa exportou US$ 648 milhões no ano passado, 45% menos que em 2013. A multinacional alemã, que chegou a ser a maior exportadora do estado mas há anos perde espaço no mercado internacional, reduziu seus embarques em 59%, para US$ 132 milhões.
Avanço
Dos cinco municípios que mais exportam na RMC, responsáveis por 93% das vendas da região, dois registraram crescimento em 2014. As exportações de Campo Largo subiram 10% e completaram três anos de alta. A cidade se beneficia da expansão dos embarques da Caterpillar.
A cidade da Lapa, por sua vez, exportou 40% mais no ano passado. A cidade abriga, entre outras empresas, uma unidade de processamento de soja da Cervejaria Petrópolis e uma fábrica da Seara.
Agronegócio dá impulso ao interior
O espaço perdido pela RMC nas exportações do Paraná foi ocupado pelos municípios do interior, que têm atividade econômica mais ligada ao agronegócio. "O aumento dos preços internacionais das commodities agrícolas, ao longo da última década, mais que compensou a desvalorização do dólar, ao passo que os industrializados ficaram mais baratos, aqui e no mundo todo", diz o economista Roberto Zurcher, da Fiep.
A desvalorização da moeda brasileira nos últimos meses poderia, em tese, colaborar para uma recuperação dos embarques de industrializados. O problema é que o dólar ganhou força não apenas sobre o real, mas em relação a boa parte das moedas, mantendo precárias as condições de competição da indústria nacional com as concorrentes internacionais. "A situação fica ainda mais complicada com a política do Banco Central Europeu, que está desvalorizando o euro. Será mais difícil exportar para a Europa", diz Zurcher.
A participação da Grande Curitiba nas exportações do Paraná recuou em 2014 ao nível mais baixo em pelo menos 18 anos. As empresas instaladas nos 29 municípios da região exportaram US$ 3,78 bilhões no ano passado, o equivalente a apenas 23% das vendas do estado ao exterior, pouco mais da metade da fatia recorde alcançada em 2005 (44%).
INFOGRÁFICO: Região metropolitana de Curitiba vem perdendo particição nas exportações do Paraná
Os dados foram levantados pela Gazeta do Povo no banco de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que apresenta informações por município desde 1997. Em nenhum momento da série histórica o peso da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) havia sido tão baixo.
As exportações do Paraná, de modo geral, tiveram um 2014 muito ruim. Elas caíram 10% em relação ao ano anterior, para US$ 16,3 bilhões, o valor mais baixo desde 2010. Mas o tombo da RMC foi pior: suas receitas com o comércio exterior despencaram 24%, para o menor nível desde 2009, ano em que a crise internacional arruinou os negócios com outros países.
O encolhimento fica evidente na lista das grandes exportadoras. Das 70 empresas paranaenses que exportaram mais de US$ 50 milhões no ano passado, apenas 16 têm sede na Grande Curitiba.
O mau desempenho da região está diretamente relacionado aos resultados da indústria, que já vinha perdendo competitividade no mercado internacional e, mais recentemente, passou a sentir os efeitos da crise da Argentina, seu principal cliente lá fora. Como a maioria das empresas exportadoras da capital e dos municípios vizinhos produz mercadorias manufaturadas ou semimanufaturadas, a perda de dinamismo do setor industrial se refletiu em forte queda nas receitas da região.
Nos últimos anos, a indústria brasileira enfrentou forte aumento dos custos de produção e teve de lidar com uma taxa de câmbio bastante valorizada. A opção da maioria das empresas foi se voltar, cada vez mais, ao mercado doméstico, onde as condições de competição eram um pouco mais favoráveis.
No caso paranaense, a parcela da produção vendida dentro do Brasil subiu de 74% para 84% entre 2008 e 2013, segundo a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). O problema é que essa tábua de salvação também começou a afundar, com a economia brasileira andando de lado e os importados ganhando espaço.
"O contexto macroeconômico é muito desfavorável para a indústria. Como a maior parte da manufatura do estado está instalada na RMC, essa região sofre mais. Isso tem impacto na geração de receitas e, consequentemente, no emprego", diz Julio Suzuki, diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) já refletem essas dificuldades. No ano passado, apenas 14% dos novos empregos formais do Paraná foram criados na região de Curitiba, que em meados da década passada chegou a responder por metade da geração de vagas com carteira assinada. "Como os salários da indústria são mais elevados, a queda do emprego industrial tem impacto mais forte sobre a renda interna do estado", diz o economista Roberto Zurcher, do departamento econômico da Fiep.
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