O feijão, um dos principais itens da cesta básica do brasileiro, está virando artigo de luxo. Em um mês, os preços do produto já subiram entre 37% (preto) e 42% (carioca) no Paraná. O primeiro, que no início de dezembro estava cotado a R$ 102 a saca no estado, atualmente ultrapassa os R$ 130, conforme a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). A saca do carioca, que há um mês valia pouco menos de R$ 80, hoje chega a R$ 104. Os empacotadores, que até dezembro esperavam oferta interna abundante e preços reduzidos, agora já começam a programar as compras e preparar o bolso para gastos maiores. O mercado começou a absorver a quebra da safra do Paraná na última semana de 2008 e, desde então, vem se ajustando, diz Sandra Shetzel, analista da consultoria Unifeijão.
"O mercado é firme e ainda pode subir mais", alerta Sandra. Ela não acredita, contudo, que os preços ao produtor alcancem os níveis de janeiro do ano passado, quando a saca do preto bateu em R$ 300. "Temos um problema chamado falta de dinheiro no bolso do consumidor, que vai colocar mais água no feijão e reduzir o consumo." Na avaliação Sandra, as cotações da saca ao produtor devem oscilar entre R$ 170 e R$ 180 no Paraná nos próximos meses.
Beto Xavier , consultor de mercado da corretora Beto Agro, em Guarapuava (Centro-Sul), relata que em sua região há contratos firmados a R$ 110 (preto). "E você encontra comprador para até 50% da área de uma só vez." Ele conta que, hoje, os produtores estão pedindo entre R$ 130 e R$ 150 para fechar negócio. "A partir de agora o consumo aumenta e acho que a saca pode chegar à casa dos R$ 200", arrisca. Tradicionalmente, a demanda varejista tende a se retrair entre o final de dezembro e o início de janeiro devido às comemorações de fim de ano e às férias escolares. Por isso, o varejo ainda não sente no bolso o aumento dos preços, mas a alta deve ser repassada ao consumidor nas próximas semanas.
No Paraná, o maior produtor nacional do grão, o mercado estima que quase metade da safra das águas tenha sido perdida. A projeção oficial mais recente, de dezembro, contabiliza quebra de 25,5%, mas a Seab reconhece que esse porcentual será maior. Outros importantes estados produtores também tiveram frustração do potencial produtivo. Os números serão conhecidos hoje, quando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulga novo levantamento de safra.
Eleito pelo governo o vilão da inflação dos alimentos, o feijão foi a cultura mais beneficiada pelo PAP. As medidas previstas no plano surtiram efeito e a área de plantio cresceu 26% no Paraná e 10% no Brasil. O que ninguém esperava era que o tempo não colaborasse para uma boa colheita. A primeira safra paranaense, inicialmente estimada em 608,7 mil toneladas, vai render, no máximo, 454,8 mil toneladas. Contabilizando perdas de volume e de qualidade, a produção paranaense pode não chegar a 330 mil toneladas, calcula Marcelo Eduardo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Legumes Secos (Ibrafe). "Uma coisa é o que sai do campo, outra é o que chega na mesa", considera.
Segundo ele, nas estimativas do mercado, cerca de 40% da produção paranaense foi perdida dentro da porteira, seja por excesso ou falta de umidade. Feitas as contas, a safra chegaria a apenas 365 mil toneladas. "Mas o clima comprometeu também a qualidade dos grãos, que perderam tamanho e o peso", explica. Com esses descontos, 10% da safra colhida seria descartada, o que resultaria em uma oferta total de apenas 328,7 mil toneladas de feijão no Paraná. Nesse caso, a quebra com relação às estimativas iniciais de produção seria de 54%.
"Em algumas localidades, as perdas foram tão expressivas que tem produtor que não vai nem conseguir colher. Já perdeu tudo", confirma Margoreth Demarchi, agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral ) da Seab. "Aqui na minha região, o município de Prudentópolis foi o mais prejudicado, com quebra de 65% na produção. Teve gente que arou a terra e já está entrando com a segunda safra porque a primeira foi completamente perdida", relata Xavier, da Beto Agro.