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Trabalho

Feriado sem culpa

O três feriados concentrados em pouco mais de três semanas entre abril e maio deste ano dão margem a uma indagação comum entre os observadores do fraco desempenho da economia do Brasil: as folgas são um peso para o crescimento do país? Segundo especialistas, a resposta é não. O brasileiro trabalha bastante para os padrões ocidentais. São em média 1.841 horas por ano – 22 horas a mais que os norte-americanos, por exemplo – e os feriados oficiais não são mais abundantes do que em outras nações.

O Brasil tem dez feriados oficiais. Em Portugal e na Espanha, são até 14 por ano. Mesmo as nações ocidentais mais liberais e com economias mais avançadas, como Estados Unidos e Reino Unido, as paradas são bastante comuns. Os americanos têm em média 13 datas festivas por ano e os britânicos nove.

As paradas provocadas por feriados provocam algumas sazonalidades. Negócios ligados a serviços e turismo têm nessas datas seus picos de vendas. Algumas festas, como Páscoa e Natal, balizam a organização do varejo. Na indústria, as folgas são compensadas, quando necessário, por horas extras e formação de estoque. "As montadoras, por exemplo, quando estão em um ritmo muito acelerado, fecham acordo com os sindicatos para não parar a produção", diz Roberto Karam, presidente do Sindicado da Indústria Metalúrgica do Paraná (Sindimetal).

Especialistas em economia do trabalho apontam que o dado-chave para estimular o crescimento do país é a produtividade da mão-de-obra e não o tempo que cada pessoa trabalha. E nesse quesito o Brasil fica para trás. Um americano produz em média US$ 35,42 por hora, enquanto um brasileiro gera apenas US$ 8,29, segundo dados do Groningen Growth and Development Center (GGDC) de 2004.

É essa diferença que explica porque não adiantaria o brasileiro trabalhar mais horas. Sua produção continuaria no mesmo ritmo. Mesmo nos Tigres Asiáticos, onde fatores culturais e legais permitem uma jornada acima de 2.200 horas anuais, o que mais chamou a atenção nos últimos 30 anos foi o ganho consistente na produtividade, com queda acentuada no número de horas trabalhadas.

A pequena Taiwan é um exemplo. Em 1960, a eficiência do trabalho no país representava apenas 16% da produtividade de um norte-americano. Na mesma época, o índice brasileiro era de 23,3%. Após mais de 40 anos de reformas econômicas e investimentos pesados em educação e modernização de seu parque fabril, Taiwan alcançou 66,9% da produtividade dos Estados Unidos. O Brasil ficou para trás, com um indicador de 24,4%.

"O aumento da produtividade é o caminho para o crescimento econômico", afirma Maria Cristina Cacciamali, especialista em economia do trabalho. "Há uma relação direta entre esse fator e o Produto Interno Bruto (PIB). Quando ele melhora, há ganhos de qualidade de vida e na cultura." A produtividade está ligada ao uso de tecnologia de ponta, investimentos em educação e em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos industriais.

De acordo com os dados do GGDC, o Brasil está em uma espécie de terceira divisão no quesito produtividade - pouco atrás do México e à frente de nações pouco exemplares na área de desenvolvimento econômico, como Bangladesh, Tailândia e Sri Lanka. "Taxas de crescimento sustentado combinadas com investimentos em tecnologia conduzem a uma maior produtividade e isso faltou ao Brasil", afirma o economista Cláudio Dedecca, especialista na área.

Nos últimos 40 anos, o país só tirou a diferença para as nações desenvolvidas durante a década de 1970. O salto catapultado por empréstimos estrangeiros elevou o PIB, mas deixou uma conta que quebrou o Brasil na década de 80 e levou a um retrocesso. "Ainda é preciso criar um ambiente propício para os investimentos crescerem de forma mais acentuada e sem o risco de novas quedas", analisa o economista Renato da Fonseca, da área de pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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