O feriado de 1o de maio diminui a semana, mas não sua importância. O mercado financeiro deve frear os negócios sem "enforcar" a segunda-feira.
O movimento tende a encolher na Bolsa de Valores de São Paulo e na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) menos pelo dia imprensado entre o fim de semana e o feriado e mais pela rotina de fechamento das operações de abril, além da atenção dedicada ao resultado das contas públicas de março.
O humor do mercado financeiro internacional, e por tabela o doméstico, estará exposto ao impacto do relatório de consumo pessoal dos norte-americanos que traz o índice de preços considerado, pelo Federal Reserve, o mais relevante para as decisões sobre a política de juros.
No Brasil, as mesas de operações de mercado aberto e gerenciamento das reservas internacionais do BC funcionam e devem reprisar as intervenções feitas, incessantemente, para evitar excesso de oferta de reais e dólares em circulação.
Nos Estados Unidos, Ben Bernanke, chairman do Fed, fala na terça-feira sobre livre-comércio em evento que prevê sessão de perguntas e respostas -portanto, de resultado imponderável, após a confirmada desaceleração da atividade, com o crescimento do primeiro trimestre sendo o pior em quatro anos, e com inflação pesada.CONCENTRAÇÃO
Ainda assim, o início da semana promete uma breve trégua para o mercado se programar para semanas de muito trabalho.
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de abril precipitou a queda de projeções do juro básico brasileiro (Selic) por bancos e consultorias. O Credit Suisse reduziu as projeções para a Selic do final de 2007 e de 2008 a, respectivamente, 10,50 e 9,25 por cento. O Citigroup, para 10,75 e 9,75 por cento.
Economistas alertam, porém, que, a despeito das revisões de dados, daqui para frente alguns indicadores exigirão análise ainda mais meticulosa para o balanço de riscos da inflação.
SEM TRUQUE
"A ata trouxe mais elementos para avaliação", comenta Luis Cezário, economista do HSBC Bank Brasil.
"A ata do Copom confirmou o que esperávamos. O placar apertado, de 4 votos a 3 a favor da manutenção do corte da Selic em 0,25 ponto, não foi um artifício usado pelo BC para preparar o mercado para a redução de 0,50 ponto percentual na próxima reunião."
Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, é da mesma opinião. "O fato de a decisão não ter sido unânime não significa que o BC quis sinalizar qualquer indicação sobre a próxima reunião, mas simplesmente que não foi possível obter consenso", diz.
Cezário explica que o dissenso mostrou que existem opiniões divergentes mais profundas, entre os membros do Copom, sobre a trajetória inflacionária.
Os diretores que defenderam a aceleração da queda da Selic deram destaque ao desempenho das importações para arrefecer pressões de demanda e à manutenção de um cenário externo favorável.
O grupo vitorioso, que assegurou a manutenção do corte da Selic em 0,25 ponto, reforçou a expectativa de que a atividade continua se fortalecendo, reduzindo o diferencial entre a oferta e a demanda por bens na economia.
SEM RETROCESSO
"Não há dúvida de que a inflação continuará oscilando, neste ano, entre o centro da meta (4,5 por cento) e o piso da banda de flutuação (2,5 por cento), mas como fruto de decisões passadas de política monetária e de choques de preços", comenta o economista do HSBC Brasil.
Ele lembra que a ata alerta para o risco de alta de preços ou custos de serviços -desvinculados de cotações internacionais- que podem ser sancionados por aumento de renda e demanda.
Cezário pondera que há evidência de que o ritmo da atividade deve elevar o PIB a pelo menos 4 por cento este ano, mesmo com o juro caindo mais devagar.
"O Copom, na sua totalidade, certamente vai avaliar se uma aceleração da queda do juro não poderá ameaçar 2008 com pressões inflacionárias e o risco de elevação do juro. Na atual circunstância, os dados de atividade, como produção industrial, tornam-se mais relevantes que o acompanhamento da inflação."
ATENÇÃO AO CÂMBIO
Pastore, sócio da A.C.Pastore & Associados, reconhece que o Copom vem enfatizando, há tempo, que há defasagens longas e diversas entre a queda do juro e seu efeito na economia real, mas o economista conclui que não se confirmou a suspeita de que a aceleração da demanda traria inflação.
O ex-presidente do BC insiste que a manutenção dos superávits em conta corrente, que levam à queda da dívida externa, à acumulação de reservas e à redução do risco-país, refletem a melhora sensível no balanço de pagamentos.
O resultado desse processo é o estabelecimento de forças no sentido de valorizar o real.
"As intervenções do BC no mercado de câmbio à vista retardam mas não impedem a valorização e, embora a eficácia das intervenções cresça com o uso de swaps reversos, a tendência é de valorização adicional do real", diz.
"A ata não dá indicação clara se a próxima queda do juro será de 0,25 ou 0,50 ponto, mas aponta que a decisão dependerá do comportamento da atividade e da evolução da taxa de câmbio... Como a tendência é de continuidade das importações, não é possível excluir o corte de 0,50 ponto em junho."AGENDA DA SEMANA
Segunda-feira - Relatório Focus, resultado consolidado das contas públicas (março);
Terça-feira - Feriado Nacional;
Quarta-feira - Balança comercial (abril), IPC-S (4a leitura abril);
Quinta-feira - IPC-S Capitais (4a leitura abril);
Sexta-feira - IBGE divulga produção industrial (março), IPC-Fipe (abril).
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