A concessionária de economia mista Estrada de Ferro Paraná Oeste (Ferroeste), que é controlada pelo governo do estado, planeja obter na Justiça a posse das máquinas que utiliza em Cascavel e Guarapuava e que pertencem à catarinense Transferro Operadora Multimodal. As máquinas foram requisitadas pelo estado em decreto publicado em janeiro. Mas agora o estado tenta ser dono dos equipamentos, sob justificativa de que a Ferroeste é credora das dívidas da Transferro e que os contratos de locação com a falida Ferropar foram superfaturados.
Apesar de ter convidado a proprietária para negociar um valor pelo uso das 15 locomotivas e 110 vagões retidos, a Ferroeste não pretende chegar a um acordo na reunião de segunda à tarde. "Vamos nos reunir para ouvir as ponderações acerca dos valores que a Transferro considera justos, mas não se estabelecerá aluguel nem indenização", informa o presidente da estatal paranaense, Samuel Gomes. A proprietária dos equipamentos confirmou presença no encontro.
Segundo Gomes, antes da falência, a Ferropar teria deixado de pagar ao governo do estado R$ 83 milhões pelo uso da ferrovia, enquanto a locadora das máquinas teria superfaturado os contratos em R$ 14 milhões. "Isso significa que a frota é nossa, nos pertence do ponto de vista econômico", diz.
O motivo de a ferrovia estatal não estar disposta a firmar novo contrato é, conforme o presidente Samuel Gomes, o "complicador de o acordo anterior ser um contrato mandraque entre os mesmos sócios (da Ferropar e da Ferrovia Tereza Cristina, controladora da Transferro)". Na busca por uma decisão administrativa e judicial que legitime esse argumento, Gomes argumenta que o diretor-presidente da Tereza Cristina, Benony Schmitz Filho, também era sócio da Ferropar. "Vamos encontrar uma solução que não contrarie o interesse público, mas não usaremos a frota sem pagar."
A negociação havia sido iniciada em dezembro. As conversas foram interrompidas com acusações mútuas entre as empresas, quando a Transferro solicitou a entrega das máquinas. No início de janeiro, um decreto do governo do estado requisitou as máquinas. O documento previa a estipulação de um preço pelo uso, que seria definido por uma comissão do estado, mas o grupo ainda não se reuniu.
Esclarecimento
A Estrada de Ferro Paraná Oeste (Ferroeste) nega ter utilizado a polícia ou qualquer órgão de segurança para impedir a entrada de técnicos da proprietária de vagões e locomotivas Transferro aos terminais ferroviários, como informado pelo advogado da empresa em matéria publicada na quinta-feira.