Jacarezinho A Justiça Federal de Jacarezinho determinou, nesta semana, por meio de liminar, que a concessionária América Latina Logística (ALL) recupere linhas férreas e estações de trem nos municípios de Jacarezinho, Marques dos Reis, Santo Antonio da Platina e Joaquim Távora, no norte paranaense. Duas semanas antes, o presidente da Associação dos Municípios do Norte Pioneiro (Amunorpi), Efraim Bueno de Moraes, ameaçava denunciar a empresa ao Ministério Público Federal. "É uma vergonha o que está acontecendo com a ferrovia. Temos que agir rápido se não quisermos perder parte da nossa história", disse.
Os prefeitos da região afirmam que a malha ferroviária está abandonada desde que alguns trechos foram desativados pela ALL. Além do ramal que liga Jaguariaíva a Ourinhos, no sudeste de São Paulo, também estão desativadas as linhas Cianorte/Maringá (noroeste) e Rio Negro/União da Vitória (Sul).
"Nesta região (Norte), a estrada está abandonada, com a vegetação cobrindo os trilhos e sendo saqueada por vândalos. Um verdadeiro ato de canibalização contra um patrimônio nacional", diz o engenheiro Paulo Sidnei Carrero Ferraz, que foi chefe do escritório regional em Curitiba da extinta Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) entre 1997 e 2003. Ele critica o fato de a concessionária ter desativado os trechos no Norte por serem considerados como de menor viabilidade econômica.
O engenheiro diz ainda que a manutenção das estradas de ferro atualmente é feita de forma corretiva, quando deveria ser preventiva. Dados da extinta RFFSA apontam que, nos dez anos anteriores à privatização, a rede investiu cerca de R$ 300 milhões em 30 mil quilômetros de malha ferroviária. Segundo o Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge/PR), os investimentos foram destinados inclusive a ramais considerados "antieconômicos" como os que faziam o transporte de passageiros.
No entanto, segundo a RFFSA, desde 1997 o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiou R$ 500 milhões às empresas concessionárias para investir na recuperação da malha ferroviária, atualmente com apenas 20 mil quilômetros de estrada de ferro. "E agora as ferrovias estão degradadas", ironiza Paulo Ferraz.
Já o presidente do Sindicato dos Maquinistas Ferroviários do Paraná e Santa Catarina (Sindimafer), José Carlos Rodrigues, afirma que o alto número de demissões na ALL desde que houve a privatização, em 1997 (mais de 4 mil, segundo o sindicato), também colabora para o estado de abandono em que se encontram ferrovias e estações.