Países latino-americanos exportadores de commodities (matérias-primas), como o Brasil, temem "um mundo mais protecionista" em barreiras comerciais, devido às consequências de um cenário de guerra cambial. A avaliação foi feita nesta segunda-feira (21) pela coordenadora de projetos do Centro de Estudos do Setor Externo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lia Valls.

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A especialista fez a análise após explicar tópico especial da Sondagem Econômica da América Latina de janeiro deste ano, que trata das influências no mercado mundial de uma "guerra cambial". Neste tópico, 92% dos entrevistados no Brasil, Colômbia, Chile e México apostam em um risco elevado de se adotar mais medidas protecionistas, caso nada ocorra para mudar o atual cenário. A sondagem ouviu 143 especialistas em 18 países.

Ela lembrou que ainda não ocorre, entre os países do mundo, um consenso a respeito de como rearranjar a entrada de capitais dentro dos países de forma a não conduzir a um cenário de dólar fraco, o que leva a enxurradas de entrada de importados nos mercados domésticos, ao mesmo tempo em que eleva preços de commodities exportadas.

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"Ninguém acha que continuar valorizando câmbio é bom, porque acaba afetando a indústria", disse. Lia avaliou que isso, em um longo prazo, pode conduzir a movimentos de substituição de produção por importações. "Se não houver um rearranjo na questão do controle de capitais, para se diminuir desequilíbrios de entrada de capital, pode ser que todo mundo decida se proteger, com medidas protecionistas. Isso seria o pior cenário", alertou. "Este tema cambial é uma das maiores preocupações entre os países da América Latina", afirmou.

Inflação e cautela

O temor do avanço da inflação, aliado às incertezas que sempre cercam a implementação de um novo governo, levaram os analistas latino-americanos a uma postura de "cautela" quanto ao Brasil, segundo Lia Valls. Ela lembrou que a preocupação com o avanço da inflação não é privilégio do Brasil. "O medo da inflação não é peculiar somente ao Brasil. Com o aumento nos preços das commodities (matérias-primas), há um temor generalizado no mundo em relação ao rumos da inflação", disse.

Segundo Lia Valls, o Índice de Clima Econômico (ICE) do Brasil, indicador calculado com base nas respostas apuradas para a Sondagem Econômica da América Latina, desacelerou levemente, de 6,8 para 6,7 pontos de outubro de 2010 para janeiro deste ano (em uma escala de até nove pontos, onde respostas acima de cinco pontos são consideradas positivas).

Ao mesmo tempo, o Brasil, no mesmo período, desceu da terceira para a quarta posição no ranking de clima econômico dos 11 países latino-americanos, pesquisados pela Sondagem. O ranking é feito a partir do cálculo do ICE médio de cada país apurado nos últimos quatro trimestres. "Mas as pontuações do Brasil, tanto no ICE do trimestre quanto no ranking, continuam acima de cinco pontos, ou seja, em cenário positivo, mesmo com estes recuos", comentou.

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Na análise da especialista, o mais correto seria encarar que as avaliações sobre o Brasil ainda estão "em compasso de espera". Ela reiterou que a sondagem da América Latina, que ouviu 143 especialistas em 18 países em janeiro, foi apurada antes do governo anunciar intenção de cortes de gastos públicos. Lia não descartou que este anúncio possa ajudar a melhorar o resultado de clima econômico brasileiro, na próxima divulgação da sondagem.