O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), revisou para cima a projeção do PIB nacional para o primeiro trimestre de 2021. No novo cenário, a queda do indicador seria de 0,2% no período, contra uma previsão anterior de -0,5%. Ainda assim, no curto prazo, o cenário é considerado de “estagflação”, quando há aumento da taxa de desemprego combinado com alta de preços. Para o ano, a perspectiva ainda é de crescimento de 3,2%. Os dados constam do Boletim Macro, divulgado pela entidade nesta quinta-feira (22).
A variação para cima se deve aos indicadores de atividade econômica referentes a fevereiro, que mostraram recuperação acima da prevista no comércio varejista e no setor de serviços. O primeiro apresentou alta de 0,6% em um mês, ao passo que o segundo cresceu 3,7% no mesmo período e acumula alta de 21,7% desde junho de 2020.
“Porém, com o recrudescimento da Covid-19, o ritmo lento de vacinação e a perda do poder de compra das famílias, devido à lenta recuperação do mercado de trabalho e ao choque inflacionário, as nossas expectativas para março e abril são de piora em todos os setores”, informa o boletim, em texto assinado por Silvia Matos, Marina Garrido e Mayara Santiago.
Brasil é única grande economia em desaceleração, diz boletim
No cenário internacional, o Brasil se distingue de outras potências, que nas últimas semanas vêm apresentando resultados positivos. Apesar dos avanços nos indicadores de varejo e serviços em fevereiro, a tendência de queda em março coloca o país como única grande economia com desaceleração do crescimento neste começo de ano.
Nos Estados Unidos, os analistas citam dados recentes de geração de emprego como indício do forte desempenho do setor de serviços, além do indicador ISM (Instituto of Supply Management) de serviços, que atingiu em março o maior nível da série história (63,7). Na China, o crescimento de 18,3% do PIB no primeiro trimestre na comparação interanual confirmaria as expectativas de forte recuperação.
Na zona do euro, o PMI também sugere aceleração da atividade econômica no final do primeiro trimestre, com avanço no componente de serviços de 45,7 para 49,6 pontos e no industrial para o maior nível histórico.
Na análise do Ibre, assinada por Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos, o Brasil enfrenta um cenário de estagflação no curto prazo, “com piora na atividade econômica e no mercado de trabalho, mas com uma inflação muito pressionada, rodando bem acima da meta do Banco Central.
“Soma-se a essas preocupações sobre o cenário fiscal a situação da pandemia no Brasil, valendo registro de que, apesar da aceleração recente do ritmo da vacinação, permanece a incerteza sobre a disponibilidade de vacinas para este segundo trimestre. Não surpreende, portanto, que os ativos brasileiros sigam tão desvalorizados, não acompanhando a recuperação que se vê nos mercados internacionais há algum tempo.”
Na quarta-feira (21), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a vacinação dos grupos prioritários deve ser concluída em setembro. Trata-se de um atraso de quatro meses em relação à previsão feita em meados de março por seu antecessor, o general Eduardo Pazuello, para quem a imunização dos prioritários provavelmente terminaria em maio.
Pontos de preocupação com o quadro fiscal
O documento do Ibre/FGV cita diversos pontos de preocupação em relação ao quadro fiscal do país, como o impasse para a sanção do Orçamento de 2021, o baixo esforço do Executivo para encaminhar reformas estruturais, o ambiente político conturbado e o efeito da pandemia de Covid-19 sobre os fundamentos fiscais.
“Há o risco de haver mais gastos acima do teto, que tem sido um pilar da sustentabilidade das nossas contas públicas. Fundamentos fiscais mais fracos, em um contexto de elevação dos juros nos EUA, vão continuar desestimulando a entrada de capitais e ajudar a manter o real desvalorizado e os juros de mercado elevados.”
Para 2022, a FGV mantém a projeção de crescimento em 2,4%. “É importante destacar que o crescimento em 2021 [3,2%] é inferior ao carregamento estatístico de 3,6% e, para o ano que vem, o crescimento esperado está em linha com o carregamento estatístico. Ou seja, a recuperação brasileira está muito aquém do que seria possível e necessário.”
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