Veja um balanço das bolsas| Foto:

Pressão externa

Mercado de ações ignora fundamentos brasileiros

Profissionais do mercado brasileiro ainda se questionam "se" e "quando" a BM&F Bovespa, que tem forte participação do capital estrangeiro, vai refletir a situação econômica mais favorável do Brasil. A fuga de investimento estrangeiro é apontada como um dos motivos para a queda de 27% acumulada neste ano.

"Continuamos apostando nos fundamentos macroeconômicos brasileiros, o que nos leva a crer que os mecanismos de transmissão da crise externa para o Brasil são limitados. Por outro lado, a situação econômica internacional está delicada e pode se refletir no mercado", comentaram Eduardo Dias e Nastássia Romanó, da área de análise da Omar Camargo Investimentos, em relatório sobre as perspectivas para outubro.

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Itália rebaixada

Seguindo o que a Standard & Poor’s fez há duas semanas, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou ontem a nota de risco da Itália em três graus, de Aa2 para A2. A perspectiva é negativa, ou seja, pode haver novo rebaixamento. O principal motivo é o "o aumento material do risco de financiamento de longo prazo de países com alto nível de endividamento público, como a Itália".

Pedido de reforço

O ministro de Finanças da Itália, Giulio Tremonti, pediu ontem que as autoridades do continente reforcem a Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) além da versão ampliada aprovada pela cúpula da EU em 21 de julho, que ainda está em votação pelos Parlamentos dos 17 membros da zona do euro. "Se observarmos agora, vemos que ela [a EFSF] só foi expandida para 440 bilhões de euros, tem limites operacionais e é inflexível. Se nós compararmos isso com a ambição original, a coisa verdadeira é muito mais limitada", disse.

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As bolsas mundiais tiveram ontem um outro dia nebuloso. Mas as nuvens se dissiparam a tempo de "salvar" a brasileira BM&F Bovespa de uma queda mais forte, graças à melhora extraordinária das bolsas norte-americanas no fim da tarde. Elas subiram agarradas em "fiapos de esperança" de que a crise na Europa pode não ficar tão grave.

Notícias de que os governos da França e da Bélgica estariam costurando um acordo para salvar o banco franco-belga Dexia – que corre o risco de quebrar – e que os ministros de Finanças da Europa estariam examinando maneiras coordenadas de recapitalizar as instituições financeiras tiraram os índices acionários dos Estados Unidos do vermelho e os levaram para as máximas. A Bovespa, que operava nos 49 mil pontos, se recuperou e chegou bem perto de anular as perdas do dia. As bolsas europeias – que fecham mais cedo – caíram forte diante do sentimento ruim que predominava até então.

No fim, o Ibovespa recuou "apenas" 0,21%, aos 50.686,34 pontos – no pior momento do pregão, chegou a cair 2,67%. No mercado de câmbio, o Banco Central voltou a intervir, oferecendo contratos de "swap" cambial (operação equivalente à venda de dólares no mercado futuro). Os bancos tomaram US$ 1,6 bilhão desses contratos, o que ajudou a derrubar a cotação após quatro dias consecutivos de alta: nas últimas operações, a moeda foi negociada a R$ 1,869, com queda de 1,24%.

Os mercados permanecem tensos a respeito da situação europeia, com um possível "default" (suspensão de pagamentos) da Grécia no horizonte. E não melhorou a situação o cancelamento de uma importante reunião dos ministros de Finanças da zona do euro, marcada para o dia 13, quando poderia ser anunciado um novo pacote de socorro financeiro ao país mediterrâneo. A reunião foi remarcada para novembro e o novo pacote, postergado para uma data indefinida. A chamada "troika" (Banco Central Europeu, União Europeia e Fundo Monetário Internacional) alegou que precisa de mais tempo para formular sua decisão.

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As más e as boas

Além do adiamento do socorro à Grécioa, também pressionaram o mercado financeiro o possível rebaixamento do rating do Dexia pela Moody’s e a revisão, para baixo, da previsão de crescimento do PIB da zona do euro – o Goldman Sachs, que esperava 1,2% de alta em 2012, agora projeta expansão de apenas 0,1%.

Tudo isso, no entanto, se dissipou no ar nos minutos finais da sessão, quando o Financial Times, citando autoridades europeias, divulgou que os ministros de Finanças da União Europeia estão tentando coordenar a recapitalização das instituições financeiras da região.

Outra notícia que agradou foi a de que o Dexia pretende transferir cerca de 180 bilhões de euros em ativos para um "banco podre" que contaria com garantias dos governos da França e da Bélgica, numa iniciativa para desembaraçar-se de uma escassez de liquidez cada vez maior.