Diante da variedade de aplicações disponíveis no mercado financeiro, a possibilidade de delegar a um robô a escolha entre os melhores prazos e taxas deixou de ser futurista. Apesar de tímida, a adesão a robôs de investimento vem ganhando terreno desde o ano passado, principalmente com o surgimento de fintechs especializadas.
Antes restrita a grandes investidores e instituições financeiras, a automatização da negociação de ativos chega à pessoa física em moldes simplificados. Essa é também uma das apostas do ano das principais corretoras que atuam com esse público para atrair a clientela.
A gaúcha Oi Warren é a mais nova fintech a entrar no ramo. A companhia começou a operar na semana passada com 500 investidores, mas já possui uma fila de espera de cerca de 14 mil interessados. A startup se beneficiou de uma norma da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a 555, que permite que uma mesma instituição administre e distribua um fundo de investimento.
Assim, a Oi Warren construiu cinco fundos que aplicam em títulos do Tesouro Direto, ETFs (Exchange Traded Funds, na sigla em inglês, fundos que replicam índices de ações) e fundos DI. O mais conservador aplica 100% em renda fixa e o mais agressivo, 66%.
Para determinar o quão conservador ou arrojado um cliente é, a fintech adotou um descontraído chat de internet. Depois, para finalizar a escolha do produto, a Oi Warren faz um cruzamento entre o perfil do investidor, seu objetivo e o prazo para conquistá-lo.
“Nem mesmo quem dedica 100% do tempo a investir tem garantia de que vai bater o desempenho do mercado como um todo. Logo, é muito mais eficiente fazer a alocação que permita o maior retorno com a menor volatilidade e permanecer com ela”, afirma Tito Gusmão, um dos fundadores da fintech.
Segundo ele, a Oi Warren faz um balanceamento automático das aplicações e pode, inclusive, monitorar a interação do investidor com a plataforma e constatar que ele é mais arrojado do que de fato constatou o primeiro teste.
O custo para investir pela Oi Warren é de 0,80% ao ano sobre o patrimônio líquido do fundo, acrescido de um residual por conta dos custos para manter os ETFs. Segundo Gusmão, no pior dos cenários o custo aumenta para 0,85%.
A plataforma exige investimento mínimo inicial de R$ 100, substancialmente menor do que de seus pares. “Para ter lucro, não é o valor que precisamos. Mas faz parte da estratégia de popularizar a Oi Warren e ganhar em escala”, diz Gusmão.
Por enquanto, apenas a versão desktop está disponível, mas um aplicativo para celulares com iOS deve ser lançado em breve. Depois, será a vez dos sistemas Android.
Papel humano
Apesar da promessa de custos menores do que as corretoras e mais eficiência, especialistas alertam que o sucesso dessas ferramentas em obter os melhores retornos depende da pessoa por trás do algoritmo.
“Robôs ajudam quando oferecem auxílio profissional a um custo mais baixo, mas a competência dos profissionais que programam esses robôs é que vai determinar o sucesso da estratégia”, diz o planejador financeiro Valter Police, membro da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar, antigo IBCPF).
Enquanto as decisões que movimentam trilhões de dólares pelo mundo são tomadas aos montes e em frações de segundo, os robôs para os pequenos investidores têm estratégias possíveis de acompanhar em tempo real e, em alguns casos, deixam para o cliente a ordem final de compra ou venda de determinado produto.
Diretor presidente da BLK Sistemas Financeiros, empresa que desenvolve algoritmos para grandes empresas, Eduardo Blank afirma que a automatização não vai eliminar a figura do gestor de recursos. “Pelo contrário, o gestor é necessário para ajustar o comportamento dos robôs”, diz o executivo.
Para corretoras, a BLK pretende lançar este ano um algoritmo construído para a pessoa física.
Crescimento
Há mais tempo no mercado, as fintechs Magnetis e Vérios notaram no ano passado um crescimento acelerado no número de investidores.
Parceira da corretora Easyinvest, a Magnetis entrou em operação em 2015 e, segundo o fundador, Luciano Tavares, já elaborou planos de investimento para 20 mil interessados. Nem todos, contudo, se tornaram clientes da startup, que não revela o dado. “Eles têm entre 25 e 40 anos, estão em uma fase avançada da carreira e querem fugir do serviço tradicional”, diz.
A fintech trabalha com CDBs, fundos DI e multimercado, ETFs e Letras de Crédito Agrícola e Imobiliário (LCAs e LCIs).
Em operação desde julho de 2016, a Vérios viu sua base de clientes crescer 42% até dezembro. “A expectativa é de gerenciar R$ 100 milhões até o Carnaval”, diz Felipe Sotto-Maior, presidente da startup, que atua em parceria com a corretora Rico. A Vérios opera com 18 robôs que negociam títulos do Tesouro e ETFs de acordo com cada perfil de investidor. O sistema, porém, não permite escolher individualmente os ativos da carteira.
A Rico atua ainda com o sistema Alkanza, que é integrado à sua plataforma de negociação e foi lançado no ano passado. Monica Saccarelli, sócia da corretora, diz que o objetivo é expandir a base de cerca de 600 investidores atraindo quem não tem o hábito de acompanhar o dia a dia do mercado financeiro.
A XP Investimentos, que comprou a Rico em dezembro, também pretende lançar seu próprio robô. Porém, segundo Raony Rossetti, líder de varejo da área de renda variável, o lançamento ainda não tem data prevista.