A chegada do 13º salário é sempre uma alegria. Para quem está com as contas em dia, a grana extra pode ser usada para as compras de fim de ano, um novo investimento ou como reserva para os gastos extras que virão em janeiro. Mas nem todos têm uma vida financeira organizada, e nem sempre é possível esperar até o pagamento do benefício. O jeito, então, é ir até o banco e buscar a antecipação desses recursos — pagando juros, obviamente.
Esse tipo de operação, que todos os grandes bancos oferecem, tem uma taxa de juro inferior à de um crédito pessoal tradicional. Ainda assim, o conselho é buscar essa alternativa apenas se o dinheiro for utilizado para o pagamento de dívidas com juros mais elevados, como aquelas decorrentes do uso do cheque especial ou do rotativo do cartão de crédito.
“Para quem está endividado, é uma boa saída. Possibilita economizar dinheiro com juros. Mas não vale a pena fazer esse empréstimo para investir ou antecipar a compra de algum bem ou serviço”, explica Miguel Ribeiro de Oliveira, coordenador de estudos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Nas simulações feitas pela Anefac, quem obteve a antecipação no fim de agosto, para pagamento em 30 de novembro – prazo máximo que as empresas têm para pagar a primeira parcela do 13º –, terá um gasto com juros 79,6% menor do que a média dos rotativos dos cartões de crédito. Na prática, significa que, em vez de pagar R$ 500 em encargos, o gasto será de R$ 100.
Para uma operação de mil reais, passado o prazo de três meses, o trabalhador pagará R$ 1.108,72,, sendo mil reais da quitação da dívida – o principal – e mais R$ 108,72 de juros. Essa simulação leva em conta uma taxa de 3,5%. Alguns bancos cobram um pouco mais, mas também é possível encontrar taxas menores, dependendo do relacionamento do cliente com a instituição financeira.
No rotativo do cartão, esses mesmos mil reais, ao fim do mesmo período, serão transformados em R$ 1.532,41.
Com base nesse exemplo, fica claro que antecipar o 13º salário para o pagamento de dívidas mais caras faz sentido. Para aproveitar uma oportunidade de investimento, no entanto, seria uma decisão equivocada, já que dificilmente seria possível encontrar uma aplicação tradicional e segura que pague mais de 1% ao mês.
Os correntistas dos bancos já perceberam essa vantagem. Segundo levantamento do Banco do Brasil (BB) com os clientes que tomaram esse tipo de crédito em 2015, a maior parte o fez para economizar nos juros. Edmar Casalatina, diretor de Empréstimos e Financiamentos do BB, afirmou que 65% daqueles que buscam a antecipação têm como objetivo livrar-se de uma dívida mais cara.
“O perfil do cliente que busca a antecipação é aquele que não quer assumir uma nova parcela, e sim quitar uma dívida mais cara, como o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial. Uma parcela menor faz a operação para arcar com alguma emergência, ou consumir”, afirma Casalatina.
O banco cobra entre 4% e 4,20% ao mês nessa operação, que está disponível apenas para quem recebe o salário no BB. O prazo de vencimento é sempre a data de pagamento do 13º salário. No setor público e para beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), isso pode ocorrer até antes da data-limite, que é 30 de novembro para a primeira parcela e 20 de dezembro para a segunda.
Para quem é da iniciativa privada, é preciso ter em mente que, em caso de demissão, o banco cobrará o empréstimo da mesma forma. Em setembro, a carteira do BB nessa linha de crédito somava R$ 2,2 bilhões, o que representa um crescimento de 13% em relação ao mesmo mês do ano passado. Isso mostra um maior interesse dos clientes, o que pode se dever ao atual cenário de crise econômico com juros elevados — a taxa básica de juros da economia, a Selic, está hoje em 14,25% ao ano.
O crescimento é ainda maior no Santander. O banco não revela qual era o estoque dessas operações, mas afirma que, este ano, as contratações já cresceram 57%, sendo que o valor médio de cada antecipação é de R$ 1.800. A taxa de juro varia de 2,59% a 4,59% ao mês, dependendo do maior ou menor relacionamento do cliente com o banco. Assim como no BB, é preciso receber o salário no Santander para ter acesso a essa linha de crédito.