Mês após mês, o Tesouro Direto tem batido recordes em estoque e número de investidores. Dados fechados em fevereiro, apontam para R$ 42,9 bilhões em estoque, o maior valor já registrado e 53,2% maior que aquele de fevereiro do ano passado. O fato de a rentabilidade de alguns desses títulos, ter passado dos 20%, 30% nos últimos 12 meses tem muito a ver com esse crescimento, que tem entusiasmado os investidores. Mas os analistas alertam: não espere resultados tão extraordinários quanto esses para 2017. Eles são fruto da influência de uma mudança radical de cenário econômico e que muito dificilmente se repetirá no futuro próximo.
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“Não é tão lógico para quem está começando a investir, mas os títulos têm uma curva de sensibilidade inversa à perspectiva da taxa de juros do país. Com a perspectiva de queda da Selic, alguns títulos atrelados ao IPCA tiveram rentabilidade de cerca de 60% nos últimos 12 meses. Foi algo um tanto fora do normal”, explica o analista-chefe da Rico, Roberto Indech. “Nos últimos 12 meses houve uma mudança de expectativas em relação ao Brasil de grandes proporções. E isso num título longo tem impacto ainda mais expressivo”, ressalta Arnaldo Curvello, diretor da Ativa Investimentos.
Com um cenário mais estável, a inflação convergindo para a meta e a taxa Selic em queda e seguindo as perspectivas de um dígito no fim de 2017, as chances de haver uma valorização tão estrondosa nos títulos do Tesouro são, portanto, baixas. “As esperanças estão agora nas reformas necessárias, principalmente a da previdência. Mas mesmo tudo correndo como o mercado espera e essa reforma saindo, dificilmente teremos resultados como os anteriores”, observa Curvello.
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Sempre um bom negócio
Com as incertezas que sempre rondam a economia brasileira, ambos os analistas continuam a recomendar o Tesouro, mas não os títulos de longo prazo. “Não há melhor caminho para mudar a cultura da poupança. Mas mesmo o Tesouro precisa de conhecimento e disciplina. A renda fixa não é tão fixa, porque as taxas contratadas só se concretizam se você levar aquele titulo a resgate. Se você pegar um título atrelado à inflação até 2050, por exemplo, mudanças nas expectativas sobre a taxa de juros e a inflação podem trazer consequências expressivas para o papel e se você precisar dele antes há chances de perda”, explica Curvello.
Mas o prazo não deve ser um problema até mesmo pelo perfil atual dos investidores do Tesouro. A maior parte do estoque recorde registrado em fevereiro, 52,4%, é de títulos com vencimento entre 1 e 5 anos. Aqueles papéis com prazo entre 5 e 10 anos equivalem a 21,8%; aqueles com vencimento acima de 10 anos, a 16,8% do total; e aquele de até um ano, 9%. Ao todo, o Tesouro tem hoje quase 442 mil investidores ativos e mais de 1,2 milhão cadastrados.
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Para quem está começando, Indech recomenda os títulos atrelados à Selic, que, segundo ele, “têm dado um retorno significativo, bem acima da poupança, e deve continuar dessa forma, além de ter liquidez diária [ou seja, pode ser retirado a qualquer momento]”. Para quem pode esperar um prazo mais longo, mais de cinco anos, outra opção são os títulos IPCA 2024. Esses títulos remuneram a inflação do período e mais uma taxa predefinida que está em torno de 6% ao ano.
Os títulos atrelados à Selic e ao IPCA são pós-fixados, ou seja, o investidor só saberá quanto irá receber ao final do prazo. Com a Selic em queda e o quadro econômico ainda arriscado, porém, os títulos pré-fixados, aqueles nos quais o investidor sabe exatamente quanto receberá ao final do prazo, também são boas opções. Esses títulos são indicados se você acredita que a taxa prefixada será maior que a taxa de juros básica da economia em determinado período.