Com juros altos e bancos mais restritivos, os consumidores começam a rever os seus planos de consumo e buscar alternativas. Em busca de um custo menor, muitos recorrem às cooperativas de crédito ou adiam a compra. Outra opção é o consórcio, muito comum quando o objeto do desejo é um imóvel ou um automóvel. De acordo com especialistas do setor, a atual crise tornou os tomadores de crédito mais conscientes de seus limites, e isso ajuda na hora de buscar opções que caibam melhor no bolso.
É o caso do empresário e blogger Leonardo de Araújo Barbosa. Seu desejo era trocar de carro, mas ele não queria ficar sem nenhuma reserva financeira nem arcar com os custos de um financiamento. A saída foi optar por um consórcio – e ele conseguiu dar um lance logo no início. Ou seja, nem precisou adiar muito seu sonho de consumo.
“Já estava me planejando para comprar à vista. Com o consórcio, consegui comprar o carro e ainda sobrou dinheiro para investir. Tem uma certa ansiedade com a espera, mas sem dúvida o consórcio é melhor porque não é preciso investir o dinheiro todo logo de cara”, conta Barbosa.
A carta de crédito do automóvel era elevada, de R$ 200 mil, mas, por ter dinheiro guardado e mais os recursos da venda de seu antigo veículo, ele conseguiu dar um lance equivalente a 66% do valor do veículo. O montante foi abatido do valor da carta, e o restante ele pagará em 70 meses, acrescido da taxa de administração, de cerca de 20% pelo período todo do contrato. Isso equivale a 0,26% ao mês, contra uma taxa média de financiamento de veículos em torno de 2% mensais.
No entanto, é preciso ter em mente que não há qualquer garantia de se conseguir a carta de crédito para a compra do bem no início do consórcio — cujo prazo, no caso de imóveis, por exemplo, pode passar de 200 meses. Os grupos de consórcio em geral contemplam os cotistas mensalmente por sorteio ou por lance, como no caso de Barbosa. Por essa razão, o produto é indicado para quem tem tempo.
Educação financeira
Paulo Rossi, presidente da Associação Brasileira de Consórcios (Abac), lembra que o consórcio tem três pilares: planejamento, educação financeira e consumo responsável. Por suas características, ele vê espaço para crescimento, apesar dos desafios a curto prazo.
“É um custo baixo. São prestações que cabem no orçamento dos consumidores. Está dentro do espírito de planejamento. É um investimento para consumo futuro. Essa crise veio para mostrar que é preciso ficar atento ao orçamento doméstico e, quando se planeja, o custo é menor”, diz Rossi.
No trimestre, o volume financeiro das cotas de consórcio vendidas já registra queda de 18,1%, segundo dados da Abac. No entanto, algumas administradoras apresentam desempenho superior, apelando para a comparação entre as taxas de juros dos financiamentos tradicionais e os valores pagos em um consórcio. Na Embracon, o aumento é de 40% nas cotas de imóveis e de 34% nas de veículos.
“Em um momento de crise, as pessoas estão buscando crédito nos bancos, mas não conseguem. Com os juros altos, o consórcio fica mais vantajoso. As famílias brasileiras estão se programando mais”, afirma Silane Villareal, gerente regional da Embracon no Rio.
Já na Mapfre, as vendas voltaram a se aquecer após ficarem praticamente estagnadas nos dois primeiros meses do ano. A instituição trabalha com cartas de crédito de R$ 30 mil a R$ 80 mil, no caso de veículos, e prazo de até 80 meses. Neste caso, a taxa de administração é de 16%, ou 0,2% ao mês. Para imóveis, os valores vão de R$ 100 mil a R$ 500 mil e prazo de 200 meses – a taxa de administração, de 22% nesse período, equivale a 0,11% ao mês.
“O começo do ano foi devagar, mas vimos um aumento de vendas já em março. E se o cliente for contemplado e não quiser usar esses recursos de imediato, deixa aplicados. Nossa remuneração é de quase 90% do CDI”, explica Vanessa Vega, gerente de produtos da unidade de Consórcios da Mapfre.
Para quem tem pressa em obter o bem, uma saída são as cooperativas de crédito. Em geral, elas são regionais, e é preciso se associar para ter acesso aos produtos. Essas entidades respondem por 3,2% do total de empréstimos a pessoas físicas no país, ou R$ 50,1 bilhões. O volume é baixo, mas o crescimento em 2015, de 8,8%, é um pouco superior ao do sistema financeiro para o crédito a esse público, que foi de 7,1%.
Taxas inferior à dos bancos
As taxas de juros nessas cooperativas costumam ser um pouco menores que as dos bancos. No entanto, não há um acompanhamento sobre esses valores. Edson Schneider, superintendente de Desenvolvimento de Crédito do Banco Cooperativo Sicredi, afirma que a taxa vai depender muito do relacionamento do associado com cada cooperativa.
“Como é um associado, focamos muito na sustentabilidade do crédito. Temos uma abordagem mais próxima ao cliente por trabalharmos em pequenas cidades. Em geral as taxas são menores, mas não dá para ter uma média. A inadimplência, porém, também é menor, porque levamos em conta essa questão do relacionamento”, diz Schneider, acrescentando que a carteira da Sicredi cresceu 8% no ano passado.
Na Unicred, outra associação de cooperativas, a carteira de crédito também teve expansão de 8% em 2015, para cerca de R$ 5 bilhões. As taxas para os associados são um pouco mais amigáveis que as encontradas nos bancos. Para o financiamento de veículos, o juro está em 1,5% ao mês, e para o crédito pessoal, em 1,81% – ante 7% da média do sistema financeiro e 2,2% do consignado.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”