No último mês de fevereiro, enquanto os bancos avaliavam como implantar o parcelamento obrigatório do rotativo do cartão de crédito no Brasil, modalidade cujos juros ultrapassam os 400% ao ano, uma fintech criada em 2013 em São Paulo ganhava um aporte de R$ 60 milhões liderado pela International Finance Corporation (IFC), braço do grupo do Banco Mundial para mercados emergentes, para continuar investindo num negócio altamente promissor no país: empréstimos com taxas abaixo do mercado. A ex-BankFácil e agora Creditas se apoia na modalidade de crédito com garantia para cumprir a missão de reduzir os juros no país e tem como meta dobrar de tamanho em 2017, buscando parceiros offline.
A meta é até modesta perto do caminho já percorrido. Em 2016, segundo o sócio e diretor de desenvolvimento de negócios da Creditas, Felipe Zullino, a empresa triplicou de tamanho. “ Em número de acessos [pessoas buscando a plataforma online] foi um crescimento de mais de quatro vezes. Hoje estamos com 800 mil acessos/mês.(...)”.
Quanto mais longe da ideia de banco, melhor
Como funcionam as linhas de crédito com garantia da Creditas
Se até aqui o crescimento se deu com parceiros online, como outras fintechs não concorrentes, agora será preciso ir além do meio digital. “Esse novo aporte já estava já nos nossos planos. Como toda startup clássica, precisamos de investimento para ampliar. Com um produto [crédito com garantia] pouco difundido [no país] para ser vendido [apenas] online, agora vamos buscar também parceiros offline”, explica Zullino.
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Segundo a empresa, o novo aporte recebido em fevereiro é primeiro investimento numa fintech no Brasil em que a IFC atua como líder. A nova rodada de aportes também conta com a entrada da Naspers Fintech no capital da Creditas, marcando o primeiro investimento do novo braço de fintech da Naspers na América Latina.
Além dos novos sócios, a rodada ainda conta com a participação dos atuais investidores – RedPoint e.Ventures, Kaszek Ventures, Quona Capital e QED Investors que, juntos, já haviam aportado R$ 25 milhões na Creditas no meio do ano passado.
Para crescer, a Creditas precisar extrapolar o ambiente online
Entre os parceiros buscados estão, por exemplo, consultores financeiros que já ajudam pessoas físicas e jurídicas em investimentos e também na reestruturação de dívidas. “Há muitas pessoas com ativos quitados, mas sem liquidez. O que a gente quer fazer é injetar liquidez no mercado, para que a pessoa consiga investir no seu negócio, na sua casa, na compra de equipamentos. (...) Há também a possibilidade de troca de dívidas, uma mais cara e de curto prazo por um empréstimo com garantia a juros baixos e prazos alongados”, exemplifica Zullino. Dentro da ideia de que o dinheiro oriundo dos empréstimos também pode ser usado em um reforma, por exemplo, a Creditas também procura parceiros como lojas de varejo, arquitetos e empresas de engenharia.
Em números, a empresa pretende dobrar a atual carteira de ativos de crédito de R$ 135 milhões e também o atual número de 120 funcionários. “Queremos chegar ao final do ano com cerca de 200 novos colaboradores, principalmente ligados ao desenvolvimento de softwares, além de consultores de negócio e parceiros”, conta Zullino.
Quanto mais longe da ideia de banco, melhor
A Creditas oferece dois tipos de empréstimos com garantia e, com isso, não muito segredo quanto as razões que permitem à fintech emprestar a taxas abaixo do mercado. O segredo maior do sucesso da empresa talvez esteja na clareza de missão da Creditas – que faz com que, por exemplo, ela repasse as quedas na taxa básica de juros diretamente para os clientes sem o questionamento dos seus acionistas – e também na desburocratização de todo o processo de empréstimo.
“A questão da documentação [do bem em relação aos bancos] é a mesma. Continuamos precisando das certidões que provam a posse do bem. [Mas] o que acontece é que a gente se especializou para vencer a burocracia. Ajudamos o cliente a conseguir tudo o que ele precisa”, explica Zullino, referindo-se ao papel dos consultores.
Outra vantagem da Creditas, segundo a própria empresa, é que ela também funciona como um marketplace, ou seja, serve de ponte entre várias entidades de financiamento (investidores institucionais e instituições financeira), apresentando para o cliente a melhor opção de crédito possível. “Se for num banco, terá de enfrentar toda a burocracia sozinho. Já na Creditas a chance de ser aprovado e com a melhor taxa é bem mais alta.”
Por essas características, é que a empresa também resolveu mudar de nome, para se distanciar cada vez mais da figura do banco e se aproximar mais da imagem de uma plataforma de serviços de crédito.
Como funcionam as linhas de crédito com garantia da Creditas
O crédito com garantia do automóvel começa com um empréstimo mínimo de R$ 2 mil e taxas de 1,99% ao mês. O prazo máximo para pagamento é de cinco anos. E a regra básica é que os valores emprestados sejam de até 80% do valor do caro na tabela Fipe.
Já o crédito concedido com garantia do imóveis começa com um mínimo de R$ 30 mil e taxas de 1,15% mais a correção monetária pelo IPCA. O prazo máximo de financiamento da dívida é de 20 anos e o valor máximo que pode ser emprestado é de R$ 2 milhões. Nesse caso, a regra é de que o empréstimo seja de até 50% do valor do imóvel.
A Creditas também está atuando no mercado C2C, de consumidor para consumidor, de olho na comercialização de carros entre pessoas físicas.
Como nos financiamentos oferecidos pelos bancos, essas linhas exigem a mesma documentação e também a vistoria do imóvel ou do automóvel. Novamente, o que, segundo a Creditas, a diferencia das instituições financeiras tradicionais, é que isso tudo ocorre em menos tempo e com o auxílio dos consultores. Segundo Zullino, para os empréstimos com garantia de automóvel o tempo médio entre solicitação e aprovação é de dois dias; no caso dos imóveis, esse tempo fica entre 35 e 40 dias.