Resiliência é um termo bastante usado na administração moderna, mas que originalmente foi definido para descrever a propriedade física que alguns corpos possuem de recuperar facilmente sua forma original após sofrer pressões e deformações. Um bom exemplo de material resiliente é a esponja: você pode apertá-la, molhá-la, torcê-la, mas ela facilmente volta a sua forma original, como acontece também com uma mola após ser submetida à pressão.
Em sua vida pessoal, define-se resiliente como ser capaz de se manter emocionalmente estável após sofrer bullying ou pressão do chefe. Podemos dizer também que você é resiliente se consegue manter seus planos e objetivos mesmo após passar por imprevistos – ou seja, deformações inesperadas nos planos.
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É neste aspecto que percebemos que a família média brasileira erra por falta de resiliência. Tradicionalmente, o brasileiro compra a prazo – hábito que foi adquirido nos tempos de inflação, quando valia a pena aproveitar promoções, comprar em atacado e fazer estoques para vencer a escalada de preços. Para comprar mais do que o consumo necessário do mês, a conta ficava maior do que o razoável e a compra parcelada se mostrava como oportuna.
Porém, o hábito de comprar a prazo, somado aos necessários financiamentos de bens de maior valor, como casa e carro, fazem com que diversas prestações somadas engessem demasiadamente o orçamento das famílias. Não raro, um orçamento familiar já inicia o mês com a quase totalidade de suas contas já comprometidas com decisões de consumo tomadas no passado. Se acontece um gasto imprevisto, não há gastos previstos que podem ser descartados ou adiados, e a solução normalmente é se endividar.
Em um país com crises tão recorrentes e com mudanças de regras, preços e tributos tão frequentes, simplesmente não há sentido em manter hábitos tão limitantes para as escolhas como o hábito de comprar a prazo. Imprevistos sempre vão acontecer e serão inesperados. Mas, em nossa terra de turbulências, imprevistos costumam ser mais frequentes e intensos.
Se não sabemos quando irão acontecer ou quanto vão custar, ao menos precisamos estar preparados para eles. A receita para isso envolve três iniciativas:
1- Poupar para aproveitar pagamentos à vista em vez de compras a prazo;
2- Reduzir criativamente gastos fixos como moradia e transporte e aumentar a proporção de gastos variáveis como lazer e cuidados pessoais; e
3- Criar uma reserva de emergências para manter a estabilidade dos planos diante dos esperados imprevistos.
Com essas iniciativas, são criadas as condições de flexibilidade que permitem levar uma vida mais leve, com mais possibilidades de ajustes diante de imprevistos ou de novidades. Ser resiliente é questão de sobrevivência, principalmente quando os altos juros tornam caro o preço a pagar por erros nos planos. Mas, ser resiliente é também estar preparado para aproveitar oportunidades de viagens, de aprendizado ou de experiências quando elas se apresentam para nós. Se você é ou não, depende apenas dos hábitos que você adotou e se está disposto ou não a muda-los.