Quando o assunto é dinheiro, o brasileiro é mais emocional do que racional. E isso tem um impacto direto sobre a poupança acumulada ao longo de uma vida inteira. A constatação vem de uma pesquisa feita pelo Itaú sobre planejamento financeiro que, em um ano e três meses, entrevistou e acompanhou, no dia a dia, o comportamento de 63 pessoas de diferentes regiões do país.
O estudo foi realizado pelo programa de educação financeira do banco e sucede uma análise aprofundada feita em 2008, que teve o objetivo de entender como a população se relacionava com o dinheiro. Conforme o relatório divulgado neste ano, a preferência por gastar em vez de guardar, característica que já fora apontada anteriormente, se mantém. E a razão para isso está ligada a dois fatos marcantes da história recente do país.
Hiperinflação e confisco
O primeiro é a hiperinflação, fenômeno que atravessou os anos 1980 e o início dos 90 e que mostrou ao brasileiro que consumir rápido e adquirir bens materiais eram as duas formas mais seguras de se investir o dinheiro, já que o país vivia um contexto de desvalorização da moeda e os preços se elevavam a cada dia. O segundo, por sua vez, é o confisco da poupança durante o Plano Collor, em 1990, o qual resultou em uma desconfiança no governo e nas aplicações financeiras.
“O planejamento financeiro é um meio para a realização, mas as pessoas só se preocupam com isso quando estão quebradas. O Brasil entrou numa situação ruim e neste momento o planejamento é um antídoto para se conseguir aquilo que se considera relevante, como fazer uma viagem, por exemplo”, avalia a superintendente de sustentabilidade do Itaú e responsável pelo estudo, Denise Hills.
A pesquisa, porém, indica outros obstáculos para a poupança e compra de ativos financeiros pelos brasileiros, que pagam juros de acordo com a opção escolhida. “Os estudos mostram uma percepção de que o dinheiro que não vem do trabalho não é bem-vindo entre as pessoas”, acrescenta Denise. Uma conclusão que vale tanto para os rendimentos dos títulos quanto para o investimento em um novo negócio.
Outra característica é a forma como a população encara o endividamento. Segundo a responsável pelo relatório, o limite da conta corrente e o crédito do cartão são considerados como parte da renda, o que faz com que fiquem mais suscetíveis a um mau endividamento.