“Amigos, amigos, negócios à parte”. “Quem empresta a um amigo, cobra um inimigo”. Esses ditados são bastante incisivos sobre misturar dinheiro e amizade, mas no dia a dia é preciso mais do que a sabedoria popular para negar um empréstimo a alguém querido. Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) divulgada nesta segunda-feira (10) com consumidores negativados revelou que 17% deles ficaram inadimplentes porque emprestaram o nome para terceiros, principalmente amigos (31%) e irmão (22%).
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Segundo a consultora e professora da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Anapaula Iacovino Davila, acostumada a fazer cursos de educação financeira abertos à comunidade em São Paulo, recuperar cada centavo do que emprestou ou pagou para familiares e amigos demanda mesmo muita diplomacia, análise e paciência.
Aprender a dizer não, por mais difícil que seja, é uma das orientações para escapar do “calote amigo”, mas há mais cuidados que podem ser tomados. Veja quatro dicas da especialista sobre o assunto:
1 - A conversa precisa ir além do dinheiro
Se você não está em condições de ajudar ou sabe que o amigo ou parente em questão não conseguirá pagar o empréstimo tão cedo ou mesmo não costuma honrar esse tipo de compromisso, a melhor maneira de evitar dor de cabeça é dizer NÃO. E isso, segundo Anapaula, precisa ser feito de maneira bastante sincera, numa conversa que precisa ir além do dinheiro.
“É preciso deixar claro, com exemplos, que você não está em condições de emprestar e que, se o fizer, vai precisar do dinheiro de volta em determinado prazo. Uma orientação é perguntar bem diretamente: na hora em que eu precisar você vai me ajudar?”, diz a economista. É preciso que a pessoa que pediu o dinheiro realmente se sinta na obrigação de devolver o valor emprestado. E é preciso que quem emprestou tenha essa impressão na hora da conversa.
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2 - Orientação vale ouro
Muitas vezes, a pessoa que está endividada não consegue enxergar uma luz no fim do túnel. Não sozinha, pelo menos. É função também do amigo ou familiar dar alguma orientação. “Tive um caso num dos cursos de educação financeira para a terceira idade em que uma irmã negou o empréstimo a outra mas acabou descobrindo, dias mais tarde, que o filho cedeu. Ele emprestou o dinheiro à tia e levou um calote. Resultado: o filho foi procurá-la porque precisava de ajuda para pagar as contas. Nesse caso, o único conselho que pude dar foi que essa senhora sentasse com a irmã e a ajudasse a enxergar as melhores possibilidades de quitar as dívidas”, conta a economista.
Buscar a renegociação das dívidas diretamente com os credores; examinar as contas domésticas para ver o que mais dá para cortar; e procurar alternativas de empréstimos com juros mais baixos que as dívidas existentes (crédito pessoal para quitar um dívida no rotativo do cartão de crédito, por exemplo) são dicas básicas mas que nem sempre são óbvias para quem está no fundo do poço.
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3 - O que importa mais: o dinheiro ou a amizade?
Emprestar dinheiro para alguém próximo envolve riscos que vão além do calote e chegam à mágoa profunda. “Quando o calote acontece [nessas situações], normalmente a pessoa que emprestou se sente realmente traída, e as brigas acontecem”, afirma Anapaula. Ela lembra, porém, que é preciso refletir: o que importa mais, o dinheiro ou a amizade? “Em alguns casos, os laços são tão fortes que o desentendimento é resolvido depois de um tempo, com o dinheiro devolvido ou não. Mas em alguns casos isso não acontece.”
Nesses casos, o melhor é se preparar financeiramente e emocionalmente para o “calote amigo”. “Você já sabe que provavelmente não vai receber aquele dinheiro de volta, mas resolve ajudar porque é uma situação muito grave ou é alguém para quem simplesmente não dá para dizer não, como um pai ou um irmão. Aqui a solução é pensar: o que posso fazer para cobrir esse rombo?”, sugere Anapaula. A ideia é que se você desapegar, de antemão, da devolução do dinheiro, talvez tenha mais tempo para se planejar financeiramente.
Ter aquela reserva de três a seis salários mínimos na poupança ou em outra aplicação que permita o uso imediato serve também para essas situações.
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4 - Em caso de vaquinha, a tecnologia pode ajudar na hora da cobrança
Um pedido de dinheiro nem sempre vem porque o amigo ou parente está endividado. Ás vezes, o motivo é mais nobre, como uma festa ou outro evento que precisa de uma ajudinha para ser realizado. Nesse caso, a economista lembra que a tecnologia pode ajudar a colocar ordem na situação e ainda evitar aquele calote provocado por esquecimento.
“Alguns aplicativos e sites organizam a vaquinha e os rachas também, em alguns casos, ajudam na cobrança dos que não pagaram a sua parte, já que enviam lembretes sobre o assunto automaticamente antes que a pessoa que arcou com a maior parte dos gastos tenha que fazer isso pessoalmente”, diz Anapaula. São apps como o “Conta Coletiva”, o “Dividir a Conta”, o “Splitwise”, entre outros, disponíveis em Android ou iOS.
“É claro que se a outra pessoa não pagou porque não quer ou realmente não pode, não há outra solução se não procurá-la pessoalmente. Mas para os casos de descuido ou esquecimento, esse tipo de tecnologia ajuda bastante”, observa ela.
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